Freguesia de Santa Cruz População: 10000

Actividades económicas: Agricultura, pecuária, pesca, comércio, serviços, pequena indústria e hotelaria

Festas e Romarias: S. João (1.ª semana de Julho), S. José (1.ª semana de Setembro), Santa Rita (último domingo de Julho), festa das Figueiras e Santa Cruz (último domingo de Setembro)

Património: Igreja matriz, igreja da Misericórdia, impérios, casa onde nasceu Vitorino Nemésio, casa das Tias, chafariz e paços do concelho

Outros Locais: Serra do Cume, miradouro varanda da cidade, miradouro de Santa Rita e praias balneares

Artesanato: Rendas, bordados, lãs e tecelagem

Colectividades: Filarmónica União Praiense, Sport Clube Praiense e União Desportiva Praiense

Orago: Santa Cruz

DESCRITIVO HISTÓRICO


É a sede do concelho. Agrupa os lugares de Casa da Ribeira, Santa Luzia e Santa Rita. A vinte e cinco quilómetros de Angra do Heroísmo, está situada numa extensa baía semicircular que facilitou desde muito cedo uma rápida implantação populacional.

Tanto foi assim que, até 1476, desempenhou o papel de capital da ilha Terceira, pois era ainda mais importante que Angra do Heroísmo. Em 1480 é elevada à categoria de vila. Ao longo dos séculos, desempenhou papel primordial na história de Portugal. Nas lutas que antecederam a nossa perda de independência, a sua população aclamou como novo rei D. António, Prior do Crato, exactamente no momento em que D. Filipe de Espanha subia ao trono. No ano seguinte, em 1581, muitos dos seus habitantes combateram os espanhóis na célebre batalha da Salga.

Em 1456, aparece-nos um dos primeiros documentos sobre a povoação. Jossué van den Bergue, o célebre Jácome de Bruges, passava a residir “o mais tempo na Praia, mas isso era por lá ter terras, e não porque ali fosse a cabeça de toda a ilha”. Embora, como antes se disse, ali fosse realmente a capital da Terceira.

Em 24 de Maio de 1614, sofreu Praia da Vitória um terrível terramoto, que praticamente destruiu toda a vila. Foi tudo de imediato reconstruído, por ordem de D. Filipe, de tal forma que em 1640 voltavam os seus populares a desempenhar papel de grande importância na luta contra os invasores espanhóis. Ascendeu então ao galarim das figuras notáveis dos Açores e de Portugal o capitão-mor Francisco Ornelas da Câmara.

Em 1829, decorreu nesta zona uma das mais encarniçadas batalhas entre os partidários de D. Miguel e os fiéis ao liberalismo.

A igreja matriz de Santa Cruz foi da responsabilidade de Jácome de Bruges. Foi sagrada em 1517. Apesar de reconstruída por diversas vezes desde então, tem elegante portaria com portadas ogivais. No interior, as capelas laterais são manuelinas. Está sepultado neste templo Francisco de Ornelas da Câmara, o célebre capitão-mor da Terceira.

A igreja da Misericórdia, ou de Santo Cristo, foi destruída por um incêndio em 1921. A tradição diz que a imagem do seu padroeiro aparecera um dia a boiar nas águas do Atlântico, dentro de um caixão.

Gaspar Frutuoso, em “Saudades da Terra”, descreve a vila do século XVI: “Começando na ponta da serra de Santiago, pela costa da banda do sul, junto a ela, ao pé da rocha, está uma fortaleza, que se fez agora novamente para resguardo da terra (a qual não vêm os navios que vão da banda do leste, senão quando vão dar debaixo dela), com algumas peças de artilharia, e logo se faz uma grande enseada, que é o porto da vila da Praia, por ter uma praia de areia branca em toda ela, que será, em redondo, de comprimento de meia légua. (...) Dentro em si teme esta vila, e ao redor, treze ermidas, algumas mui ricas e lustrosas; duas das quais ermidas, do Salvador e de Nossa Senhora da Graça, têm cinquenta moios de renda, que se despendem em missas e obras pias; e no caminho que vai para a cidade de Angra, saindo da vila da Praia, está uma ermida de Santo Antão, pegada na rocha, junto à qual igreja de Santo Antão está uma fortaleza, novamente feita, pegada com o mar e caminho do concelho, das trincheiras para dentro da terra, também guarnecida de sua artilharia e bombardeiros; e junto da mesma ermida está outra grande alagoa, que seca no tempo do estio, a qual se faz de congregação de águas da chuva.” Com cerca de dez mil habitantes, Santa Cruz é uma freguesia nitidamente virada para a hotelaria e o turismo. A exemplo da generalidade da ilha, o sector primário continua também a ter um peso deveras significativo.

Nasceu nesta freguesia Vitorino Nemésio. A casa onde nasceu ainda existe e está devidamente assinalada. De seu nome completo Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, era professor catedrático, ensaísta, romancista e poeta. Foi, de resto, na literatura que mais se evidenciou. Nasceu em 1901 e morreu em 1968. Militou como membro activo do grupo literário Tríptico, percursor da Presença. Licenciado em Filologia Românica, doutorou-se pela Faculdade de Letras de Lisboa e leccionou nas Universidades de Montpellier e de Bruxelas. Na televisão, ficaram célebres as palestras semanais que apresentava, no seu estilo muito peculiar, com o título “Se bem me lembro”. “Varanda de Pilatos”, “Sob o signo de Agora”, “Mau Tempo no Canal”, “Exilados” e “Paço do Milhafre” foram algumas das suas obras.