Freguesia de Ribeirinha

População: 2800

Actividades económicas: Agro-pecuária, pequeno comércio, serviços e construção civil

Festas e Romarias: Divino Espírito Santo, Santo António (2.ª quinzena de Julho), Beato João Baptista Machado (último domingo de Agosto), S. Pedro (29 de Junho) e carnaval

Património: Igreja matriz, ermidas de S. Salvador, de Santo Amaro e de Beato João Baptista Machado, impérios e chafariz

 

Outros Locais: Miradouros da serra da Ribeirinha

Gastronomia: Sopa do Espírito Santo, alcatra, massa sovada e arroz-doce

Artesanato: Tecelagem e miniaturas em madeira

Colectividades: Sociedade de Recreio dos Lavradores, Sociedade União Católica da Serra da Ribeirinha, Grupo Folclórico e Etnográfico da Ribeirinha e Boavista Clube da Ribeirinha

Orago: S. Pedro

 

DESCRITIVO HISTÓRICO

Situada na costa sul da ilha Terceira, entre a ponta da Mina e o monte Brasil, a freguesia de S. Pedro da Ribeirinha encontra-se a cerca de quatro quilómetros da sede do concelho, junto da foz da ribeira que lhe dá o nome. Segundo a “Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira”, é constituída pelos seguintes lugares e sítios: Abaixo do Outeiro da Fonte, Açougue, Alto do Passadouro, Alto da Serra, Atalaia, Atalho, Caminho Novo, Canada de Capitão, Canada de Mameirinho, Canada da Praia, Canada de S. Pedro, Fonte, Grota da Chouriça, Ladeira de Funcho, Ladeira Grande, Macela, Outeiro da Fonte, Outeiro do Galhardo, Passadouro, Ponte, Ribeirinha, Santo Amaro, Serra e Terreiro do Paço.

Ao que sabe, toda esta zona, na qual Ribeirinha se integra, terá sido doada ainda no século XV aos flamengos da abandonada colónia de Fernão Dulmo. Esta doação estendia-se da serra da Ribeirinha até à Feteira. Não há qualquer certeza, no entanto, sobre este facto.

Não abundam os documentos sobre a sua história primitiva. Sabe-se, no entanto, que já existia em 1486 como curato sufragâneo da igreja paroquial de S. Sebastião. Era então um simples lugar de Vila de S. Sebastião, da qual se autonomizou, para formar freguesia independente, em 1568. Neste mesmo ano, um decreto real elevava a côngrua do vigário, o Pe. António Pimenta de Araújo, para vinte e seis mil réis.

Freguesia muito religiosa, teve a Ribeirinha, no passado, cinco confrarias: do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora da Conceição, do Senhor Santo Cristo, de S. Pedro e de Santo Antão. Os documentos paroquiais mais antigos que se conhecem, relativos a baptismos e casamentos, datam de 1630.

Gaspar Frutuoso, no século XVII, caracterizava desta forma o panorama da Ribeirinha: “Até junto da fortaleza da cidade de Angra, onde está uma enseada pequena e praia de areia branca, sobre a qual ficam terras de pão de largura de terço de légua, no meio das quais fica uma freguesia da invocação de S. Pedro, de quarenta moradores, e o lugar se chama da Ribeirinha, com uma ermida de Santo Amaro e de muita romagem. Debaixo desta Ermida de Santo Amaro, espaço de um bom tiro de arcabuz para o mar, fica uma rocha das mais altas que há na ilha, com uma ponta ao mar, que se chama a ponta Ruiva, e tem uma enseada de calhau, onde o vão buscar para lastro dos navios, e na terra, na borda da rocha, em baixo no calhau, entre ela e o mar, está uma vinha branca e grande que dá muitas uvas de toda sorte, e tem muitas figueiras que dão muitos figos e bons, e muitas fontes de boa água, com muitos agriões e rabaças e aipo, onde vão em batéis da cidade muitas pessoas a folgar no Verão e matar muitas pombas, que há naquela rocha, e a pescar e a apanhar muito marisco; e também pela terra tem um passo, em que descem à vinha por uma corda, e podem também ir a ela ao longo do mar, quando está manso, de maré vazio”.

Por falar em património natural, riquíssimo em todo o Arquipélago dos Açores, vem a propósito uma referência à fonte da Furna de Água. É uma nascente de água doce que, no último século, alimentava dezassete dos dezoito chafarizes ali existentes. Muito rica em água, como se vê até pelo seu nome, a Ribeirinha dispunha ao longo da serra de inúmeros bebedoiros para o gado.

Além da igreja matriz, consagrada a S. Pedro, o património edificado desta freguesia inclui ainda a ermida de Santo Amaro e a de S. Salvador. Da de Santo Amaro, dir-se-á que a primitiva capela remontava ao século XVI, tendo sido substituída em 1904 por um novo templo. Tem como principais imagens as de S. João e de Santo António.

Numa obra sobre a ilha Terceira, Carlos Drumond de Andrade refere-se a esta parte do concelho: “Parece que esta ilha teve contra si em tempos muito anteriores ao seu descobrimento todos os elementos conspirados. Por toda a parte o curioso viajante encontra largo assunto para se entreter com admiração assim de respeito como de assombro. Medonhas ribeiras, grotas profundas, efeitos de espantosas aluviões rasgaram o seu seio. Violentíssimos terramotos balouçaram e aluíram seus fundamentos: e o fogo inimigo façanhoso e voraz, saiu de vez em quando como que a disputar-lhes a primazia, e adiantar-lhes os passos. O que mui sobejamente atestam os terrenos queimados, ou os mistérios como vulgarmente se lhes chama cá nas ilhas.”

Com cerca de dois mil e oitocentos habitantes, a freguesia de Ribeirinha é uma das mais povoadas deste concelho, só superada pelas quatro que constituem a cidade de Angra do Heroísmo. A pequena distância da sede do concelho explica em parte este forte povoamento. As principais actividades da sua população estão ligadas ao sector primário – agricultura e pecuária – até porque as condições naturais assim o permitem. Os solos são férteis, devido à abundância de água, as cabeças de gado muito numerosas. Aliás, o gado, especialmente bovino, sempre teve grande tradição em Ribeirinha. A povoação era a principal abastecedora de leite à cidade. Nos inícios deste século, chegava-se a produzir diariamente cerca de três mil canadas daquele produto