Em companhia de Gonçalo Vaz Botelho, chamado o Grande, veio a esta ilha, por mandado de el-Rei e do Infante, Gonçalo de Teve Paym, francês, natural de Paris, filho de Gonçalo Dornelas Paim, capitão de el-Rei de França, que em umas guerras que o Rei teve com italianos, guardou e defendeu com grande esforço uma porta dos muros da dita cidade de Paris, sendo cometida dos imigos, com que não entraram nela; pelo que, aparecendo diante de El-Rei, que o mandou chamar depois desta vitória, lhe perguntou como se chamava; respondendo ele que seu nome era o capitão Gonçalo Dornelas Paym, lhe disse el-Rei: “chamo-vos eu Gonçalo de Teve, pois tivestes com tanto esforço as portas da minha cidade de Paris, por onde me defendestes de não entrarem meus imigos nela”. E daqui lhe ficou este apelido de Teve, a ele e a seus descendentes.
Gonçalo de Teve Paym, filho deste Gonçalo Dornelas Paim, vindo a esta ilha por mandado do Infante, de cuja casa, era, com grandes poderes para repartir e dar terras, e com cargo de almoxarife, foi o primeiro nela; onde o Capitão e ele, em nome do Rei, faziam as dadas das terras e a repartição delas. Teve dois filhos, sc., Pero de Teve e João de Teve, que por ser mais velho foi o segundo almoxarife, depois do falecimento de seu pai. O qual João de Teve casou com Isabel Manuel, filha de Manuel Afonso Pavão, o Velho, morador na vila de Água do Pau, da qual houve estes filhos: o primeiro, João de Teve, doctor e desembargador, de que não ficaram filhos; houve mais João de Teve, segundo almoxarife, uma filha chamada Guiomar de Teve, que foi mulher de André Gonçalves de Sampaio, de que não ficaram filhos; teve mais o dito João de Teve um filho, chamado Simão de Teve, que houve de sua mulher um só filho.
Houve Gonçalo de Teve, primeiro almoxarife, de sua mulher, a que não soube o nome, o segundo filho, chamado Pero de Teve, e irmão do dito João de Teve, ambos primos com-irmãos ou parentes muito chegados de António de Teve, tesoureiro-mor que foi no regno de Portugal, o qual Pero de Teve, segundo filho de Gonçalo de Teve, e que viveu na cidade, junto da Calheta, que tomou dele o nome, casou com Francisca de Mesas, da geração dos Mesas e Francos, irmãos da mulher de João Afonso, Cadimo de alcunha, que morou nos Biscoitos, junto de André Gonçalves de Sampaio, e irmão da mulher de Aires Lobo, filhas todas de Isabel Franca de Mesas; da qual houve o dito Pero de Teve estes filhos: o primeiro, Amador de Teve, que casou com Breatiz Roiz, filha de Pedro Álvares Benavides, de que houve um filho, chamado Gaspar de Teve, que por ser homem de grandes espíritos e muita discrição, foi capitão da companhia da guarda da fortaleza da cidade da Ponta Delgada, e agora é capitão de uma companhia, o qual casou com uma filha de Manuel Machado e de Lianor Ferreira, filha de Gaspar Ferreira, de quem tem alguns filhos.
O segundo filho de Pero de Teve se chamou Simão de Teve, que casou com uma filha de Gil Vaz, morador na Bretanha; o terceiro, Sebastião de Teve, casou com uma filha de Álvaro Pires, procurador do número, morador nos Biscoitos da Fajã, pai da mulher de Sebastião Luís, pai de Hierónimo Luís; o quarto Hierónimo de Teve, que faleceu solteiro. Teve mais Pero de Teve uma filha, chamada Francisca de Teve, mulher de António da Mota; outra, Isabel de Teve, freira no mosteiro da Esperança, da cidade da Ponta Delgada; e Ana de Teve, mulher de Sebastião Gonçalves, filho de Francisco Dias Caiado; e Guiomar de Teve, que casou com Rui Velho, filho de João Alvres do Olho, de que tem os filhos que disse na geração dos Velhos.
Além destes filhos, teve Gonçalo de Teve outro filho, chamado Simão de Teve, que casou com Catarina Borges, filha de Joanne Annes Colombreiro, morador em Vila Franca, onde morreram no dilúvio.
Veio também com o dito Gonçalo de Teve, primeiro almoxarife, por mandado de el-Rei e do Infante, a esta ilha de S. Miguel, por primeiro escrivão do almoxarifado, um seu irmão , chamado Pero Cordeiro, que morou em Vila Franca com sua mulher, da qual tinha quatro filhas muito formosas e virtuosas: uma casou com Gonçalo Vaz Andrinho, o Moço, filho de Gonçalo Vaz Botelho, da qual houve estes filhos: André Gonçalves de Sampaio, o Congro por alcunha, e a mulher de João de Betancor de Sá, fidalgo, e a mulher de Fernão de Macedo, também fidalgo, irmão do Capitão do Faial, como disse na geração de Gonçalo Vaz, o Grande. A segunda filha de Pero Cordeiro, chamada Lianor Cordeira, casou com Fernão Camelo, pai de Gaspar Camelo, fidalgo, e de Pero Camelo, e de Jorge Camelo e de Henrique Camelo, como direi na geração dos Camelos. A terceira filha de Pero Cordeiro, que se chamava Catarina Cordeira, casou com Vicente de Abreu, homem fidalgo, de Portugal, da qual houve um filho chamado Pero de Abreu, que por casar com uma irmã de Francisco Afonso, de Vila Franca, contra vontade de seu pai, o mandou caminho de Portugal, logo em casando, e lá faleceu. A quarta filha de Pero Cordeiro, chamada Maria Cordeira, casou com João Roiz, recebedor de el-Rei, que naquele tempo chamavam recebedores aos feitores; este era criado de el-Rei, homem de muita sorte; da qual houve um filho e duas filhas: o filho, Pero Roiz Cordeiro, casou com Catarina Correa, sexta filha de Martim Anes Furtado, de que teve os filhos que direi na geração dos Furtados. A primeira filha do feitor João Roiz casou com Sebastião Roiz Panchina, irmão de Pedreannes, Bernaldeannes, Johanne Annes e Jorge Vaz Panchinas, o qual Sebastião Roiz morou além da Calheta de Pero de Teve, na quintã onde agora mora seu sobrinho António Ledo, filho de Joanne Annes Panchina, casado com uma filha de João Roiz dos Alqueires, de que tem filhos e filhas, e irmão de Manuel de Crasto, solteiro, e de Leonel João, que casou com Catarina Anes, filha de Luís Galvão, de que tem duas filhas; irmão também de Simoa de Crasto, que casou com Miguel Martins, filho de João Álvares, o Examinado, da Lagoa, e de Catarina Martins, sua mulher, de que houve um filho, chamado Miguel Martins, clérigo bem entendido e bom cantor, que foi cura na cidade, e duas filhas, Lianor Leda, casada com um sobrinho de Baltazar de Armenteiros, castelhano, chamado Gaspar de Armenteiros, e a outra, Catarina Miguel, casada com Cristovão Cordeiro, filho de Cristovão Cordeiro, escrivão que foi da alfândega.
Houve Sebastião Roiz Panchina, de sua mulher, estes filhos: Sebastião Roiz, vigairo que foi dos Fenais e depois da Relva, termos da cidade, e uma filha, chamada Maria Cordeira, que casou com Roque Lopes, escrivão da correição, de que não houve filhos, e depois casou segunda vez com Nuno Barbosa da Silva, filho de Hector Barbosa da Silva, de que também não teve filhos. Houve Sebastião Roiz Panchina, de sua mulher, outro filho, chamado Cristovão Cordeiro, que foi escrivão da alfândega nesta ilha de S. Miguel e casou com Solanda Rodrigues de Benavides, de que houve estes filhos: o primeiro, João Roiz Cordeiro, que foi alcaide na cidade da Ponta Delgada e casou com Maria Luís, filha de Luís Martins e de Margarida Gonçalves, de que tem filhos e filhas; o segundo, Manuel Cordeiro de Sampaio, do hábito de Cristo, com trinta mil reis de tença, que agora é juiz do mar, homem de muita discrição e prudência e de altos espíritos, digno de grandes cargos, que casou com Mécia Nunes, filha do licenciado Gonçalo Nunes de Arês e de sua mulher, filha dum almoxarife da cidade de Angra, da ilha Terceira, dos principais dela. O terceiro filho de Cristovão Cordeiro, chamado como seu pai, é casado com Catarina Miguel, como atrás disse. O quarto, Pedro Alvres de Benavides, que foi para as Índias de Castela. O quinto, chamado André Cordeiro, casado com Maria de Matos, filha de Baltazar Gonçalves Ramires e de Margarida de Matos, filha de Hierónimo do Quental. O sexto, António de Benevides, letrado em leis, de grande habilidade, o qual, pelejando por defensão da pátria, foi morto na batalha naval que houve entre as armadas de el-Rei Filipe e dos cossairos, que vieram da Terceira ao porto da cidade da Ponta Delgada. O sétimo, chamado Mateus Cordeiro, é ainda solteiro; todos homens de grandes espíritos, e outros que faleceram.
Houve mais João Roiz, feitor, de sua mulher Maria Cordeira, outra filha que casou com Jordão Jácome Raposo, de que houve os filhos que direi na geração de Rui Vaz do Tracto Raposo .
Por falecimento do dito feitor João Roiz, ficou sua mulher, Maria Cordeira, viúva, e casou segunda vez com Jorge da Mota, filho de Fernão da Mota, honrado e rico, natural e cidadão do Porto, parente de D. Jerónimo Dosouro , bispo do Algarve, o qual se aposentou em Vila Franca e tinha dois filhos: Jorge da Mota e Pero da Mota, os quais estando ambos com seu pai rico, casou Jorge da Mota com a dita Maria Cordeira, desgostando seu pai disso, só por ser ela viúva; pelo que se tornou com o filho Pero da Mota para o Porto.
Jorge da Mota, que cá ficou, foi um homem muito honrado, virtuoso e discreto, e era cavaleiro do hábito de Aviz; o qual houve da dita Maria Cordeira, sua mulher, três filhos e uma filha: o primeiro, António da Mota, casou na cidade da Ponta Delgada com Francisca de Teive, filha de Pero de Teive, de que houve os filhos que se dirão em outra parte; o segundo filho de Jorge da Mota e de Maria Cordeira, chamado Simão da Mota, casou com Isabel Afonso, filha de João Afonso da Costa, pai de Jorge Afonso Quoqualegres, do Nordeste, de que houve alguns filhos. Depois casou segunda vez com uma filha de João Roiz, dos Fenais da Maia, filho de Fernão Roiz, da Lagoa, de que houve dois filhos: Frei Jorge da Mota e Frei Manuel, que foram bons religiosos, pregadores da ordem de S. Domingos, e tiveram alguns cargos honrosos na dita ordem. Depois casou a terceira vez com Caterina Ferros, viúva, que fora mulher de Francisco da Costa, filho de Manuel do Porto, da cidade da Ponta Delgada, da qual não sei se houve alguns filhos.
Outro filho, terceiro, houve Jorge da Mota, chamado Cristovão da Mota, clérigo e beneficiado em Vila Franca, que com sua liberal condição sustentou sempre, enquanto viveu, uma casa de muitos hóspedes.
A filha do dito Jorge da Mota, chamada Maria de Jesus, foi a primeira freira que houve nesta ilha de S. Miguel e em todas as ilhas dos Açores, que depois do dilúvio de Vila Franca se foi meter em uma ermida de Nossa Senhora de Vale de Cabaços, da vila de Água do Pau, levando consigo algumas suas meias irmãs, que seu pai depois teve de outra mulher com quem casou, onde estiveram guardando a regra da religião inteiramente e fazendo penitência em um pequeno mosteiro que ali se fez; e daí se mudaram para outro que lhe fizeram em Vila Franca, onde ela acabou santamente, como a seu tempo direi; e foi em seu tempo a mais discreta mulher que houve nesta ilha, acompanhada de muitas virtudes.
Depois de falecida Maria Cordeira, casou Jorge da Mota com Bertoleza da Costa, filha de João de Arruda da Costa, da qual houve os filhos e filhas que tenho dito na geração de João Gonçalves Botelho, filho de Gonçalo Vaz, o Grande.
João Roiz Cordeiro, pai de Pero Roiz Cordeiro, seu nome próprio era João Roiz de Sousa, e foi postiço este nome por certos inconvenientes que não fazem a caso para nossa história; porém devia ser parente dos Cordeiros. Os quais Cordeiros têm por armas cinco cordeiros de prata em campo verde e uma águia por timbre.