Freguesia de Lajedo

População: 114

Actividades económicas: Pecuária e pequeno comércio

Festas e Romarias: Nossa Senhora dos Milagres (15 de Agosto), S. Pedro (29 de Junho) e Divino Espírito Santo

Património: Igreja matriz

Outros Locais: Rocha dos Bordões, nascente de água quente, pináculo, ponta dos Ilhéus e pontas negras

Gastronomia: Inhame com linguiça, cozido de porco, fersura de porco, torta de erva do mar, cherne cozido, doce de amora, doce de figo e doce de araçá

Artesanato: Rendas e mantas

Orago: Nossa Senhora dos Milagre.

 

DESCRITIVO HISTÓRICO


Esta freguesia está situada no extremo sul da ilha das Flores. Encontra-se a sete quilómetros da sede do concelho, Lajes das Flores, e a vinte e dois de Santa Cruz, o outro concelho que constitui esta ilha. É constituído pelos lugares de Campanário e Costa. Passam na freguesia dois ribeiros, o do Campanário e o da Lapa. Fertilizando as terras que banham, dão-lhes um colorido muito especial. Há terra branca, preta, vermelha, amarela e verde, mas toda do mais fértil que existe.

Aninhada entre picos e cristas de rocha, num verde vale, Nossa Senhora dos Milagres de Lajedo é uma das mais recônditas freguesias da ilha, desconhecida por essa razão pela maioria da população e em especial dos turistas.

O topónimo aponta para algum facto histórico relacionado com os seus solos. Lajedo significa “pavimento coberto de lajes, lajeado; lugar em que há muitas lajes; laje grande e lisa”. O certo é que Lajedo foi uma das primeiras povoações da ilha a constituir-se.

Terra de pão e de pasto, como dizia Isatis Tinctoria, o Lajedo oferecia as condições ideais para o início de uma vida de sobrevivência assegurada. O mesmo pensou um tal de João Sores dos Mosteiros, que vindo da ilha de S. Miguel, aqui aportou e ficou a viver para sempre. Colonizou a ilha, desenvolveu-a, cresceu e multiplicou-a: “Por suas mãos fez, calafetou e breou um batel, sem nada saber destes ofícios, em que ia com sua mulher e filhos ouvir missa à vila das Lages. Diziam dele que, quando tornava a sua casa, dizia à filha mais velha que pusesse o batel em cima, e ela o tomava à cabeça e o punha onde queria, por ser muito pequeno e mal feito, mas servia-lhe, pelo caminho por terra ser trabalhoso, e muitas vezes este João Soares ia se às Lages no barquinho e às vezes, pescar nele”. (Gaspar Frutuoso).

Em termos administrativos, pertenceu ao concelho de Santa Cruz entre 1895 e 1898, período da supressão de Lajes das Flores como concelho. O mesmo aconteceu, de resto, com todas as freguesias.

A igreja paroquial, construída em 1771 por José Francisco de Mendonça, foi restaurada totalmente em 1823. A casa do Espírito Santo, por seu lado, foi edificada em 1885.

Lajedo é uma terra de grandes belezas e muitos atractivos naturais. Toda a freguesia está, aliás, envolta num misticismo muito próprio. Aqui, os milagres mais importantes sucedem-se repentinamente nas nossas vidas: “Eu corri o mar à roda / De penedo em penedo / Encontrei o meu amor / No baixio de Lajedo. Bela aurora está no mato / Debaixo do arvoredo / Juntando milho torrado / Prás meninas do Lajedo”.

Dessas belezas, na sua maioria naturais, podem destacar-se várias. No lugar de Costa, por exemplo, encontra-se a única nascente de água quente da ilha das Flores. A presença de água termal não surpreende, devido a factores geológicos. Conhecido como o “poceirão da água quente”, encontra-se a cerca de mil metros do fim da estrada. Chega-se ao ponto desejado depois de passar o ilhéu de barro e a rocha do Barreiro. Do lado esquerdo, o ilhéu da Greta, à direita o Furcado. Nos “Anais dos Municípios da Lajes”, de 1970, diz-se que estas águas termais são boas para o tratamento do reumatismo e de certas doenças cutâneas. Alguns médicos já as recomendavam ainda antes de 1830. A temperatura das águas é tão alta que ali se pode cozer um peixe ou lapas com um sabor único.

Lajedo foi a última freguesia deste concelho a ser electrificada. Tal aconteceu apenas em 4 de Fevereiro de 1978. Antes, eram as célebres lâmpadas a óleo de baleia a fornecer a luz necessária ao dia-a-dia dos seus habitantes. Pierluigi Bragaglia, escritor italiano radicado em Lajes das Flores, descreve um curioso episódio relacionado com a luz na freguesia e com a cooperativa agrícola que aqui existiu, a “Ilha das Flores”: “Se foi esta a última freguesia das Flores a pôr de parte as antigas lâmpadas a óleo de baleia, o director da dita cooperativa, José de Freitas Escobar Júnior, instalara, com vários anos de antecedência, uma turbina numa ribeira muito abaixo da aldeia, e com um sistema de fios podia acender a luz do seu escritório – para fazer as contas à noitinha – por meio de um simples interruptor; quase um milagre para as outras freguesias”.

Este José de Freitas Escobar Júnior é uma das maiores figuras de todo o arquipélago dos Açores no sector dos lacticínios. Geriu os destinos daquela cooperativa durante cerca de quarenta anos. Natural desta freguesia, emigrou ainda novo para os Estados Unidos e depois para o Brasil. Regressou à ilha alguns anos depois, não porque estava rico, mas porque o seu irmão se encontrava gravemente doente. Ficou para sempre, por pensar que havia muito para fazer no Lajedo. Tinha muitas ideias, que pôs em prática desde cedo. Aquela que anteriormente se referiu pela mão de Pierluigi Bragaglia, a electrificação do seu escritório trinta anos antes da chegada da luz à freguesia, foi talvez a forma como se celebrizou. O sistema era complexo, mas o grau electrónico do seu funcionamento demonstra a genialidade do seu autor. Foi presidente da Câmara Muncipal das Lajes das Flores de 1944 até 1946 e depois a partir de 1948. Faleceu na freguesia de Mosteiro em Outubro de 1986, tinha então 84 anos.

Actualmente, o sector primário, a despeito de haver algum pequeno comércio, é praticamente a única actividade económica da freguesia de Lajedo. Aqui vivem, segundo os últimos dados, do Recenseamento Geral à População (1991), 114 habitantes. Número escassíssimo, se atendermos à drástica redução que sofreu depois de meados do século.

Em termos de artesanato, vai fabricando, quem pode, algumas rendas e mantas de extraordinária qualidade. Não admira, é tudo feito à mão e com o máximo carinho da parte de quem leva um tipo de vida hoje já muito raro. No passado, celebrizou-se a olaria, nesta freguesia e na de Fazenda. Uma actividade que fora introduzida pelos primeiros habitantes das Flores e que, nos inícios do século XX, tentou ser reanimado, sem resultado, por uns quantos oleiros vindos da ilha Graciosa. Ficou a memória, de qualquer forma, de uma actividade que podia ter deixado marcas mais profundas na sociedade lajeense. O fabrico de manteiga em lata teve também importância na economia local. Ainda em 1935, estava sediada em Lajedo uma cooperativa agrícola, acima referida, que entre outros produtos exportava manteiga em lata, em grandes quantidades, para diversos pontos do Continente. Resistiu até à década de setenta, com os seus excelentes produtos, mas a concorrência foi mais forte.

Em “Viagens na Nossa Terra”, João Vieira aconselha um último passeio à freguesia de Lajedo: “Ao chegar à estrada nacional, volte à direita, percorrendo a recta das Lajes, quase uma légua de estrada totalmente florida e plana. Sobre o Lajedo, admire o dick do Campanário, curiosa formação geológica, única pela sua dimensão na região. Do lado da terra, à sua frente, ficam as costas da Rocha dos Bordões – monumento geológico de beleza singular, ex-libris da ilha. Seguindo a estrada, na base da rocha dos Bordões, numa curva encoberta por um renque de criptomérias, descobre-se uma delicada cascata que se lança entre arbustos, fetos e flores. No final da estrada, o miradouro da Rocha dos Bordões, com gigantescos prismas de basalto. Dois dicks de grandes dimensões parecem ter emergido do verde das pastagens, bordadas de hortênsias e guarnecidas por faias e incensos..

Essencialmente agrícola, Lajedo tem registado no último meio século um decréscimo populacional acentuado. Tinha mais de quinhentos habitantes cerca de 1940, actualmente conta com menos de trezentos.

As principais actividades económicas da sua população são a agricultura e pecuária.