Freguesia de Fonte do Bastardo População: 1200

Actividades económicas: Agro-pecuária, serviços, cooperativa de consumo, pesca, pequeno comércio e construção civil

Festas e Romarias: Carnaval, festa do Bodo (Espírito Santo), festas de Verão (3.ª semana de Agosto) e Santa Bárbara (4 de Dezembro)

Património: Igreja matriz, chafarizes e império do Divino Espírito Santo

Outros Locais: Miradouro da serra do Cume

Gastronomia: Alcatra, sopas do Espírito Santo e morcelas

Artesanato: Rendas, bordados e ferraria

Colectividades: Associação de Jovens Fonte do Bastardo, Associação Filarmónica Recreativa e Cultural de Santa Bárbara da Fonte do Bastardo, Grupo de Teatro “Os Reisses” e Grupo de Teatro “Ti José Borges Tacão”

Orago: Santa Bárbara

DESCRITIVO HISTÓRICO


Situada na parte sudeste da ilha Terceira, a freguesia de Fonte do Bastardo é atravessada por um pequeno ribeiro que vai desaguar no oceano Atlântico, junto da freguesia de Cabo da Praia. Encontra-se a cerca de cinco quilómetros da sede do concelho. O seu nome advém da remota existência de uma fonte na sua área, nos primórdios do seu povoamento.

Segundo Frei Diogo das Chagas, esta paróquia foi instituída através de uma ermida dedicada a Santa Bárbara que aqui fora construída. Já existem referências à freguesia em 1531, através do testamento de uma tal Catarina da Silva, mulher de Gonçalo Annes de Mendonça. Este facto faz supor uma existência anterior a essa data. Os registos paroquiais datam apenas de 1617, mas muitos outros, bem mais antigos, certamente se perderam.

Em 1568, reinava D. Sebastião, é aumentada a côngrua do pároco de Fonte do Bastardo para vinte mil réis, o que significava que a povoação tinha alcançado alguma importância económica. Mesmo assim, continuava a ter menos de cem fogos.

A igreja paroquial, da segunda metade do século XIX, só foi terminada muito tempo depois. Do seu espólio, salienta-se a imagem da Senhora do Rosário, seiscentista, com oitenta centímetros de altura. A composição que representa S. José e a Virgem com o Menino são também de grande interesse arquitectónico, embora utimamente tenham sido abastardadas com a colocação de olhos em vidro.

O império do Espírito Santo, por seu lado, data de 1913, mas antes existiu um outro no mesmo local. É um dos elementos mais característicos da paisagem açoreana e, neste particular da ilha Terceira.

Os outeiros designados Picos de Garcia, mais conhecidos por Picos do Soares, são um dos pontos naturais mais significativos da freguesia. A sua origem parece estar relacionada com o labor dos vulcões que ao longo dos séculos não pararam de atormentar a ilha. A lava foi assim envolvendo a terra, a meia légua do mar, formando o biscoito de Porto Martins, hoje na freguesia de Cabo da Praia.

A primitiva igreja paroquial de Fonte do Bastardo ainda existe. Foi restaurada em 1908, ano em que deixou de ter a sua orgulhosa torre sineira. Um pouco desviada da estrada, em local que foi sempre um pouco ermo, tem uma só capela colateral e é o mais pequeno templo da ilha. Do seu recheio, destacam-se as imagens de Santa Bárbara e de Santo Antão e um crucifixo em cedro, de oitenta centímetros e do século XVII.

A ermida de S. José, por seu lado, foi totalmente destruída por um grande sismo que aqui ocorreu em Janeiro de 1801. Era a sede de um lugar anexo a esta paróquia de Santa Bárbara e cabeça de casal de um pequeno morgado instituído por António Correia da Fonseca e sua mulher, Branca Vieira. O templo situava-se sobre um alto, do qual se via toda a vila da Praia.

Com cerca de mil e duzentos habitantes – a evolução demográfica, ao contrário da generalidade das povoações dos Açores, não foi negativa em Fonte do Bastardo – esta freguesia vive sobretudo à custa do sector primário. A agro-pecuária e a pesca são as suas actividades económicas preponderantes.

À Fonte do Bastardo, dedicou Cândido de Melo uma poesia plena de significado: “Era outr’ora singella aldeiasinha / Perdida entre arvoredos, desbotada / Dois montes, que lhe são guarda avançada / Tristonha sempre a viram, pobresinha. Agora seu aspecto é de rainha / Amena, pitoresca, engrinaldada / Semelha na campina esmaeraldada / Uma egastada rutil camarinha”.

Álamo de Oliveira, por seu lado, preferiu a prosa. Em “Viagens na Nossa Terra”, escreveu sobre Fonte do Bastardo: “Com o mapa nas mãos, é fácil surpreender os roteiros da paisagem. Para tal, seja circularmente indiscreto – tanto como os caminhos que se cruzam sob a impaciência de tocarem os lugares. E, desde já, previne-se: não há que ter pressas no olhar. Dê-lhe tempo para beber e saciar-se. (...) Pela estrada das Fonteinhas suba à serra do Cume. É sobre ela que desliza uma manta de patchwork – um imenso e paciente trabalho “cosido” a muros de pedra que aprisionam retalhos e retalhos de verde e que o movimento subtil das nuvens assombra e clarifica sucessivamente.”