araucariaExistem nos Açores pelo menos três espécies deste género de coníferas gigantes do hemisfério Sul. A mais emblemática, com uma forte presença na paisagem dos Açores é a espécie Araucaria heterophylla, plantada em diferentes datas desde o século XVIII em locais públicos e jardins privados, como marco na paisagem.

A espécie Araucaria heterophylla foi descoberta pelo Capitão Cook na sua segunda viagem de circum‑navegação, ao passar pela ilha de Norfolk a oeste da Austrália, de onde é endémica. O famoso Capitão ficou impressionado com esta árvore, de forma piramidal quase perfeita, e de altura que pode atingir os 60 m. Julgou que daria óptimos mastros, para além do nobilíssimo valor cénico que trazia à paisagem, como se se tratasse do símbolo das viagens em torno do mundo.

Ao trazer plantio desta espécie para Inglaterra, dedicou‑a, num gesto romântico, bem ao gosto da época, à rainha, sendo a espécie cultivada nos jardins reais. Este poderoso e imponente símbolo vem a ser trazido para Portugal sendo plantado em Lisboa no Jardim do Monteiro Mor (actual Jardim do Museu do Traje) no Lumiar. Trata‑se da araucária mais antiga do país; plantada por Jacome Ratton no final do século XVIII, e também a primeira plantada na Europa ao ar livre.

Mais tarde, em meados do século XIX, vem a ser plantada em Sintra, por Francis Cook, quando estabelece o seu jardim em Monserrate, um harmonioso e exuberante conjunto artístico e ambiental onde se sente, de uma forma viva e marcante, o “glorioso Éden” que Lord Byron tão bem soube cantar.
Este indivíduo tem hoje 50 m de altura e 22 de diâmetro e será o maior do continente português.

Nos Açores esta espécie é igualmente introduzida nos jardins românticos, com grande êxito e crescimento rápido, dando imponentes marcos na paisagem (algumas das árvores açorianas poderão mesmo ultrapassar as medidas referidas, mas nunca houve uma medição exacta das mesmas).

A sua boa adaptação aos Açores, em particular pela sua resistência aos ventos e ao sal, permite‑lhe ser uma das poucas árvores que se destacam na paisagem. Por isso, muitos jardins românticos vêm a adoptar, nas diferentes ilhas, esta espécie como o seu elemento central. Mais tarde salta dos jardins privados para o passeio público, onde é utilizada para marcar pontos ou datas memoráveis.

É assim que, na visita real de D. Carlos, no início do século XX, aos Açores, alguns dos pontos de visita, como que num memorial, são marcados pela plantação de Araucária.

Hoje estas árvores fazem parte da paisagem cultural dos Açores e constituem importantes marcos na estrutura visual das ilhas. Associadas a agregados urbanos nobres e ajardinados, a sua forma piramidal tem significados estéticos e míticos, pois que sobressai na paisagem aplanada das ilhas assemelhando‑se a mãos postas que se erguem ao céu, construindo uma ligação entre o terreno e o transcendental, aproximando‑se do significado fundamental do jardim.

 

In Espécies florestais das ilhas, Eduardo Dias, Carina Araújo, José Fernando Mendes, Rui Elias, Cândida Mendes e Cecília Melo
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