Freguesia de Cabo da Praia População: 1300

Actividades económicas: Agricultura, pecuária, pesca, pequeno comércio, indústria conserveira, entreposto de cimento, construção civil e serviços

Festas e Romarias: Santa Catarina (última semana de Agosto), Santa Margarida (3.ª semana de Setembro), carnaval e Espírito Santo

Património: Igreja de Santa Catarina, igreja de Santa Margarida, forte de Santa Catarina, ruínas de vários fortes, casas tradicionais, império do Divino Espírito Santo e nicho com imagens das santas

Outros Locais: Piscinas naturais em Porto Martins e porto S. Fernando, paisagem protegida na Madre de Deus, Pedreira, praia balnear em Reviera e Toril de Porto Martins

Gastronomia: Vinho Jaque, vinho de cheiro, azeitona, sopa do Espírito Santo, alcatra, arroz-doce, lapas marisco, afonso de lapas, caldeirada de peixe e enchidos de porco

Artesanato: Bordados, rendas, tecelagem, olaria, vassouras de milho e peças de madeira para a lavoura

Colectividades: Núcleo de Desporto da Casa do Povo, Escola de Música da Casa do Povo, Centro de Convívio Porto Martins e Associação dos Amigos de Porto Martins com Rancho Folclórico

Orago: Santa Catarina e Santa Margarida

DESCRITIVO HISTÓRICO


Situada na parte oriental da ilha, perto da Praia, a freguesia de Cabo da Praia dista quatro quilómetros da sede do concelho. Tem uma área de mais de seis quilómetros quadrados.

Alguma confusão norteia o nosso estudo sobre a criação desta freguesia e paróquia. As opiniões dos diversos autores são díspares e permitem atingir poucas conclusões. Ao que parece, Cabo da Praia foi instituída, a nível eclesiástico, cerca de 1470, ou seja, nos primórdios da ocupação da ilha. Sabe-se que em 1558 o lugar não atingia ainda os cem fogos e que a côngrua do vigário se limitava a vinte mil réis. Por outro lado, os mais antigos registos paroquias conhecidos datam apenas do século XVII.

O forte de Santa Catarina era um ponto fundamental no sistema defensivo que se estendia ao longo da costa, entre Angra e Praia. Mandou-o edificar Ciprião de Figueiredo, como medida preventiva contra os assédios, cada vez mais fortes, da esquadra filipina. Era o mais bem equipado, de quantos existiam na Terceira. Foi fundamental também nas lutas entre liberais e absolutistas, em 1829-30. Durante a II Guerra Mundial, voltou a ser utilizado, desta vez por franceses e ingleses.

Gaspar Frutuoso, no século XVI, já referia a sua existência na obra “Saudades da Terra”, caracterizando ao mesmo tempo esta parte da freguesia: “Da vila corre a praia muito aprazível por espaço de meia légua até à ponta de Santa Catarina, e em toda esta praia morre muito peixe de toda a sorte com redes alvinatadas em Verão e Inverno, e no meio do ano se torna muito pescado, sargos, salemas, salmonetes e muitas sardinhas, onde está uma ermida de S. João, que antigamente foi de Santa Catarina, pela mudarem para uma freguesia do mesmo orago, que está acima pela terra dentro pouco mais de um tiro da besta, na qual há cem vizinhos. (...) Da ponta de Santa Catarina, onde está uma fortaleza, corre a costa rasa de calhau pouco espaço, fazendo mais adiante uma pequena baía, que se diz o Porto de Martim, distante da ponta de Santa Catarina um terço de légua, onde está uma grande fazenda e morgado, que ficou de um João Dornelas ao capital da mesma Praia, e uma ermida de S. Bento e outra de Santa Margarida, onde se chama os Graneis..

A igreja paroquial é um dos mais belos elementos da freguesia a nível patrimonial. Templo de três naves, com arcaria em pedra e quatro pias de água benta seiscentistas, mantém alguns elementos de origem, como as armas reais portuguesas. Edificada em 1747, sofreu obras de beneficiação em 1977. As esculturas representativas de Santo Antão, de S. Domingos, de Nossa Senhora do Rosário e de S. João são as mais valiosas. Salta à vista, em termos de espólio, uma cadeira em seda, tipo indiana, que data de 1868, e uma pintura em tela, que se encontra na capela do lado do Evangelho e que representa o Julgamento das Almas.

Madre Deus, uma paisagem protegida devido aos seus inúmeros encantos e à riqueza natural que contém, é a única zona dos açores onde se desenvolve a oliveira. A Pedreira também está classificada como área protegida, mas devido à presença de aves migratórias relativamente raras.

Foi barão de Cabo de Praia Manuel Joaquim de Meneses. Natural do Porto, onde nasceu em 1835, seguiu desde muito novo a carreira militar. Despachado alferes em 1809, participou na guerra peninsular desde os inícios do século XIX. Durante as guerras civis entre liberais e absolutistas, partiu para a ilha Terceira ao lado dos fiéis de D. Pedro IV. Comandou um dos distritos militares mais importantes, o que se estendia do forte de Santa Catarina até ao forte do Espírito Santo. Desembarcou no Mindelo, com os seus companheiros, e serviu com bravura no cerco à cidade do Porto. Morreu em 1835, não sem que antes a rainha D. Maria II o agraciasse com o título pelo qual ficou conhecido. Ao longo da sua carreira, desempenhou ainda os cargos de governador da Província de Trás-os-Montes, comendador da Ordem de S. Bento de Aviz, oficial da Torre e Espada e cavaleiro de Nossa Senhora da Conceição, etc.

Com cerca de mil e trezentos habitantes, Cabo da Praia é uma freguesia sobretudo agrícola, mas a industrialização do seu território é uma evidência que não pode ser escamoteada. Graças às suas condições geográficas, os solos são muito férteis e propícios a uma elevada rentabilidade. Do seu areal, retirava-se em tempos a melhor areia branca da ilha, que ia depois servir para o adubo das terras. A sua composição, que integrava conchas microscópicas de moluscos marinhos, estava na base dessa riqueza.