Freguesia de Fajãzinha

População: 102

Actividades económicas: Agricultura, pecuária e pequeno comércio

Festas e Romarias: Nossa Senhora dos Remédios (último domingo de Agosto), Espírito Santo (sete domingos após a Páscoa), festa da Filarmónica (2.º fim-de-semana de Julho) e festa do Patrocínio (2.º domingo de Novembro)

Património: Igreja matriz, impérios do Espírito Santo e moinhos de água

Outros Locais: Cascata da Ribeira Grande, cascata do Ferreiro, poço da cascata do Ferreiro e miradouros da Fajãzinha

Gastronomia: Sopa de agrião de água, inhame com linguiça, folar da Páscoa, filhós do Entrudo e molhos de dobrada

Artesanato: Miniaturas em cedro e tapetes em casca de milho

Colectividades: Sociedade Filarmónica, União Operária Nossa Senhora dos Remédios e Clube Desportivo

Orago: Nossa Senhora dos Remédio.

 

DESCRITIVO HISTÓRICO


A quinze quilómetros da sede do concelho, a freguesia de Fajãzinha é provavelmente uma das menos habitadas freguesias de Portugal. Tem apenas cem habitantes, um número que em meados do século se mantinha praticamente igual. Não é, apesar de tudo, a menos povoada deste concelho, pois Mosteiro tem ainda menos habitantes (cerca de metade!). Encontra-se na costa ocidental da ilha, ao sul da freguesia de Fajã Grande.

Encontra-se num planalto, irregular, que esconde quatro enormes mas lindas crateras: Lagoa Funda, Lagoa Comprida, Lagoa Branca, Lagoa Seca. A primeira destas crateras faz jus ao seu nome. Tem uma profundidade de mais de cem metros.

Atravessa a freguesia a Ribeira Grande, a maior corrente de água da ilha das Flores. Forma no seu percurso uma belíssima cascata com mais de trezentos metros. Uma beleza diabólica, afinal, já que a sua força provocou no passado graves problemas a nível de inundações. Muitas vezes, as fortes chuvadas tornam o vau intransponível. Aqui existiu uma ponte em madeira, que em 1964 viria a ser devorada por assustadoras enchentes.

Em termos administrativos, Fajãzinha pertenceu sempre ao concelho de Lajes das Flores. Quando este foi suprimido, em 1895 e até 1898, transitou para o de Santa Cruz, o outro concelho desta ilha. A nível eclesiástico, a paróquia foi instituída em 1678.

A igreja paroquial, de relativamente grandes dimensões, tem três naves, divididos por cinco arcos, e uma torre sineira. É dedicada a Santo António e foi edificada em 1778, no local de uma antiga capela seiscentista. A casa do Espírito Santo do Rossio, por seu lado, abriu ao público em 1864.

A garagem dos Torreiros merece também uma curiosa referência. Ainda há não muitos anos, era o ponto de partida e de chegada obrigatório para quem se deslocava à freguesia. Foi o primeiro autocarro das Flores e o segundo veículo a quatro rodas da ilha. Em frente da garagem, inicia-se o caminho que vai ligar à Rocha da Figueira. Muito íngreme, parece em certos troços uma escada em pedra. Quase no final da descida, atinge-se a Lagoinha, um sugestivo pául recheado de ervas, resíduos de inhames e com as margens alagadiças e pantanosas.

Toda a freguesia é de um pitoresco extraordinário. De uma beleza sem par. De um encanto que só um poema saberia traduzir. João Vieira, no entanto, tentou e conseguiu. Sobre a Fajãzinha, diz assim: “Na encosta íngreme do vale, a mão do homem, com muito suor, construiu a sua igreja e as casas, abriu o caminho onde penosamente deslizaram “corsões” (zorras), meio de comunicação com o resto da ilha. Admirável exemplo da implantação no terreno em harmonia com a paisagem. Visto do alto, o casario, talvez por ciúme, corre para o mar, acompanhando a Ribeira Grande, que por mais de quatro séculos abasteceu de aguadas a navegação que sulcou os mares entre o Velho e o Novo Mundo. Entre searas de milho que circundam o casario branco, uma estrada de asfalto negro serpenteia entre a verdura. Se o paraíso bíblico tivesse existido à beira-mar... bem poderíamos pensar que este recanto lhe pertenceu...”.

Sobre os monumentos mais importantes da freguesia, a igreja paroquial, a casa do Espírito Santo e os velhos moinhos de água, refere o esforçado autor: “Uma bela fachada de uma igreja de aldeia sobranceira ao mar, eternamente admirando o oceano, ora sereno e sonhador nas noites de luar, ora tempestuoso nas fúrias dos temporais. Santo António, patrono das causas difíceis e perdidas, é aqui venerado, e a sua protecção era evocada pelos mareantes; A coroa do Espírito Santo, a grande devoção das gentes açoreanas, ladeada por dois ceptros do Império e pela pomba esvoaçante, que é também elemento das armas da região. As estrelas circundantes simbolizam os dons e as graças do Divino; Moinho de água que há mais de um século mói o grão que o homem regou com o suor do rosto. É o último sobrevivente do ciclo dos cereais nesta freguesia, moendo também para outras localidades da ilha”.

Este moinho, referido por João Vieira em “Viagens na Nossa Terra”, é o mais acessível à visita do viajante. Encontra-se na ribeira da Alagoa, junto à estrada, e continua ainda a trabalhar. O engenho é duplo, ou seja, com dois moinhos na mesma casa.

A agricultura é a principal actividade da centena de habitantes da Fajãzinha. Poucas mais actividades económicas existem aqui, numa população envelhecida que vai resistindo da forma como pode. Os saudáveis ares daqui ajudam concerteza, mas também a alimentação que a terra dá. Há alguns anos, era famosíssima a fruta que se produzia nesta freguesia.

Em termos de artesanato, hoje só há fabrico de miniaturas em cedro e tapetes em casca de milho. No passado, a Fajãzinha celebrizou-se pelos seus vimes, que os artesãos entrançavam a formar valiosas peças de mobília e outras de alfaias ou para a agricultura. Hoje encontram-se ainda, mas só com um bocado de sorte. LAJES DO PICO