Veio solteiro a esta ilha de S. Miguel, no tempo de Rui Gonçalves da Câmara, quinto Capitão dela e segundo do nome, um Rui de Frias, da geração dos Frias de Castela, castelhano, homem fidalgo, de muita qualidade, muito honrado e assim o parecia em sua pessoa e casou aqui com Lianor Pires, filha de Ginebra Anes e de seu segundo marido, João Vaz Feio, das Virtudes, da qual teve o dito Rui de Frias os filhos seguintes: o primeiro, Gregório de Frias, que casou na vila da Alagoa com Caterina Correia, mãe de Simão Correia, da qual houve uma filha por nome Ana de Frias, que faleceu solteira; o segundo filho, chamado Bertolameu de Frias, sendo pagem do Capitão Rui Gonçalves da Câmara, segundo do nome, faleceu em casa, solteiro, no tempo do dilúvio de Vila Franca.
Teve mais Rui de Frias três filhas; a primeira, Ana de Frias, faleceu também no mesmo terramoto, em casa do dito Capitão; a segunda filha, chamada Ginebra de Frias, foi casada com um filho de João Gonçalves Botelho e neto de Gonçalo Vaz Botelho, o Grande, do qual ficaram duas filhas, que faleceram solteiras no dito dilúvio de Vila Franca. O qual primeiro marido da dita Ginebra de Frias mataram em Rabo de Peixe uns irmãos da mulher de Diogueanes, da Ribeira Grande, sobre umas extremas de terras que ele tinha no mesmo lugar.
E depois casou Ginebra de Frias, segunda vez, com Fernão de Anes de Puga, irmão de Vasqueanes, abade de Moreira, ouvidor que foi do Eclesiástico nesta terra, o qual Fernão de Anes veio a esta ilha muito rico, com grande casa, como homem muito nobre que era; do qual houve estes filhos: o primeiro, António de Frias, que faleceu moço.
O segundo, o licenciado Bertolameu de Frias, grande jurisconsulto, homem muito grave, discreto, letrado de grandes e certos conselhos, e pai da pátria, o qual casou com Jordoa de Rezende, segunda filha de Domingos Afonso, do lugar de S. Roque, homem nobre, rico e poderoso, almoxarife que foi nesta ilha, da qual houve estes filhos: o primeiro, António de Frias, licenciado em leis, bom letrado e cavaleiro do hábito de Cristo, com boa tença, o qual casou com Breatiz Roiz e é agora padroeiro do insigne mosteiro de Santo André da cidade da Ponta Delgada, de religiosas de Santa Clara, à obediência do Bispo destas ilhas dos Açores. O segundo, João de Frias, que casou com D. Breatiz, filha de D. João Pereira, bisneto ou sobrinho do Conde da Feira, e de sua mulher D. Simoa, filha de Gaspar Perdomo e neta de Gaspar de Betencor, sobrinho da Capitoa D. Maria de Betencor, mulher de Rui Gonçalves da Câmara, terceiro Capitão desta ilha de S. Miguel. O terceiro, Manuel de Frias, licenciado em teologia, que faleceu estudante em Coimbra. O quarto, Domingos de Frias, morreu nas Índias de Castela. O quinto, André de Frias, letrado em leis. O sexto, Sebastião de Frias, faleceu em Coimbra, estudante, quase no cabo de seu estudo de cânones, sendo um dos mais raros engenhos e habilidades de seu tempo.
Teve mais o licenciado Bertolameu de Frias duas filhas, uma, chamada Maria de Frias, casada com António Brum da Silveira, e outra, Isabel de Frias, ainda solteira.
Os montanheses, em Castela, todos são fidalgos e têm suas enxecutorias que é a mais afinada fidalguia, e quando lá querem encarecer um de muito fidalgo, dizem: é montanhês e mui montanhês; e assim, não pagam alcavala, nem outras coisas, a que chamam pecho, que a outra gente paga.
Os vizinhos da cidade de Frias são destes fidalgos montanheses, da qual é duque o condestable de Castela, e destes montanheses vieram alguns a Viana e dela veio a esta terra Rui de Frias, que se aposentou e casou na vila da Alagoa, com cuja filha casou Fernão de Anes, pai do licenciado Bertolameu de Frias; e já agora seus filhos e descendentes, pela sua parte, são fidalgos dos montanheses, e por parte de sua mulher, são fidalgos dos Carreiros, e assim têm ambos os brasões que pertencem a estas duas progénias.
O segundo filho de Fernão de Anes e de sua mulher Ginebra de Frias, chamado Pero de Frias, letrado em leis, casou em Lisboa com uma mulher muito honrada que trouxe a esta ilha, e morou em Vila Franca, servindo muito tempo de juiz dos órfãos e na governança da dita vila, donde se tornou a Lisboa, onde foi também juiz dos órfãos e lá faleceu.
O terceiro, chamado Brás de Frias, faleceu solteiro.
Teve mais, Fernão de Anes, de sua mulher Ginebra de Frias três filhas: uma faleceu solteira; outra casou com Rui Pires, rico mercador, da ilha da Madeira; a terceira, chamada Catarina de Frias, casou com Brás Raposo, na cidade capitão de uma companhia, filho de Manuel Vaz Pacheco, de que tem filhos, e uma filha, chamada Maria Jácome, que casou com Manuel Martins, rico e grosso mercador e homem de delicado entendimento. Teve mais outra filha, chamada Clara de Frias e depois Clara de Jesus, por ser freira em S. João. A terceira filha de Rui de Frias e de Lianor Pires, chamada Isabel de Frias, foi casada com João Vaz Medeiros, filho de Rui Vaz Medeiros, da Atalhada, de que teve alguns filhos que faleceram, e um chamado Rui Vaz Medeiros, capitão dos aventureiros na cidade da Ponta Delgada, cavaleiro do hábito de Cristo com quinze mil reis de tença, que casou duas vezes, como tenho dito na geração dos Medeiros. Teve também uma filha, chamada Ana de Frias, que casou com Gonçalo Vaz, filho de Domingos Afonso, do lugar de Rosto de Cão, que faleceu, como seus irmãos.
Para maior declaração do sobredito, digo que Rui de Frias, avô do licenciado Bertolameu de Frias, e Romão de Frias, seu irmão, eram naturais das montanhas de Castela; e sendo Espanha dos mouros, dois irmãos, de sua geração, capitães de um exército, conquistaram a cidade de Frias, que é uma das principais cidades das Montanhas, e tendo ganhado a ponte e um castelo que nela estava, muito forte, acometeram a cidade e a tomaram. El-Rei lhe fez mercê, pela vitória, de lhes dar o castelo com título de alcaide-mor, donde tomaram o apelido de Frias, com as armas de que el-Rei lhe fez mercê, que são uma ponte, com um castelo sobre a ponte e rio, em campo vermelho, e a outra parte uma enzina com um lobo atado a ela, em campo amarelo. Correndo o tempo, houve o condestable de Castela de el-Rei ser duque da dita cidade de Frias e cometeu ao possuidor da alcaidaria lha largasse, e lhe satisfaria com outra coisa igual, o que não quis aceitar, sobre o que houve grandes bandos, onde se matou uma pessoa principal da casa do Condestable, que foi causa dos ditos Rui de Frias, avô do dito licenciado Bertolameu de Frias, e seu irmão Romão de Frias se absentarem de sua pátria e virem a esta ilha, onde Rui de Frias viveu muitos anos, na vila da Lagoa e sempre foi conhecido por homem fidalgo e como tal a governou, de juiz e vereador, que são os ofícios principais e honrados; e casou suas filhas com os mais honrados da terra e aqui faleceu. E seu irmão, Romão de Frias, casou na ilha da Madeira, na cidade do Funchal com uma mulher das principais, e viveu muitos anos e ficaram dele filhos e filhas, que casaram com os principais da terra; e ele foi tido sempre por fidalgo, e nessa conta estão agora os que dele procedem.
Fernão de Anes de Puga era natural de Ponte de Lima e procedia da geração dos Pugas, da cidade Dorens de Galiza, os quais desta geração são dos principais fidalgos da Galiza e Antre Douro e Minho; e a casa desta progénia dos Pugas tem soga e cuchilho, e por ser tal, indo Rui Vaz Medeiros a Portugal, foi ter a Ponte de Lima e, estando aí alguns dias, teve amizade com Fernão de Anes de Puga, e por estar informado de quem era, o cometeu com o casamento de Ginebra de Frias, filha de Rui de Frias, a qual foi primeiro casada com um irmão de João de Arruda e estava viúva, e por ter muita fazenda e Rui Vaz certificar a Fernão de Anes de Puga da honra de Rui de Frias, avô do licenciado Bertolameu de Frias, e de sua filha Ginebra de Frias, e da muita fazenda que tinha, assentou o casamento; e por essa causa veio a esta terra e aqui viveu muitos anos e sustentou sua casa com muitos criados e escravos, como quem era; e como tal era conhecido e andou sempre no regimento da vila da Ribeira Grande, em cujo termo era morador e pôs seus filhos no estado que está notório e no mais que tenho dito; e aqui o veio ver seu irmão, o abade de Moreira, que foi um dos principais homens de Antre Douro e Minho, em honra e renda, e como tal se tratou nesta ilha, com dois e três cavalos na estrebaria, os melhores que nela havia e acompanhado de muitos criados; e todos os principais desta terra lhe tinham muito acatamento e o acompanhavam; e foi ouvidor do eclesiástico alguns anos, e deixou nesta ilha um seu neto, por nome Manuel de Puga, homem de grandes espritos, e muita prudência e virtude, em casa do licenciado Bertolameu de Frias, seu sobrinho e tio do dito Manuel de Puga; o qual seu tio o casou com Luzia Cabral, filha de Belchior Tavares e de Simoa Cabral, sua mulher, e neta de João Tavares, filho de Rui Tavares, e neta de João Cabral, da vila da Alagoa, da geração dos Velhos e Cabrais, fidalgos e muito parentes de Gonçalo Velho, comendador de Almourol e senhor de Bezelga e das Pias, que foi o primeiro que por mandado do Infante D. Henrique descobriu estas ilhas de Santa Maria e de S. Miguel, e foi feito, pelo dito Infante, Capitão delas ambas.
Veio da Covilhã, de Portugal, a esta ilha, um homem muito honrado que chamavam João Vaz Feo, das Virtudes, porque curava por virtude, o qual, sendo menino muito pequeno, passando pelo caminho um fidalgo de Lisboa, que vinha de uma sua quinta e não tinha filho nenhum, como viu o menino tão bonito, perguntou-lhe se queria ir com ele; respondendo-lhe que sim, o levou nas ancas do cavalo e criou como filho, com o qual a mulher do fidalgo folgou muito. Era dotado de muitas virtudes e muito devoto e bem inclinado. Sendo já mancebo, teve uma dúvida com um homem e por se temer o fidalgo que falecesse o ferido, o mandou, muito encomendado, ao Capitão da ilha da Madeira, que era parente do mesmo fidalgo, encomendando-lhe tivesse em seu poder aquele mancebo que ele tinha como filho. O Capitão o estimava muito e, estando em sua casa, se casou, contra sua vontade, com uma sua vizinha, chamada Estevainha Vicente, da geração dos Colombreiros, mulher muito honrada; e por o fidalgo o desfavorecer, depois que soube que era casado, porque o mandava ir outra vez para Lisboa, para lhe fazer muito bem e perfilhá-lo, se veio descontente para a ilha de Santa Maria e trouxe consigo sua mulher; e sem embargo do desgosto que teve o fidalgo, por se casar, lhe houve dadas na ilha de Santa Maria, que havia pouco que se achara, que eram cinco moios de terra que alguns dizem lhe dar el-Rei pelo curar, e ali se aposentou com sua mulher, não tendo ainda filhos dela, e fazia muitas curas. Da qual Estevainha Vicente houve os filhos seguintes, sc., João Vaz Feo, que casou na ilha com uma filha de um rico mercador; o segundo, Vicente Vaz, casou com uma filha de um homem principal; o terceiro, chamavam........... que casou com uma filha de outro mercador; o quarto, Fernão Vaz, foi casado com uma Rezende, parenta de Domingos Afonso, sogro do licenciado Bertalomeu de Frias, e este Fernão Vaz teve uma filha que casou com o Capitão João Soares, chamada D. Jordoa, de que teve os filhos ditos na geração dos Capitães da ilha de Santa Maria. E outra filha de Fernão Vaz, chamada Filipa Faleira, casou com Francisco Curvelo, homem dos principais da ilha, que casou uma filha, por nome Camilha de Rezende, com um filho do almoxarife velho, que chamam João Tomé Velho; outra filha de Fernão Vaz, Ana de Rezende, casou também com outro filho do almoxarife velho.
Teve mais João Vaz, das Virtudes, um filho que chamavam Pero Vaz, mestre, que também curava por virtude e estancava, por devotas palavras, o sangue das feridas , o qual veio a esta ilha e casou na vila da Lagoa com Guiomar Alvres, filha de Pedralvres e de Inês Moura, colaça de D. Inês, mulher que foi de João Roiz, Capitão, que o casou com a dita Guiomar Alvres e lhe deu quatro moios de terra no Morro da Ribeira Grande, para ajuda de seu casamento. Teve mais João Vaz, das Virtudes, três filhas, sc., Bárbara Vaz que casou na ilha de Santa Maria com Álvaro Pires de Arvelos, que veio de Portugal, homem fidalgo, de que teve alguns filhos. A terceira filha de João Vaz chamavam Marquesa Vaz, casou com João da Fonte, homem mui honrado, que viveu rico e gastou sua fazenda em buscar uma ilha nova, que nunca se pôde achar.