Afora o gado que, por mandado de el-Rei e do Infante D. Henrique, foi deitado nesta ilha de São Miguel, logo no princípio de seu descobrimento, trouxeram a ela, da ilha de Santa Maria, sua vizinha, outro muito: porcos, de que se inçou; e antes de virem bois, lavravam com bestas asnais, como fazia um Luís Femandes da Costa, pai de Manuel da Costa, e outros muitos. E foi tanta a multiplicação do gado vacaril e porcos, que durou por tempos não poderem desinçar os touros e vacas e porcos bravos, carneiros e cabras, e eram tantos os porcos, que danavam os pastos ao gado vacum com seu fossar; pelo que os mais dos moradores eram fragueiros, forçosos e ligeiros, por causa do exercício que tinham de ir a montear e caçar este gado diverso, dos quais contarei alguns que alcancei saber.
Um Afonso Soeiro, irmão de Leonor Soeira, primeira mulher de Garcia Roiz, e Bertolameu Roiz, pai de Baltasar Roiz, que morava além de Santa Clara, da Ponta Delgada, e um Francisco Anes, Moreão de alcunha, e Bertolameu Afonso Pereira, de alcunha o Rato, indo à serra, dentro nas Sete Cidades, a montear e fazer carnes, com Baltasar Vaz de Sousa, porque no seu Telhal, que tinha acima da Ribeira Grande, gastava muitas carnes, Ihe aconteceu que, andando eles dentro nas Sete Cidades, onde havia muito gado bravo e sem ferro, nem sinal, acharam um bravo touro e foram para o matar, o qual tomou a Baltasar Vaz nos cornos e entre eles o trouxe um grande espaço, abarcando-se ele tão fortemente com ele, pelo pescoço, que nunca o touro o pôde matar, nem ferir, somente o pisou e tratou muito mal em uma barreira, onde deu com ele. E Francisco Anes, de riba da rocha, quisera tirar ao touro com uma meia lança que levava, mas Baltasar Vaz de Sousa Ihe disse que não atirasse, que o erraria e mataria a ele, e que o encomendasse a Deus e o deixasse, que não houvesse medo que o touro o matasse. Indo assim por uma grota abaixo o touro com ele nos cornos, lançou mão de um louro, que estava atravessado na grota, e ficou ali dependurado nele, e o touro passou adiante seu caminho. E ele ficou tão pisado e mal aviado que o tomaram os companheiros e o levaram à vila da Ribeira Grande onde morava, e o sangraram duas ou três vezes e o envolveram em um lançol molhado em vinho; e depois de são, ele e um mourisco que tinha, com um cão de filha e um cachorro de rodeio e outros cães, se tornou em busca do touro às Sete Cidades e o perseguiu tanto com os cães, que se acolheu o touro a uma alagoa grande que dentro está, chamada a alagoa Azul, por ser muito funda. Baltasar Vaz se deitou a nado, a ele, com um sedenho na mão, e se pôs em cima do pescoço do touro, escanchado, com as mãos pegadas nos cornos, e tanto andou sobre ele, que de cansado se Ihe abriu o cesso e enchendo-se de água se afogou, que é propriedade ou qualidade das bestas, sc., cavalos e asnos e bois, afogarem-se por detrás, pelo cesso; como o porco com as unhas se degola nadando pela garganta, e o homem se afoga pela boca e ventas. Depois de afogado o touro, Ihe deitou o sedenho nos cornos, atando-o com ele, e o chegou à borda de água; e então Ihe acudiu o mouro e outra gente que andava dentro na serra, e Iho ajudaram a esfolar e esquartejar, e o levou em bestas, caminho da Ribeira Grande, onde ele era morador.
O mesmo Baltasar Vaz e Vasco Fernandes, moradores no Telhal, da Ribeira Grande, tendo notícia que andava acima do Telhal, onde eles moravam, onde se chama o Cortado, um grande touro bravo, determinaram de o ir tomar e, indo à serra, o viram. Disse então Baltasar Vaz a Vasco Fernandes que se fosse pôr à passagem da pedreira, e que ele o acossaria e iria com ele e ali o decepariam ou matariam com uma chuça que levava Vasco Fernandes; o qual Vasco Fernandes se foi pôr naquela passagem, indo Baltasar Vaz sempre após o touro, que não foi ter aonde estava Vasco Fernandes, mas a outra passagem do pico das Mós, seguindo-o sempre Baltasar Vaz, e ali escorregando o touro caiu, e Baltasar Vaz, quando o viu caído, se foi a ele e o socornou e afogou com terra que Ihe achegava para a boca.
Estando nisto, chegou Vasco Fernandes, que se veio do passo onde estava, por tardar o touro e não ir ter com ele onde esperava, suspeitando que havia de ir ter à outra passagem, debaixo do pico das Mós; foi-se à dita passagem, onde achado o rasto do touro e de Baltasar Vaz que eram já passados, seguindo-os, viu o touro caído e Baltasar Vaz em cima dele, tendo-o socornado e afogando- o com terra, e disse-lhe que o não acabasse de afogar, sem que primeiro o sangrassem; e assim o fizeram e ali o acabaram de matar. Depois de esfolado, estando-o partindo, sentiram vir gente que vinham ao mato cortar e dar rama aos bois, e porque não soubesse o Capitão que eles andavam a monte, pelo ter defendido com penas de dinheiro e degredo, partiram o touro pelo meio, os quartos trazeiros a uma banda e os dianteiros a outra; tomou Baltasar Vaz às costas os trazeiros e o couro, e Vasco Fernandes os dianteiros, e assim o trouxeram de sobre o Cavouco, onde o mataram, até suas casas, que tinham no Telhal, perto de uma légua dali.
Também outro dia, indo ambos a monte, viram estar umas novilhas que determinaram matar; e fazendo Vasco Fernandes um tiro com uma chuça a uma delas, camarinha, pintada de branco e vermelho, fugiu a novilha e de caminho, indo após ela, decepou duas novilhas das que ficaram; e depois de haver buscado a camarinha, achando só a haste da chuça, que parece que passando ela entre umas árvores, embaraçando-se com ela nelas, a quebrou e deixou ali; e, passando adiante, nunca a puderam achar, nem morta, nem viva. Depois de muito buscada, voltando onde deixaram as outras duas novilhas, as esfolaram e trouxeram cada um a sua às costas, para casa, trazendo Baltasar Vaz mais os dois couros com a sua novilha, em que levava avantagem ao Vasco Fernandes. Tornando a montear no mesmo lugar, daí a um ano, foram dar com a própria novilha camarinha e, indo após ela, a mataram e acharam-lhe a costura soldada por onde Ihe deram com a chuça no couro, e logo dentro outra costura no bucho, no meio do qual estava o ferro da chuça, amolado e luzente, como que se então saíra do escamel da mão do barbeiro.
Um Pero Ribeiro, natural do Nordeste, estando com um Fernandeanes, morador na ribeira do Salto, entrando um dia no curral, onde estava o gado vacum encurralado, uma vaca se enviou a ele e Ihe deu uma encontrada grande na barriga, sem o fazer mover, nem mudar para parte nenhuma. Vendo ele isto, disse assim: dessa maneira sois vós; prometo-vos que vos hei-de ordenhar como cabra. Tomou-a então por uma perna e metendo-a na sua curva dele, ali a teve mão, sem ela mais bolir, e a esteve ordenhando como quem ordenha uma cabra. E a um touro que na ribeira do Salto, no pico Mocho, se vinha às novidades, sem ousar alguém aparecer diante, ele o tomou pelo rabo e Ihe deu tanta pancada que nunca mais prestou.
Este mesmo Pero Ribeiro, indo o corregedor fazer correição ao Nordeste e achando-o culpado, o quisera prender. Indo ele fugindo à justiça, vendo estar por debaixo de um granel um buraco por onde entrava um porco, se meteu por ele e, saindo pela outra banda, acolheu-se a uma ermida de Nossa Senhora de Nazaré. Indo lá o corregedor, Ihe perguntou como coubera por tão pequeno buraco, sendo homem tão grande, respondeu ele: se vossa mercê chegara mais cedo, vira o granel estar ainda tremendo, porque todo o levava eu às costas. Era grande de corpo e alevantava uma grande âncora até os peitos. Comia, só a um jantar ou ceia, uma cabra, por grande que fosse, e esfolando-a com os dentes, sem mais outra ferramenta.
Este Pero Ribeiro foi com o Capitão Manuel da Câmara a Cabo de Gué, e, quando tomaram a vila, tomou ele um montante nas mãos e matou tantos mouros que fez um bardo antre si e eles, tão grande que quase o não podiam passar e chegar a ele; e, vendo-se cansado, sem poder mais pelejar, disse aos contrairos: ora cães, comei-me agora e ali o mataram.
Houve nesta ilha um João Lopes dos Mosteiros, por morar no lugar deste nome, pai de João Lopes, que foi meirinho muitos anos, o qual teve tantas forças que, andando debulhando junto de uma rocha com uma cobra de gado e tirando-se o tamueiro do mourão, começaram as reses a cair pela rocha abaixo; arremeteu ele e pegou na que andava no mourão e fazendo finca-pé, teve todo o gado, estando já algumas penduradas na rocha, e se afogaram uma ou duas. Se um carro ia com dois bois, carregado, e por alguma subida cansava algum deles, o desapunha e no seu lugar com o outro subia o carro.
Tomava qualquer boi, e, pelo pé ou pelo corno, o fazia estar quedo.
Também seu filho, João Lopes, meirinho, e outro, Manuel Lopes, eram de grandes forças; e uma filha sua, chamada Maria Lopes, muito virtuosa e honrada, casada com Manuel de Oliveira, nobre e rico, é de tanta força, que uma mó que havia mister dois homens para a tirar e pôr na atafona, ela a tomava, metendo o braço pelo olho da mó e a tirava e tornava a pôr, sem nenhuma ajuda, mui facilmente. Também tomava qualquer boi ou touro pelo corno ou perna e o fazia estar quedo.
E seu pai, João Lopes, no porto dos Mosteiros, tomou às costas um quarteiro de trigo, em dois sacos, e uma tarrafa cheia de peixe, e levou tudo para sua casa, caminho que passava de légua; e assim trazia qualquer boi ou vaca morta, da serra, como se fosse uma cabra. Tomava também um asno pelas mãos, com uma mão, e com outra, pelos pés, sem mais o atar, e, pondo-lhe a cabeça na barriga, o alevantava às costas e levava para onde queria; e alevantava outros mores pesos.
João do Monte, o Velho, filho de João de Piamonte, da vila da Ribeira Grande, tomava uma mó de engenho de pastel e a carregava só, sem ajuda de outrem, em cima de um carro.
Um Belchior Lucas, morador na vila da Alagoa, tem tanta força que, quando Ihe cansa um boi, serve em seu lugar por ele.
Baltasar Roiz de Sousa, que morava a Santa Clara, junto da cidade da Ponta Delgada, tomando qualquer touro pelo corno e, com a outra mão, pelo queixo, o derribava. Este mesmo, vendo em uma rua da dita cidade arrancar dois homens, não levando ele espada, arremeteu a um cão que viu e tomando-o por uma perna, esgrimindo com ele entre os que pelejavam, os apartou logo com esta arma.
O mesmo Baltasar Roiz de Sousa, trazendo-lhe um homem honrado, seu amigo, a casa um seu mouro que Ihe havia fugido, rogando-lhe que o não castigasse por aquela vez, por amor dele, prometeu que assim o faria, dizendo ao mouro que se mais fugia o havia de açoitar cruelmente. Resmungando o mouro, Ihe mandou que se calasse, senão que o açoitaria. E dizendo o mouro: si, açoitar como afirmando que o não podia fazer, arremeteu a ele e tomando-o com as mãos pela barriga, o deitou no chão, dando-he alguns coices. Acudindo-lhe então os que com ele estavam jogando e folgando, viram correr muito sangue da barriga do mouro, que Ihe acharam aberta, com as tripas fora, pelo lugar por onde o senhor o tomou com as mãos, com sua muita força.
Este mesmo, prendendo o ouvidor do Capitão, André Fernandes Fafes, a seu irmão Pero Roiz, que andava em um arruído na praça, fazendo com uma partezana grandes finezas, vendo preso seu irmão, com a capa e espada que trazia, fez tal caminho pela gente que andava no arruído, que chegou onde o ouvidor o tinha preso e Iho tirou das mãos. E, sendo ambos somente, se defenderam mais de uma hora, até que Pero Roiz segunda vez se pôs nas mãos do ouvidor, obedecendo à justiça, e Baltasar Roiz o fez soltar outra vez; em a qual envolta, achando-se o ouvidor ferido no rosto, deu um brado, que da parte de el-Rei o prendessem, e toda a justiça, com mais de duzentos homens que ali se acharam, os não puderam prender e se foram para suas casas. O ouvidor o acusava que ele o ferira, e ele defendendo-se, entre outros artigos em sua defesa, fez um em que dizia ser homem de tanta força que, ainda que quisera dar pequeno golpe, não pudera, por onde se via claro que o mesmo ouvidor se ferira nas guardas da sua espada.
Vindo ele um dia de pescar e estando para jantar, Ihe deram aviso que o ouvidor, com toda a justiça e muita gente, se faziam prestes para o prenderem; perguntando ele se iam já e dizendo-Ihe que não, se pôs a jantar mui quieto, pondo todavia uma espia que Ihe desse sinal.
Estando comendo, avisado que já iam, se pôs a cavalo com muita desenvoltura, tomando uma lança em uma mão e adarga na outra; e em vez de acolher à serra, se foi passeando para a cidade e chegando uma carreira de cavalo de Santa Clara, chegava a justiça, com mais de cem pessoas, à mesma ermida. Enristou ele então a lança, batendo as pernas ao cavalo, com grande brado que se guardassem, e, arredando-se todos da grande fúria que levava, se acolheu à dita ermida.
Estando em sua casa, sendo ainda mancebo, foi ter com ele Lopo Cabral de Melo, grande cavaleiro, para ver um seu cavalo, bom ginete, mas desenfreado; e cavalgando nele em um sarrado detrás de suas casas, o botava a uma mão e à outra, com muito ar e desenvoltura; mas, correndo uma carreira, o não pôde parar, e vendo que o cavalo se ia meter entre as casas, se botou fora da sela, quase ficando como afrontado disso. Então cavalgou Baltasar Roiz e, correndo, fez o cavalo outro tanto com ele, e não ousando de tirar rijo pelo freio, receando de o quebrar, abaixando-se, o tomou pela barbela e tirou com tanta força, que pôs o rosto do cavalo na sua coxa e o fez estar quase de todo quedo.
Também em uns sarrados abaixo da Serra Gorda, tomou um poldro, que ia a quatro anos, muito bravo e furioso, e com uma corda o teve sem bulir pé, nem mão, o que muitos homens juntos não puderam fazer.
Apostando ele com um seu vizinho de cortar de um golpe um cão grande de filha , pelo meio, o cortou pelo lombo, ficando quase em dois, pegado somente pelo couro da barriga.
Cortava também, de um golpe, um porco grande, dependurado, pelo meio; e, uma vez, tomou um burro e o pôs além de uma parede, pela não derribar o almocreve que por ali passava.
Também Ihe viram quebrar com as mãos duas ferraduras juntas e alevantar pelos pentes uma pipa de vinho. E, abaixo de sua casa, estando cinco ou seis homens sem poder tirar uma égua de uma rilheira de carro, muito funda com as chuvas, onde caíra, junto da rocha, ele só, fazendo uma cova para afirmar os pés, a tomou pela cabeça e botou fora, chamando àqueles homens borrecas .
Indo o mesmo Baltasar Roiz ao lugar dos Mosteiros, sobre um cavalo, ao longo de um grotilhão, quebrou a terra com ele, e deitando-se fora da sela, caiu o cavalo em baixo, onde ele desceu; e, metendo-se debaixo dele, o alevantou e pôs fora do grotilhão, selado e enfreiado como estava. Teve um irmão chamado Pero Roiz , mui valente e de grandes forças; como tem também dois filhos, Pero Roiz de Sousa e Brás Coelho, mui esforçados, forçosos e animosos. E seu pai, chamado Bartolomeu Roiz, também teve as mesmas forças e valentia, o qual, indo a montear à serra, tomava uma vaca e, matando-a, Ihe tirava as tripas fora e levava só, às costas, grande espaço, até achar lugar limpo onde a pudesse esfolar e esquartejar.
Na freguesia da Bretanha, houve um mancebo, chamado o Casco, que levava às costas vinte alqueires de trigo.
Um João Teixeira, da vila da Ribeira Grande, foi de grandes forças; o qual, estando uma vez para tomar uma novilha de dois anos, muito brava, para debulhar, e não querendo ela ir à cobra, disse ele aos que ali estavam: — ora, deixai-me com ela, que eu vo-la trarei —. Foi-se a ela e tomando-a em peso nos braços, como se fora uma criança, a levou à eira, onde a meteu na cobra.
Seu filho, Bartolomeu Teixeira, também foi tão forçoso que, levando uma vez um carro de lenha e vendo um dos bois fraco, o tirou dos canzis, e tomando a canga nos braços, com o outro boi que ficou, tirou o carro por um arrebentão e ladeira acima. E saindo-se-lhe uma vez o eixo de um carro, carregado de lenha, dos coucões, ele só, alevantou o carro pelo arrecavem , por detrás, e outro Ihe tornou a meter o rodeiro nos coucões. Também era de tanta força que nos Biscoitos, de Rabo de Peixe, quebrava qualquer barra, por grande e grossa que fosse, metendo-a em rocha forte. Tendo um boi tachoso, que não queria ir à canga, como ele desejava, o tomou pelos cornos e de tal maneira Ihe pôs as mãos, com tão grande força, que Ihe desarreigou um corno. Correndo os touros na praça da Ribeira Grande, um dia de festa, saltou um touro o palanque, e indo fugindo pela ponte, por onde o Bartolomeu Teixeira vinha, vendo o touro junto de si, deixou cair a capa e desviando-se dele, lançou mão do rabo, e depois de uma perna, e ali o teve quedo, até que veio gente, que o tornaram a levar ao corro . Este homem ao presente é vivo e, ainda que muito velho, não perdeu muita parte das forças.
Um Nuno Vaz, da Ribeira Grande, era de tanta força que, por grande que o touro fosse, se Ihe lançava mão do corno, tinha mão nele e, tomando-o com a outra mão pela barba, o derribava. O mesmo fazia Manuel Roiz, o Potás.
Um Francisco Gonçalves, lavrador, da governança da vila do Nordeste, era tão forçoso que indo uma vez com um carro pelo espigão do porto da dita vila abaixo, que é muito íngreme e temeroso, por ter rocha mui alta de ambas as bandas, quebrando-lhe o canzil da canga a um boi e não tendo com que o remediar, se pôs em lugar do boi solto, ajudando ao outro, e assim levou o mesmo carro, carregado com um moio de trigo, abaixo ao porto — que não parecerá tanto a quem o ouvir, quanto a quem souber aquele dificultoso caminho Aires Jácome Correia é homem de tão grandes forças e esforço que, acendendo-se o fogo no rio de Lisboa, em um galeão de el-Rei, que tinha duas naus da Índia, uma de uma parte e outra da outra banda, em que se houvera de apegar o mesmo fogo e arder tudo em cuja companhia ele fora da ilha Terceira, encarregado por João da Silva do Canto, acudiu ele em um batelão e, desamarrando o galeão, o apartou das naus da Índia e Ihe valeu com Ihe cortar as varandas e obras mortas do castelo de avante, com que se salvou ele e as naus da Índia, e com pouco custo se tornou a consertar; ficando Aires Jácome escaldado pelos lombos, do alcatrão que derretido, de riba das obras mortas, Ihe caiu pelo pescoço abaixo, de que ficou assinalado pelas costas, com uma malha branca na carne.
Cristóvão Luís, filho de Pero Luís, morador na vila de Água do Pau, foi extremado cavaleiro e teve tão grande força que atirava com um dardo, tanto como uma besta tira uma seta, ou mais.