O Sorgo sacarino (Sorghum Dochna saccharatum) ou doce é mais conhecido entre nós pela simples designação de Sorgo.
Foi bastante cultivado nesta ilha, em fins do século passado, para o fabrico de aguardente, que tinha muitos apreciadores, pois lembrava, no gosto e no aroma, a genebra holandesa. Na época da maturação das sementes, os colmos eram cortados esmagados e prensados para a extracção do suco, que contém uma apreciável percentagem de açúcar. Este suco era posto a fermentar em dornas ou cubas e, depois da fermentação alcoólica era destilado em alambiques vulgares de cobre.
A legislação actual não permite o fabrico de aguardente senão de frutos directamente fermentiscíveis; e a indústria do álcool utiliza apenas a batata doce e os melaços como matéria prima. Por isso, a cultura do sorgo sacarino foi abandonado.
Silvano Pereira, 1955
PONTO DA SITUAÇÃO Decorre neste momento o projecto europeu “Sweethanol”, que conta com um orçamento de 1,2 milhões de euros financiado pelo programa IEE-II 2009 (Intelligent Energy Europe) da Comissão Europeia, cujo objectivo é o aproveitamento do álcool produzido por esta planta para a sua utilização como biocombustível.
Das primeiras conclusões, conclui-se que o sorgo tem um índice de sustentabilidade de 75% em comparação com o milho (45%), beterraba (65%) e cana-de-açucar (60%) – elevado índice significa menor poluição na produção do biocombustível. A matéria seca (subproduto) para alimentação do gado atinge uma percentagem de 34,6% (cana-de-açucar: 25; beterraba: 23,2; mlho: 84). A produção de energia é de 2,5 a 5 (cana-de-açucar: 8,2-10,2; beterraba: 1,8-2,2; milho: 0-15).
A planta quando imatura é venenosa, especialmente se ligeiramente murcha, uma vez que pode conter toxinas como cianeto de hidrogénio e o alcalóide hordenina. Estas substâncias são destruídos se a planta é transformada em silagem ou seca. A semente crua ou cozida é usada como arroz e pode ser moída em farinha e usada para pão.
O sorgo é um alimento básico em algumas regiões, onde muitas vezes é fermentado antes de ser comido. A semente germinada pode ser comida crua, por vezes é adicionada a saladas. Faz um xarope muito doce. As sementes contêm: 342 calorias por 100g; Água : 12 %; Proteína: 10g ; Gordura : 3,7 g ; Carboidratos : 72.7g ; Fibra : 2,2 g ; Cinzas : 1,5 g ; Minerais - Cálcio: 22 mg ; Fósforo: 242 mg ; Ferro : 3,8 mg ; Magnésio : 0mg ; Sódio: 8mg ; Potássio : 44 mg ; Zinco 0 mg ; Vitaminas - A 0mg ; A tiamina ( B1 ) : 0,33 mg ; A riboflavina ( B2 ) : 0.18mg ; Niacina : 3.9mg ; B6 : 0mg ; C: 0mg ;
A decocção das sementes é demulcente e diurético [ 4 ] . É utilizada no tratamento de sintomas urinários e rim. A inflorescência é adstringente e hemostático.
Nos Estados Unidos da América decorre neste momento investigação no sentido de desenvolver cruzamentos genéticos para tornar a planta mais tolerante a temperaturas baixas, que permita um cultivo mais extenso, porque o custo do milho continua a aumentar devido ao seu uso na produção de etanol para adição à gasolina. A silagem de sorgo pode ser utilizada como um substituto da silagem de milho na dieta de bovinos de leite” (Wikipedia).
Texto de Silvano Pereira, 1955 (Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores),
A outra variedade de sorgo utilizada nos Açores — Sorghum Dochna, technicum; sinónimo para Sorghum bicolor (L.) Moench subsp. bicolor — é o milho de vassouras ou sorgo das vassouras, que nunca deixou de cultivar-se, embora entre nós o fabrico de vassouras tenha mantido um carácter caseiro. Todavia, na ilha Terceira, funciona, há anos, uma fabrica de vassouras com certa grandeza, que pode considerar-se com aspecto industrial.
Em S. Miguel tem havido também diversas tentativas dessa mesma indústria, nem sempre com grande êxito, devido talvez a imperfeição do fabrico ou à concorrência encontrada da parte de industrias já montadas e com a sua clientela conquistada.
O Sorgo não é muito exigente na qualidade do solo. Vegeta bem em qualquer terreno, preferindo as terras soltas em bom estado de fertildade. Resiste melhor do que o milho à estiagem e aos ventos. Prepara-se a terra como para o milho, com outono de tremoço, uma lavoura preparatória e outra de sementeira, que convém que seja suficientemente funda.
Com esta lavoura enterra-se o estrume à razão de um carro ou quatro carroças por alqueire, ao qual se adiciona o superfosfato de cal. Querendo fazer-se uma adubação completa de restituição, deve empregar-se por alqueire de terra: 5 quilos de azoto; 9 quilos de A. Fosfórico; 10 quilos de potassa.
Além do azoto fornecido pela tremoçada e pelo estrume, bastará empregar em cobertura 30 quilos de Nitrato do Chile ou o equivalente dum adubo nitro-amoniacal; para o anidrido fosfórico precisaremos lançar 50 quilos de superfosfato a 18 %; para a potassa — 20 quilos de cloreto ou de sulfato de potássio. Este último adubo pode mesmo dispensar-se, se a lerra for um pouco argilosa.
A sementeira faz-se durante todo o mês de Abril, em regos ou linhas distanciadas de 0,m45 a 0,m50, ou em covetas ou caseiras a igual distância. Meio alqueire de semente (5 a 6 quilos) será suficiente para cada alqueire de terra. Cobre-se com o sacho, lançando pouca terra, (0,m02 a 0,.033) por ser a semente miúda e as plantinhas muito débeis ao nascer. Poucos dias após o nascimento é preciso dar uma sacha nas entrelinhas, para que as ervas espontâneas não abafem as plantinhas do sorgo.
Quando estas atingem uns 0,m10 de altura, procede-se ao desbaste, monda e sacha, operação morosa e muito importante, deixando-se em cada coveta, ou de espaço a espaço na linha, 3 ou 4 pés de sorgo, convenientemente afastados uns dos outros. Nesta ocasião faz-se a adubação de cobertura. Conforme o desenvolvimento de ervas espontâneas, dá-se mais uma ou duas sachas, de forma a manter sempre o terreno limpo. Não há necessidade de fazer amontoa ou abarbar, já porque as raizes do sorgo tendem a profundar, já porque não se criam as raízes adventícias nos primeiros nós do caule, como sucede no milho.
Ao fim de cinco meses, contados desde a sementeira, os frutos ou sementes amadurecem, as panículas começam a amarelecer, e a secar. É tempo de proceder à colheita. Cortam-se os colmos uns o,m10 ou o,m15 abaixo da base das espigas ou panículas, e estendem-se ao sol a secar. Antes ou depois de secas, procede-se à desgranação ou ripagem das sementes, trabalho bastante moroso e enfadonho, segurando as espigas sobre uma tábua ou banco e arrancando-lhes as sementes com auxílio dum ripanço ou duma raspadeira feita de arco de ferro.
Emolham-se as panículas desgranadas, que estão prontas para a manufactura das vassouras. Em média, um alqueire de terra de milho de vassouras produz .200 quilos de palha seca e 30 alqueires ou 300 quilos de grão, que serve para alimentação de galinhas ou de porcos.
Os pássaros, especialmente os canários, são muito gulosos do grão de sorgo quando em estado leitoso.
Lugares há em que devoram praticamente a colheita. Tombando as espigas por um torcimento a meia altura do colmo, consegue-se diminuir o estrago da passarada. As folhas e as bases do colmo têm fraco valor alimentício e são pouco apetecidas pelo gado. Todavia, passando-as por um carta-palhas poderiam servir para alimentação do gado bovino, ao menos como balastro.
Não é de esperar nem de desejar que a cultura do sorgo das vassouras tome nestas ilhas uma grande extensão; não o permitiria a concorrência de outras terras onde a cultura se pode também exercer, nem a natural limitação do consumo dos produtos manufacturados. No entanto, pode ser muito proveitosa como cultura subsidiária, como pequena fonte de riqueza, pequena em si, mas que somada a outras fontes igualmente pequenas, poderá contribuir para o equilíbrio da balança económica da nossa agricultura.
OUTROS USOS
Nas preparações de alimentos mais simples, todo o grão é cozido (para produzir uma espécie de arroz), torrado (geralmente na fase de massa). Mais frequentemente o grão é moído ou triturado em farinha, muitas vezes depois de descascado. A farinha de sorgo é usada para fazer mingau, panquecas, bolinhos ou cuscuz, cerveja e bebidas fermentadas não alcoólicas. Na África o sorgo é germinado, seco e moído para formar o malte, que é utilizado como um substrato para a fermentação na produção de cerveja local.
O grão branco é geralmente preferido para cozinhar, enquanto os grãos vermelhos e castanhos são normalmente utilizados para cerveja. Na China o sorgo é amplamente destilado para fazer uma bebida alcoólica popular e vinagre.
Vários cultivares de sorgo não comestíveis são cultivados exclusivamente para extrair um corante vermelho presente nas folhas e, por vezes, também em outras partes do caule. Na África este corante é usado especialmente para tingir pele de cabra, mas também para tapetes, tecidos, tiras de folhas de palmeira e ervas utilizadas em cestaria e tecelagem, cabaças ornamentais, lã.
O sorgo também é usado para fornecer as cores violeta decoram as máscaras usadas durante certas danças de povo Yoruba no sul do Benin e no sudoeste da Nigéria. No século XIX o sorgo vermelho era importado para a Europa, onde o corante era conhecido como “carmin de sorgho”. Usado em lã ou seda, com um mordente como o estanho ou cromo, o resultado era uma tinta marrom-vermelha conhecida como “badois rouge”. “Durra vermelho”, um produto similar, era exportado da Índia para o Reino Unido, onde o corante era conhecido como “Hansen brown” ou “Meyer brown”. Recentemente foi patenteado o uso como tinta de cabelo.
A regra mais básica é assim: entre a lua minguante e a nova deve ser plantado tudo o que dá abaixo do solo (raízes, tubérculos, rizomas e bulbos comestíveis) e, entre a lua crescente e a cheia deve-se plantar tudo o que dá acima do solo (folhas, flores e frutos comestíveis).
Na Lua Crescente a seiva é atraída para as folhas, favorecendo o crescimento da parte superior da planta. é um periodo favorável ao plantio de cereais, frutas e flores e colheita de verduras. Boa altura para fazer enxertias e adicionar composto ao solo.
Na Lua Cheia os frutos estão mais suculentos devido a maior quantidade de seiva encontrada nos frutos mas o plantio é desaconselhado.
Na Lua Minguante deve iniciar-se o plantio de plantas de raízes, como a beterraba, cenoura, cebola, batata… Colher as raízes e vagens pois a planta encontra-se com menos seiva o que facilita a cozedura. Colher o milho, abóbora e outros para armazenamento, porque resiste mais ao ataque do caruncho. Boa época para podar. Deve colher-se as sementes uns dias antes da Lua Nova.
Lua Nova as plantas têm baixa resistência às pragas e o pantio é desaconselhado.
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X: Bom
XX: Muito Bom
Esta planta é também conhecida por açaflor ou açafrão bastardo. É a Carthamus tinctoria, L., da família das Compostas sub-família Tubulifloras, tribo das Cynareas, sub-tribo das Centauríneas.
Planta anual, de caule erecto, semi-lenhoso, com 0,80 a 1 metro de altura, ramificado no cimo; folhas alternas, sub-lanceoladas, sub-co-riáceas, espinescentes, as inferiores pecioladas e as restantes sésseis; flores hermafroditas, reunidas em capítulos envolucrados, ovóides, solitários, homogâmicos; invólucro formado por brácteas livres, imbricadas, espinhosas; cálice com o linho transformado em papilhos de pêlos; corolas tubulosas, amarelo-alaranjado, com o tubo fendido na parte superior em 5 dentes iguais; cinco estames com as anteras aderentes formando um tubo por meio do qual passa o estilete longo, alaranjado, nodoso, intumescido; os frutos são aquênios brancos, tetragonais, majusculos, glabros.
A eclosão das flores realiza-se em Julho e Agosto, saindo primeiramente as periféricas e depois as do centro da inflorescência, por uma estreita abertura do invólucro capitular. Semeia-se em linhas, em Março ou Abril, nas margens das hortas ou dos quintais, perto da casa de habitação do cultivador, para facilitar a colheita.
Para isso, abrem-se sulcos de 10 a 15 centímetros de profundidade, aduba-se com um pouco de estrume consumido e lançam-se as sementes (aquênios) que se cobrem com uns 10 centímetros de terra. Como amanhos culturais, procede-se a um desbaste e uma ou duas sachas.
Por ocasião da floração, cortam-se as flores (que desabrocham dos capítulos) de dois em dois dias, servindo-se da unha do dedo polegar apoiada no indicador. Esta colheita faz-se de-manhãzinha, quando as folhas estão brandas e os espinhos menos acerados.
Retiradas as primeiras flores desabrochadas (corolas e estiletes), outra camada de flores vai eclodir para ser cortada, e assim sucessivamente, por uma ou duas semanas.
As flores colhidas expõem-se ao sol a secar em tabuleiros e, quando secas, são moídas por processos rudimentares, geralmente, amassados dentro dum saco de pano, resultando um pó alaranjado, que se guarda em frascos bem rolhados—a farinha de açafroa.
Serve este pó para condimentar e corar molhos e guisados, como substituto do pimentão doce ou colorau. É um condimento fundamental do famoso “molho de vilão”. O o seu emprego típico e tradicional é nas açordas — caldo magro usado pela gente pobre, confeccionado com água, sal, banha, cebola e alho e a competente açafroa, que lhe dá o cheiro e o gosto peculiares.
Silvano A. Pereira, 1947
OUTROS USOS NÃO CORRENTES NOS AÇORES
Um óleo comestível é obtido a partir da semente, com uma percentagem maior de ácidos gordos insaturados e menor em ácidos gordos saturados do que os outros óleos de sementes de vegetais. O óleo, de cor clara e facilmente clareado, é usado em molhos para saladas, óleos e margarinas. A sua inclusão na dieta contribui para reduzir os níveis de colesterol no sangue.
A planta também tem uma ampla gama de utilizações medicinais. A investigação moderna tem mostrado que as flores contêm um número de constituintes medicinais ativos e pode, por exemplo, reduzir as doenças coronárias e os níveis de colesterol. Analgésica, antibacteriana, antiflogística, hematopoiética. Trata tumores e estomatites. As flores são um laxante, purgativo, sedativo e estimulante.
São usadas para tratar dores menstruais e outras complicações, promovendo um fluxo menstrual suave e ficaram em 3º lugar numa pesquisa com 250 plantas com potencial anti-fertilidade. As flores são usadas no tratamento de problemas infantis, como o sarampo, febre e problemas de pele. As folhas são aplicadas externamente a contusões, entorses, inflamações da pele, feridas etc..
As flores são colhidas no verão e podem ser usadas frescas ou secas mas não devem ser armazenadas por mais de 12 meses. A planta é um febrífugo, sedativo, vermífugo e sudorífico. A semente é diurética, laxante e tónica.
É utilizada no tratamento de reumatismo e tumores, especialmente tumores inflamatórias do fígado. O óleo, carbonizado, é usado para curar feridas e tratar reumatismo. No Irão, o óleo é usado como pomada para o tratamento de entorses e reumatismo. Plantado durante milhares de anos pelo corante que pode ser obtido a partir das flores.
As culturas em consociação favorável aumentam a produtividade, através de um melhor aproveitamento do solo -- na mesma área de superfície do solo,
pode obter-se produções de diferentes alimentos em simultâneo, sem prejuízo nas produções das diferentes culturas no caso de uma doença ou intempérie destruir a cultura mais sensível, as restantes continuam produtivas.
Há uma melhor eficiência dos nutrientes fornecidos ao solo, pois as culturas podem ser compatíveis e completar-se ao nível das necessidades em nutrientes. As diversas plantas têm também sistemas radiculares diferentes, com absorção de nutrientes em diferentes profundidade do solo.
Há protecção contra adversidades do clima através da protecção contra a exposição solar de determinadas plantas, aumento de humidade junto ao solo, protecção contra geadas e ventos frios.
A consociação favorece também o combate a pragas, opondo uma barreira física à propagação das pragas, sobretudo se forem utilizadas plantas na consociação que libertem moléculas bioquímicas com propriedades germicidas e repelentes para pragas, como acontece com muitas aromáticas.
Há ainda o efeito da presença de compostos bioquímicos libertados ao nível da raiz e das folhas de algumas plantas com propriedades anti-germinativas nas sementes das infestantes
Sugestão de leitura: Ferreira, J. C. et al., 1998. Manual de Agricultura biológica – Fertilização e protecção
das plantas para uma agricultura sustentável, 1ª ed., Ed. Agrobio
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