Freguesia de Raminho
População: 570
Actividades económicas: Agricultura, serviços e comércio
Festas e Romarias: Sagrado Coração de Jesus (última semana de Agosto) e S. Francisco Xavier (3 de Dezembro)
Património: Igreja matriz, império do Espírito Santo e chafarizes
Outros Locais: Miradouro, vigia da Baleia, parque de merendas, locais paisagísticos e lagoa do Pinheiro
Gastronomia: Alcatra, cozido e sopa do Espírito Santo
Artesanato: Linho e colchas de lã
Colectividades: Sociedade Recreativa do Raminho, Tuna do Raminho, Grupo Coral, Irmandade do Espírito Santo, Futebol Clube do Raminho, Grupo da Terceira Idade, Grupo de Jovens, Casa do Povo e Centro Cultural e Recreativo da Junta de Freguesia
Orago: S. Francisco Xavier
DESCRITIVO HISTÓRICO
Com uma área de onze quilómetros qua- drados, a freguesia de Raminho encontra--se a vinte e sete quilómetros da sede do concelho. Está situada no extremo oeste-noroeste da ilha, entre Serreta e Altares. Atravessada por cinco pequenas ribeiras, Borges, Grota do Veiga, Grota de Francisco Vieira, Grota dos Folhadais e Cabo do Raminho é constituída segundo a “Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira” pelos seguintes lugares e sítios: À Igreja, Às Presas, Atalosa, Cabo do Raminho, Canada da Bernarda, Canada dos Dois Moios, Canada do Esteves, Grota de Folhadais, Grota de Francisco Vieira, Lameiro, Portal da Terça, Presa do António Borges, Presa Grande, Ribeira Borges, Teatro do Meio e Terreiro.
Esta freguesia é também conhecida como Raminho dos Folhadais. Um facto que está relacionado com as características da sua vegetação. Refere Carlos Drumond de Andrade em relação a este assunto: “A duas léguas para o norte, no Biscoito da Fajã, começa o Raminho dos Folhadais, pela muita madeira que ali havia desta qualidade assim chamado nos antigos documentos; é assaz agradável a sua vista e, à maneira de anfiteatro, mui povoado e de boas terras na beira-mar, ainda que para cima são terrenos de bagacina, que por muitos anos estiveram desprezados”.
A independência administrativa e eclesiástica da freguesia começou a desenhar-se apenas em finais do século XVII. No ano de 1694, o cura que celebrava missa em Altares foi autorizado a ir rezar aos domingos na Ermida da Madre de Deus de Raminho, para que lá pudessem ir todos os habitantes que assim o desejassem. Daí a se ter percebido que havia necessidade de criar uma nova paróquia foi apenas um pequeno passo. A elevação do lugar a curato ocorreu, no entanto, apenas depois da construção do templo paroquial. Quanto à criação da freguesia, aconteceu a 11 de Fevereiro de 1878.
A igreja matriz começou a ser erguida em 1855. Encontra-se no centro da freguesia. Templo de três naves, espaçoso, é de traça neo-romântica. Tem duas torres sineiras e é consagrada a S. Francisco Xavier. Restaurada em 1890, é de grande imponência. Augusto Pereira da Silveira, pároco de então, foi o responsável pelo engrandecimento do templo. Sofreu grande destruição com o violento terramoto de 1980, que afectou todo o Arquipélago dos Açores.
A escolha de S. Francisco Xavier para orago teve a ver com Francisco Nunes da Rocha, habitante desta cidade. Quando lhe pediram esmola para a construção do templo, ofereceu a imagem do padroeiro, com a condição de ser ele o escolhido como orago.
Um dos documentos mais importantes que se conhecem sobre esta freguesia de Raminho data de Outubro de 1861 e está relacionado com a construção da ermida de Madre de Deus. Através dele é possível compreender um pouco da situação socio-económica dos seus habitantes em finais de oitocentos: “E porque parte dos moradores do lugar de Raminho que fica nos confins da freguesia me foi representado que um devoto e eles intentavam erigir naquele sítio, uma ermida da invocação da Madre de Deus, por ser certo que em razão dos longes que vão do lugar de Fajã e Raminho ficavam muitas pessoas sem ouvirem missa e muita distancia dos ditos lugares à paróquia para receberem os Divinos Sacramentos; acedendo ao bem comum daqueles povos e haver eu pessoalmente visto a necessidade, mando que aprovando Sua Majestade que Deus Guarde o provimento do dito segundo cura, este seja obrigado nos domingos e santos de preceito ir logo de manhã dizer missa aos povos que residem da Cruz dos Dois Moios até à Fajã e os doutrine para que aquele rebanho não fique desfavorecido do pacto espiritual.”
Actualmente, vivem menos de seiscentos habitantes em Raminho, mas este número já foi muito maior. Em 1878, por exemplo, habitavam a freguesia cerca de duas mil pessoas. Depois disso, a forte emigração da década de 60 do nosso século implicou a fuga de muita gente, em busca de um futuro melhor. Os seus principais destinos foram o Canadá, o Brasil e a América. Dir-se-ia mesmo que Raminho foi uma das principais povoações afectadas por este fenómeno.
Era gente que deixava a terra, que não mais voltava, mas que mesmo assim se preocupava com aqueles que ficavam. Emigração. Um fenómeno que foi fundamental para a economia da região, principalmente no momento em que as remessas dos emigrantes, muitos deles já enriquecidos, começaram a voltar à sua terra. Um emigrante, “brasileiro” ou “americano”, que só se sentia completo quando, depois de uma vida inteira a mourejar, e a verter lágrimas, suor e sangue, voltava à sua terra para reconstruir a antiga casa paterna ou para construir prédio novo no “verde canto da aldeia”.
A agricultura continua a ser, ainda hoje, a principal actividade da população desta freguesia. Sempre o foi, desde os tempos dos primeiros povoadores. Desde esses tempos pioneiros, foram introduzidas culturas fundamentais para a alimentação dos habitantes locais, como o milho, a batata, o feijão e o trigo. Além disso, o Raminho colhia ainda plantas tintureiras e musgo para cabeceiras e produzia muito linho, de excelente qualidade. Não se esqueça também o carvão. Mais tarde, surgiu a cultura das favas, das ervilhas e dos tremoços. Tudo era vendido para os primeiros mercados urbanos, com especial e lógica incidência para Angra do Heroísmo. O panorama económico actual não difere muito daquilo que acontecia no passado da freguesia.
É natural desta freguesia Álamo de Oliveira, poeta e dramaturgo que frequentemente é chamado a dar a conhecer as realidades locais para publicações de carácter turístico do continente. Numa dessas obras, “Viagens na Nossa Terra”, o escritor referiu-se à sua terra: “Regresse a Angra pelo litoral (Altares, Raminho, Serreta, Doze Ribeiras). Entretanto, pare no miradouro da Ponta do Raminho. Em dia de horizontes lavados, as ilhas de S. Jorge e Graciosa parecem sonhos pintados sobre a linha última do mar. Desta forma, poderá perceber porque nascem os ilhéus com um barco nos pés, que isto de insularidade não é mera figura de retórica”