Quando um besteiro, entre uma manada de pombas, faz um tiro ou dois e mata uma ou duas delas, as outras espantadas se alevantam fugindo, voando pelos ares, pondo-se em lugar mais seguro. Assim Deus, atirando a seta de sua ira e castigo aos moradores desta ilha, com o tremor e peste dela feriu a Vila Franca do Campo com seu limite, e ao lugar da Maia e outras partes, subvertendo-as e matando muita gente delas; e com outra seta de peste feriu as vilas da Ponta Delgada e Ribeira Grande, com que também matou muita gente. E em lugar de se converterem e alevantarem, voando como pombas os pombos da ilha, que são a gente que ficou viva, e pôr-se em lugar seguro de penitência e emenda, não se sabe claramente que ninguém isto fizesse, senão só duas pombas, santas fêmeas e religiosas, que quiseram deixar a terra e quanto nela havia, e voar para o Céu e lugar seguro da religião como agora direi.
Passada a assolação de Vila Franca do Campo, andando a peste acesa na vila da Ponta Delgada, havia em Vila Franca um Jorge da Mota, nobre e virtuoso homem, cavaleiro do hábito de Aviz, que escapou em uma sua quinta, onde tinha uma ermida da invocação de S. João Baptista, junto das suas casas e pomar; o qual, entre outras, da primeira mulher com que fora casado tinha uma filha de muito grande virtude, discrição, prudência e saber, da qual todos julgavam que pretendia casar com filho de algum conde. Esta, a quem deu Deus este talento, não o soube mal empregar na terra, mas, granjeando com as graças que Deus Ihe deu os tesouros do Céu, vendo quanta vaidade era tudo o do mundo , virando as costas a tudo o que dantes pretendia, determinou fazer vida penitente. Havia, então, em casa de seu pai, uma virtuosa mulher, natural de Braga ou Ponte de Lima, filha de pais honestos, a qual, sentindo que seu pai a queria casar, se saiu de sua casa escondidamente, vindo para esta ilha de S. Miguel em companhia de um Rodrigo Afonso, homem muito virtuoso e honrado, que trazia para esta terra uma sua sobrinha para a casar, por ser aqui morador. Chegando a Vila Franca esta Isabel Afonso, com a sobrinha deste homem, teve notícia de Maria de Jesus, filha de Jorge da Mota, que tinha deixado o mundo em sua vontade e queria ser religiosa, pelo que a ia muitas vezes visitar a casa de seu pai. Esta Isabel Afonso era muito espiritual e amiga de Deus, achando a Petronilha da Mota conforme a seu coração; tomou com ela muita amizade e tanto amor que quase todos os dias ia comunicar com ela, de modo que Jorge da Mota, pela ver tal e tão amiga de sua filha, e ambas em um modo de vida religiosa, a recolheu em casa para sua companhia.
Sua conversação de ambas era rezar e jejuar o mais do tempo a pão e água, visitar as igrejas a seus tempos vestidas de burel e andar descalças. Suas práticas todas eram em Deus e coisas de Deus, em tudo mortas ao mundo, de maneira que era grande edificação a quem as via. O Rodrigo Afonso, que trouxe a Isabel Afonso, era tão honrado, amigo de Deus, e homem de tanta verdade que foi o primeiro síndico que o mosteiro de Santo André de Vila Franca do Campo teve, de cuja boca não era nomeada esta Isabel Afonso, ou Maria dos Anjos , senão por sua filha e nesse lugar a tinha.
Com este alto propósito e celestial pensamento, a dita Maria de Jesus, filha de Jorge da Mota, e sua companheira Maria dos Anjos determinaram ir fazer vida santa e recolher-se em uma ermida de Santa Clara que estava na vila da Ponta Delgada, e uma noite se saíram de casa de seu pai para sua ermida de S. João, levando consigo, a dita Maria de Jesus e sua companheira Maria dos Anjos, quatro meninas suas irmãs, a mais velha das quais era de idade de nove anos, e as outras daí para baixo, dizendo a seu pai que havia de fazer aquela noite uma devação e queria ter as meninas consigo, tendo já ordenado fazer o que tinha em propósito, que era fazer convento de religiosas e servir a Deus nele.
Estando elas na ermida, sem ser seu pai sabedor de mais do que ela Ihe dizia, e não do que encobria, aquela mesma noite, dormindo ele e sua mulher em sua cama, sonharam ambos o seguinte. O pai chorou por sonhos, de modo que o espertou a mulher e perguntando-lhe que havia, disse: sonhava que me diziam — uma nuve levou as freiras —, porque assim Ihe chamavam já, pelo hábito que traziam e pelo propósito que tinham de o serem. Na mesma noite e hora que o marido acordou, tornou a mulher a dormir e, sonhando, chorou por sonhos da maneira que seu marido tinha feito; o qual, espertando-a e perguntando-lhe que havia, respondeu: sonhava que me diziam — as freiras fizeram como fez Santa CIara.
Maria de Jesus, na mesma noite, com sua companheira e quatro pequenas irmãs se saiu da ermida de S. João, caminhando de noite, por muita chuva e tempestade, secretamente, sem pessoa alguma o saber, com companhia honesta, por fora da Vila e caminhos desviados, por não serem sentidas, com tenção de irem ter à dita ermida de Santa Clara, da vila da Ponta Delgada; mas, como Deus que as encaminhava, determinava outra coisa e pô-las em outro lugar, chegando elas e a mais companhia a Vale de Cabaços, em direito da ermida de Nossa Senhora da Concepção, Ihe veio desejo a cada uma, em seu coração, de ficarem ali, sem nenhuma o saber da outra, nem o ousavam descobrir, esperando, se era obra de Deus, como foi, que cada uma o dissesse, porque uma dava obediência à outra nos tais casos, de maneira que queria uma que a outra fosse a primeira que falasse na sua ficada ali, porque a cada uma delas Ihe parecia que na sua vontade dentro Ihe diziam — aqui, aqui. Desceram então abaixo ao Vale já de madrugada e, entrando na Casa de Nossa Senhora, se acharam com todo o repouso, quietação, determinação e vontade de fazer ali sua habitação; e mandando chamar os oficiais da Câmara e Justiça da vila da Água do Pau, Ihe deram relação do seu intento, o que eles Ihe agradeceram, entendendo serem movidas da mão de Deus, e depois o fizeram a saber ao Capitão, que muito as favoreceu, como adiante direi.
Seu pai Jorge da Mota, com todos os mais parentes e amigos que nisso tinham razão, anojados pelo dia seguinte não achar suas filhas, por parte nenhuma onde as buscassem, cuidando serem idas para Lisboa, por ser partido aquela noite um navio do porto de Vila Franca, Ihe foram novas como estavam naquela ermida. E indo logo lá com alguns homens honrados que o acompanharam, tomou as meninas e mandou-as para casa. Depois trabalhou muito com Maria de Jesus e Maria dos Anjos que se tornassem, o que por nenhuma via pôde acabar, nem por bem nem por mal, nem com rogos nem com ameaças.
Dali a poucos dias, soando isto por toda a ilha, foi outra vez seu pai Jorge da Mota e os filhos que eram para isso, com pessoas honradas de Vila Franca e alguns padres de S.
Francisco, o Capitão Rui Gonçalves e o ouvidor do eclesiástico, com muitas pessoas nobres de algumas partes da ilha, a ver o que determinava Maria de Jesus e sua companheira. Mas, tanta foi a constância de seu propósito, que nem pai, nem irmãos, nem Capitão com sua justiça, nem o ouvidor da igreja, nem pessoas letradas, nem muita gente que naquele dia para isso se ajuntou, as puderam mover nem tirar do que tinham na vontade, e todas suas questões elas venciam, como quem tinha por mestre o Espírito Santo, que as ensinava, de modo que claro se viu ser obra do Mui Alto. E por fim de muita e grande porfia que com elas se teve, disse o Capitão a seu pai Jorge da Mota: — isto é obra de Deus; não trabalheis pola estorvar.
Partiram-se então todos para seus lugares e casas, ficando elas ambas na igreja de Nossa Senhora com muita alegria, onde estiveram seis meses , com tanta clausura como se fora dentro em mosteiro muito encerrado e amurado. A Câmara e povo daquela vila da Água do Pau as visitavam com muito amor e caridade, e fizeram à sua custa uma casa pequena em que se elas ambas recolheram com as quatro meninas, suas irmãs, que Maria de Jesus depois mandou vir, para todas juntas entrarem nela.
Acabada esta casa pelos moradores da vila da Água do Pau, a qual não tinha mais oficinas que a casinha, que agora é sancristia daquele oratório, e outra cerca pequena e estreita de pedra ensossa, tão grande como a mesma sancristia, tendo determinado de entrar nela uma véspera de Páscoa , escreveu Maria de Jesus a seu pai que Ihe levasse as quatro irmãs, para todas juntas entrarem. Mas, seu pai, por ser já perto da Páscoa, as não queria levar, fazendo conta que passada a festa as levaria. Foi grande o requerimento de Maria de Jesus que as levasse, porque, como entrassem, se havia de fechar a parede que não tinha porta; ao que disse seu pai que, quando as levasse, mandaria derribar a parede e a tornaria alevantar. Tornou outra vez Maria de Jesus a escrever que se não fossem as meninas não entrariam elas. Quando seu pai viu sua importunação, fez pergunta à mais pequena, que era de quatro anos, por nome Ana de São Miguel, pondo-lhe diante como sua irmã as mandava levar para entrarem naquela casa, e que estavam em véspera de Páscoa, se a queria ela antes ter em casa e comer folares e bolos, com outras palavras de meninos que Ihe pôs diante, dizendo mais que o que ela dissesse, isso havia de fazer. Respondeu a menina, com muita alegria, que antes queria ir servir a Nosso Senhor com sua irmã que ter aqueles mimos em casa de seu pai, aquela festa. Vendo o pai sua resposta, pareceu-lhe que era ensinada pelo Espírito Santo e ser assim vontade de Deus, pelo que as levou véspera de Páscoa, em que foram amanhecer a Vale de Cabaços, e à tarde, em que se acabou de telhar a casinha, entraram todas nela. A mais velha destas meninas se chamava Guiomar da Cruz, e as outras Catarina de São João, Maria de Santa Clara e Ana de São Miguel, os quais nomes Ihe tinham elas ambas já postos em casa de seu pai para quando fossem freiras, não havendo ainda determinação do que depois foi. Nestas coisas se exercitavam e as criavam, ensinando-lhes em casa do pai que quando fossem chamadas não respondessem senão por Deo Gratias. E assim foram costumadas, nem falavam de outra maneira. Recolhidas estas seis religiosas em tão estreita casa, viviam ali em muita penitência. E os oficiais da Câmara da vila da Água do Pau tinham cuidado delas, tirando eles mesmos aos domingos esmolas pelas portas para seu mantimento, afora a provisão que também Ihe mandava seu pai.
Daí a um mês, pouco mais ou menos, duas mulheres principais, ricas e honradas, filhas de João de Arruda da Costa, de Vila Franca do Campo, tendo prometido uma romaria à mesma ermida de Nossa Senhora da Concepção de Vale de Cabaços, tendo seu pai casada por cartas a mais velha em Portugal, com escritura feita, esperando pelo esposo cada dia, por horas e momentos, para a vir receber, chamada esta Isabel da Costa, que depois se chamou Isabel do Espírito Santo, e a outra sua irmã, Maria da Costa, que depois se chamou Maria da Trindade, determinando ambas cumprir a romaria e se tornarem logo para casa de seu pai, chegando à dita ermida de Nossa Senhora, antes que entrassem na igreja, disse Maria da Trindade a sua irmã, mulher segunda de Jorge da Mota: eu não me hei-de ir daqui por terra, nem por mar — não sabendo o que dizia, nem com pensamento de ficar, e, se soubera que havia de ficar, dali se tornaram sem cumprir a romaria. E, em pondo o primeiro pé dentro na igreja, Ihe começou o coração a dar grandes abalos ; entrando na capela, se pôs de geolhos para fazer oração, e nunca pôde rezar nem uma Avé-Maria, estando sempre suando de afrontada, não entendendo aquela diferença que achava em si, porfiando até quatro vezes, estando de geolhos, se podia dizer uma Avé-Maria, sem a poder dizer. E, estando o palratório junto com ela dentro na capela, mandou chamar três vezes a Petronilha da Mota, que já se chamava Maria de Jesus, e nunca foi, não desejando a dita Maria de Jesus senão fa!ar com ela, e uma com outra. Alevantou-se então Maria da Trindade e saindo-se fora da igreja para ver se achava algum lugar por onde a visse e Ihe falasse.
Tinham elas na mesma casa onde estavam uma cerca pequena, de oito ou nove côvados ao redor e quatro varas de medir, em alto, as três varas de pedra e a outra de silvado sobre aquela pedra; a qual parede era muito cerrada, sem nenhum buraco, senão um só, o qual foi achar Maria da Trindade para sua conversão , logo pegado com a igreja, em que não cabia mais que um olho, por onde na pequena cerca via andar as quatro irmãs meninas brincando, que haviam entrado com Maria de Jesus. E, chamando por uma que fosse chamar a dita Maria de Jesus, que estava ela ali e Ihe queria falar, três vezes a mandou chamar e de nenhuma veio, estando a dita Maria da Trindade sempre com o olho no buraco, esperando por ela; e tanto tardou que, de desconfiada dela vir, veio Maria de Jesus, não aonde ela estava, e pôs-se sobre o portal da porta da mesma casa que ia para a cerca, e Maria da Trindade sempre com o olho no buraco a ver o que ela fazia e dizia, a não querer vir aonde ela estava. Em se pondo Maria de Jesus espaço de abrir e cerrar uma mão, mudou Deus a vontade a Maria da Trindade com tanta força, dando-lhe o coração aquelas pancadas que dantes dava com grande suor e afrontamento, que chamou uma menina que Ihe chamasse Petronilha da Mota, que era Maria de Jesus, que a fosse tomar por cima da cerquinha pela banda do mar, pois não tinha porta, e por ali subiu, sem ninguém Ihe dar nenhuma ajuda de fora, nem de dentro. Quando Maria de Jesus a viu sobre a cerca, logo a foi receber. E vendo-a entrar, Isabel do Espírito Santo, sua irmã, fez o mesmo que ela, sem nunca querer obedecer a dez ou doze parentes, que foram e estavam com elas, dizendo a Isabel do Espírito Santo se estava casada, porque queria dar tão grande desgosto a seu pai.
Tornaram-se todos para a Vila Franca e, dando nova a seu pai, partiu ele daí a três dias para as tirar. Mas, porque aquela obra tinha Deus feito como Ele foi mais servido, vindo seu pai, Ihe disseram que não haviam de sair donde Nosso Senhor as metera, e com tanta constância perseveraram, que palavras de rogo, nem ameaças, por bem nem mal, as puderam tirar de seu propósito; o que vendo eles, disseram que ficasse a mais moça, e a mais velha, Isabel do Espírito Santo, saísse, pois a tinham já casada e no primeiro navio esperavam vir do Reino seu esposo, como veio. Respondeu ela que já estava desposada com outro Senhor, a que mais queria que a homem da terra, e que se fossem embora, que não havia de ir com eles.
Aqui acabou esta batalha; daí por diante começou de se ajuntar convento, visitadas todas as que iam por Deus, a exemplo da vocação das primeiras.
Dali a pouco tempo o Capitão da terra, Rui Gonçalves da Câmara, movido por sua devação e bom zelo, tomou cargo daquela casa de novas religiosas e foi seu padroeiro, mandando a Roma por bula para que fosse convento e mosteiro com seus privilégios, e que ele e sua mulher fossem padroeiros dele; e logo se moveu com mulher e casa e se foi assentar junto da dita ermida de Vale de Cabaços. Mandou ali vir muitos oficiais a fazer muros e oficinas, porque não havia mais que aquela que agora é sancristia e ele movido com toda a devação e amor de pai, andava sempre presente nas obras. Nove ou dez anos que naquele lugar esteve o convento junto, eles o sustentaram e mantiveram com sua fazenda, de pão e todo o mais necessário para a vida humana, sem antrevir pai nem outro parente nenhum delas.
Mas, por estar o mosteiro naquele lugar e sítio muito junto do mar, remoto de moradores e vizinhança, por causa e perigo dos franceses que ali podiam ir ter, requereram seus parentes as tirassem e mudassem daquele lugar. Partiu-se então o convento por meio e, sendo o Capitão falecido, a Capitoa D. Filipa levou para a vila da Ponta Delgada uma parte, e outra levaram primeiro seus pais e parentes para Vila Franca, onde eles fizeram mosteiro e está convento de religiosas da invocação de Santo André. E na cidade da Ponta Delgada está outro de Nossa Senhora da Esperança.
São todas as de Vila Franca da primeira regra de Santa Clara, pela qual causa, por não terem rendas, nem fazenda alguma em comum, nem em particular, e guardarem ao pé da letra a pobreza da regra, tomou o dito Capitão Rui Gonçalves da Câmara cargo delas e por sua devação as provia de todo o necessário. No qual modo de viver perseveraram vinte anos; e por a qualidade da terra o não sofrer e passarem muitas necessidades, por não haver na ilha quem pudesse suprir com sua fazenda o que o senhor dela podia, por ser muito rico e poderoso, enfermavam muitas e morriam, de modo que se temeu despovoar-se o mosteiro.
Então, por conselho de letrados e homens prudentes, determinaram buscar dispensação em algumas coisas, como em poderem ter renda em comum, e em outras asperezas, com que, por serem mulheres fracas e debilitadas, já não podiam. Mandaram então seus pais e parentes impetrar dispensacão a Roma e desta maneira vivem há mais de quarenta anos depois da dispensação, guardando em o mais a primeira regra de Santa Clara. Com o exemplo deste convento, que foi o primeiro das ilhas dos Açores, se fundaram depois pelas outras ilhas alguns, todos da ordem de Santa Clara.
Quando se dividiu o convento de Vale de Cabaços, foram dele para Vila Franca as religiosas seguintes: Maria de Jesus, abadessa; Maria dos Anjos, sua companheira; Isabel do Espírito Santo, Maria da Trindade, Helena da Cruz, Catarina do Salvador, Maria de Cristo, Catarina da Madre de Deus, Cecília do Redentor, Guiomar da Cruz, Maria de São João, estas todas professas. E as mais, noviças, eram: Catarina de São João, Maria de São Pedro, Maria de Santa Clara, Francisca de Cristo, Maria de São Lourenço, Maria de São Boaventura, Ana de São Miguel e Úrsula de Jesus, ambas meninas.
Ficaram em Vale de Cabaços Maria do Espírito Santo, presidente, Maria da Madre de Deus, Isabel dos Arcanjos, Clara de Jesus, Maria de Santo António, Inês de Santa Iria, Catarina da Concepção, professas. As noviças eram: Hierónima de São Paulo e Isabel do Espírito Santo, filhas naturais do Capitão Manuel da Câmara, e Águeda de Cristo.
Depois se acrescentou este garfo, que ficou neste mosteiro, com outras religiosas que entraram nele: que dali a anos, na era de mil e quinhentos e quarenta um domingo de Pascoela, vinte e três de Abril, pelo mesmo receio de franceses, deixaram o dito lugar e se passaram para o mosteiro da Esperança, que a Capitoa D. Filipa Ihe tinha feito na vila da Ponta Delgada, onde, chegando aquele mesmo domingo à tarde, foram recebidas de todo o povo mui honrada-mente, com grande festa e solene procissão, e logo se recolheram em seu convento ainda não de todo acabado, mas começado e feito um dormitório da banda do ponente e a crasta, e uma igreja de uma água, encostada à crasta da banda de dentro, que agora serve de cemitério, onde se enterram as religiosas que falecem.
As freiras professas que foram então e se mudaram de Vale de Cabaços, primeiras fundadoras do dito mosteiro da Esperança da vila da Ponta Delgada, foram: Maria do Espírito Santo, que era presidente no tal tempo , era filha de André Afonso da Praia e de sua mulher Violante Coelha; a segunda era Clara de Jesus, que antes se chamou Domingas Soares, filha de Francisco Soares, que muito tempo foi veador do Capitão Rui Gonçalves da Câmara e de D. Filipa, sua mulher, e com ele foi a África; a terceira, Inês de Santa Iria, muito virtuosa e de grande penitência, natural de Portugal, que se tomou por amor de Deus; a quarta, Maria da Madre de Deus; a quinta, Isabel dos Arcanjos, sua irmã, natural da vila de S. Sebastião da ilha Terceira, as quais agasalhou o Capitão Rui Gonçalves por amor de Deus, e por suas virtudes as fez fazer professas; a sexta, Maria de Santo António, mulher de grande virtude, filha do Abade de Moreira, irmão de Fernão de Anes, pai do licenciado Bartolomeu de Frias o qual foi ouvidor do eclesiástico nesta ilha; a sétima, Isabel de São Francisco, muito virtuosa, irmã de Maria Dias, mãe de Rui de Melo, a outra Catarina da Concepção, filha do ermitão de Vale de Cabaços, que perdeu o siso por muitos anos e à hora de sua morte o tornou a recuperar, confessando-se e comungando como se nunca o perdera.
As noviças, que em companhia destas foram e depois fizeram profissão na mesma casa da Esperança, eram quatro: a primeira, Águeda de Cristo, filha do licenciado Diogo de Vasconcelos e de Genebra Anes, sua mulher, irmã do melhor contrabaixa que houve nas ilhas dos Açores, chamado Diogo de Vasconcelos como seu pai, que foi muito tempo ouvidor do Capitão nesta ilha; a segunda, Isabel de Santiago; a terceira, Hierónima de São Paulo, ambas filhas naturais do Capitão Manuel da Câmara; a quarta, Maria de São João, filha de João Fernandes Raposo, por outro nome Alcalá. Também foi uma filha de Gaspar Ferreira, de extremada contralta, menina de dez anos, que faleceu moça, sem ser freira.
Tem ao presente o dito mosteiro de Santo André, da ordem de Santa Clara, de Vila Franca do Campo, quarenta e cinco freiras professas e oito noviças, e com as serventes e outras pessoas de serviço, serão oitenta pessoas.