Apenas como referência, publicamos aqui o texto sobre a anona da Madeira, inserida no livro "Produtos Tradicionais Portugueses".
Particularidade
Fruto subtropical, exótico, produzido na Madeira, de sabor característico e
muito agradável.
Descrição
Trata-se da espécie Anona cherimolia Mill., cujos frutos são volumosos, de
epiderme lisa (anona lisa) ou escamosa (anona de escamas). Os frutos lisos
possuem casca fina, com auréolas em forma de U, sem relevo; a polpa é condensada,
feculenta, dura e doce, com poucas sementes. Os frutos escamosos
têm casca grossa, com auréolas mais profundas e bordos relevados; a polpa é
sumarenta, branca, mole e bastante doce, de excelente qualidade. As sementes
de cor preta dispõem-se na polpa em número variável com o tamanho e tipo
de fruto. É um fruto muito apreciado pela população local e por todos os que
visitam a ilha.
História
A espécie Anona cherimolia Mill. é originária do Peru e Nova Granada. C. A.
Menezes refere que se trata de uma árvore de fruto que existe cultivada desde
remota data em muitas localidades da costa Sul da Madeira. A anoneira terá
sido introduzida na ilha da Madeira cerca de 1600, por madeirenses retornados
do Peru, de onde a planta é originária. São várias as referências documentadas sobre a existência da espécie Anona cherimolia Mill. na Madeira. Em 1897,
M. Grabham escreve no Journal of the Jamaica Agricultural Society: «...
many of the estates on the warm southern slopes of the island, formely
covered with vineyards, have now been systematically planted with cherimoya.
The fruits vary in weight between three and eight pounds, excepcionally
large ones may reach 16 pounds and over...». Ainda em relação à
excelência das características da Anona da Madeira, Sarmento escreve:
«... Percorrendo a obra imensa do botânico e horticultor George Dom, em
quatro grossos volumes — General History of the Dichlamydeous Plants
— onde são descritas 47 espécies de género Anona e algumas das variedades,
não se encontra nenhuma que possa coadunar-se às que pelas circunstâncias
privilegiadas do nosso clima, se aperfeiçoaram, sobrepujando todas as
outras...» e «... Em parte alguma, porém, encontrou o seu óptimo proporcionando-
lhe as melhores condições para a vida evolutiva, como na ilha da
Madeira que lhe deu luz, calor, terreno e humidade, que mais ambicionava
no conjunto...».
A posição da Madeira nas grandes rotas do comércio marítimo explica o
tráfego, sempre considerável, do porto do Funchal, onde aportavam inúmeras
embarcações que vinham buscar produtos que se destinavam aos mercados
flamengos e diversos portos do Mediterrâneo. Há referências datadas do
início do século XX sobre exportação de Anonas para Lisboa e Londres. No
n.o 2 do Boletim da JNF é publicado o «Movimento Comercial de Frutas da
Ilha da Madeira» (Janeiro e Fevereiro de 1941) que indica valores de expedição
de Anona, para o continente português, que rondam os 800 kg.
Uso
Pode ser consumida às refeições como sobremesa, ou a qualquer outra hora
do dia. É utilizada no fabrico de licores e na doçaria.
Saber Fazer
A cultura da anoneira pode ir até aos 550 m de altitude na costa Sul e até aos
280 m na costa Norte da ilha. Esta planta propaga-se por semente sendo, no
entanto, aconselhável proceder à enxertia para que se consiga uma
frutificação precoce e frutos de melhor qualidade. Na plantação utiliza-se um
compasso de 5 x 4 m. Os frutos devem ser colhidos ainda verdes porque se destacam
com facilidade quando maduros. Trata-se de um fruto sensível que deve
ser manuseado com cuidado.
Produção
Produzida exclusivamente na ilha da Madeira, nos termos do Despacho
n.o 212/98, da Secretaria Regional de Agricultura, Florestas e Pescas, de 08/09,
publicado no Jornal Oficial da RAM, 2.a série, n.o 178, de 16/09/98. Reconhece
Anona da Madeira como Denominação de Origem. O estatuto de Organismo de
Controlo foi reconhecido à Comissão Técnica de Controlo e Certificação de
Produtos Agrícolas e de Géneros Alimentícios da Região Autónoma da Madeira.
As anoneiras novas produzem cerca de 100 a 200 frutos por árvore, enquanto
as adultas podem atingir os 1000 frutos por árvore. As produções regionais de
Anona rondam as 850 toneladas (produção estimada em 1991).
In: Produtos Tradicionais Portugueses - Vol 2
Direcção-Geral de Desenvolvimento Rural
Lisboa 2001