Freguesia de Fajã de Baixo

População: 3450

Actividades económicas: Cultura de ananás, floricultura, hotelaria, doçaria e artes gráficas

Festas e Romarias: Festa de N. Sra. dos Anjos (15 de Agosto), Romaria à Senhora da Boa Nova (Segunda-feira de Páscoa) e Festas do Espírito Santo (Maio/Junho)

Património: Igreja de Nossa Senhora dos Anjos e palacete do Barão de Fonte Bela (imóveis de interesse público regional), palacete do Barão de Santa Cruz (actual residência do Comandante da Zona Marítima dos Açores), solar e ermida do Loreto e solar e ermida de Santa Rita

Outros Locais: Centro histórico, quinta da Bela Vista e plantação de ananás

Colectividades: Casa do Povo e Grupo Folclórico

Orago: Nossa Senhora dos Anjo.


DESCRITIVO HISTÓRICO


Situada na periferia da cidade de Ponta Delgada, da qual dista cerca de três quilómetros, é limitada a norte pela freguesia de Fajã de Cima, a sul e leste pela de S. Roque e a oeste pela de S. Pedro (urbana).

De solo pouco acidentado, apresenta-se baixa e plana no seu espaço central (daí o nome de Fajã), de onde sobressaem apenas dois outeiros, o mais alto dos quais chamado Pico da Abelheira, com 131 metros de altitude.

Formou-se na primeira metade do século XVI, “entre as vinhas”, como refere Gaspar Frutuoso, e a sua área territorial compreendia, com o único nome de Fajã, as actuais freguesias de Fajã de Baixo e Fajã de Cima, esta última só emancipada no início do século XIX.

Já então dedicada a Nossa Senhora dos Anjos, a igreja paroquial, “por estar erma e longe”, fora mandada demolir e logo reconstruída no preciso local onde ainda hoje se encontra. Decrépito e sustentado por espeques, o templo foi sujeito a importantes melhoramentos em 1662, mas a actual igreja, de estilo barroco tardio e planta octogonal, só viria a ser edificada em 1791.

Pela sua beleza e representatividade, a Igreja de Nossa Senhora dos Anjos foi declarada como imóvel de interesse público pelo Governo Regional dos Açores, merecendo, entre outras, esta apreciação de Guido de Monterey: “Embora de proporções medianas, é de um enlevo, mesmo de uma atracção ímpar. A fachada, de pedra rendada, tem imponência. Do seu conjunto ressalta uma beleza extrema, um encanto, ao mesmo tempo, subtil e vigoroso. Uma igreja que redundou num monumento de graciosidade..

O percurso histórico da freguesia de Fajã de Baixo pode ser dividido em três ciclos agro-económicos distintos, sendo o ciclo da vinha corespondente aos séculos XVI e XVII, o da laranja aos séculos XVIII e XIX e do ananás aos séculos XIX e XX.

Esta última cultura frutícola, praticada em estufas de vidro, é a actividade emblemática da freguesia, e pelo “Diário da Guerra Civil”, do Marquês de Sá da Bandeira, sabe-se que, já em 1829, o cônsul inglês W. Harding Read cultivava ananases, para consumo próprio, numa pequena estufa de plantas ornamentais que tinha na Quinta da Bela Vista, em cujo solar acolheu, escondendo-o dos miguelistas, aquele grande prosélito e combatente do liberalismo.

Em face da crise que atingiu os imensos laranjais de S. Miguel, a Fajã de Baixo, com o decorrer do tempo, veio a tornar-se no maior centro de produção de ananás de toda a ilha de S. Miguel, albergando boa parte daquilo a que alguém chamou “o maior equipamento agrícola construído existente em Portugal” – e a prosperidade daí resultante, em especial no período que mediou entre as duas guerras europeias, valeu-lhe o carinhoso epíteto de “Cidade de Berlim”.

Pela excelente posição que ocupa em relação à cidade, a Fajã de Baixo foi desde sempre um local privilegiado de veraneio e a sua paisagem, coberta com o alvo acampamento das estufas brilhando ao sol, tem ainda a caracterizá-la alguns solares de bela traça, com os seus pórticos brasonados, as suas ermidas votivas e o enquadramento proporcionado por quintas, pomares e frondosos jardins antigos.

A ermida de N. Sra. do Loreto, construída em 1699, tem hoje uma fachada oitocentista e guarda no seu interior uma tela, pintada por Reinoso no início do século XVII, que é, ainda hoje, objecto de devoção popular e de concorrida romaria anual à Senhora da Boa Nova.

Por sua vez, o solar de N. Sra. do Egipto constitui o núcleo central da Casa de Saúde de S. Miguel, instalada em 1928 e entregue aos cuidados da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, que complementou a sua meritória actividade com a construção de uma clínica para tratamento de dependências patológicas.

Em Santa Rita, ergue-se um belo conjunto arquitectónico, com a ermida daquela invocação, edificada em 1765.

Um pouco por toda a parte, com os novos bairros periféricos da cidade e mesmo prédios de apartamentos, vêem-se ainda os vestígios de vida antiga, patenteados no casario de várias épocas e estilos, assim como nos arcos, chafarizes e torres que fazem da Fajã um espaço de inegável interesse histórico e cultural.

Se mais não houvesse, bastaria dizer-se que aqui nasceram, ao longo dos tempos, figuras notabilíssimas da cultura, da ciência e da política em Portugal e nos Açores, tais como Duarte Borges (visconde da Praia, apoiante da causa liberal); seus irmãos António Borges (considerado como o maior arquitecto paisagista açoriano de todos os tempos, ao qual se deve a plantação do actual Parque da Cidade de Ponta Delgada) e Maria José Borges (benemérita); Marciano Henriques da Silva (notável pintor do séc. XIX); Duarte de Viveiros (um dos maiores poetas portugueses da corrente simbolista); Natália Correia (escritora multifacetada de grande relevo no panorama da cultura portuguesa do séc. XX); António Câmara (cirurgião); Alexandre Linhares Furtado (autor dos primeiros transplantes de rins e pâncreas efectuados em Portugal); Aníbal Câmara (pianista); António de Sousa (estufeiro que também foi músico compositor); Ferreira Cordeiro, Duarte Pimentel, Jovelino Pimentel e Nivéria Sampaio (actores de teatro); Jaime Gama (actual Ministro dos Negócios Estrangeiros).

Embora nascidos no Brasil, podem ainda considerar-se a poetisa Cecília Meirelles, neta paterna de fajanenses, e o poeta José Barbosa, autor de numerosas e interessantíssimas revistas de teatro, uma forma de expressão artística que faz parte do historial da freguesia.

Espaço apetecido para a expansão da cidade, a Fajã de Baixo apresenta desafios de monta quanto ao seu futuro urbanístico que não pode ver-se confinado ao de simples dormitório, sem vida própria, sem dinâmica e sem iniciativa. A vontade dos autarcas e de todo o povo da freguesia, há-de, certamente, fazê-la crescer em sabedoria e em graça, transformando-a, cada vez mais, num lugar onde valha a pena viver.

Silva Júnior, jornalista e infatigável paladino da divulgação dos Açores (por alguma razão válida, cidadão honorário da Fajã de Baixo) chamava-lhe, carinhosamente, “este jardim da cidade” e acrescentava que “como a cidade cresce, assim tem de crescer o seu jardim”.