maracujá florMARACUJÁ  Passiflora edulis

O maracujá vulgar ou do Brasil, também conhecido nalgumas ilhas dos Açores por maracujaleiro, é uma planta da família das Passi-floraceas ou Passifloreas, género Passiflora e espécie P. edulis, Sims. A planta é uma trepadeira lenhosa, vigorosa, com folhas trilobadas, com lobos muito marcados, e serradas. As flores são brancas, com frequência raiadas de púrpura, com os segmentos da coroa quase tão compridos corno as pétalas.

O fruto é oblongo-globoso, do tamanho aproximado de um ovo de galinha, de côr roxo-Violáeeo na maturação, com invólucro externo duro, mas fácil de cortar, com 2 a 3 mins. de grossura. Tem muitas sementes escuras, ovais e não superiores a 2 mms., situadas no interior polposo e suculento, um pouco acidulo. As sementes têm um arilo esbranquiçado e translúcido e estão inseridas ao longo de um eixo mediano e, lateralmente, nas paredes da cavidade interna, dividida em três carpelos.

Há outras espécies do género Passiflora, produtoras de frutos comestíveis, as quais, como o maracujá, são conhecidas pelo nome genérico de Passifioras. Citemos, por exemplo, a P. quadrangularis, cujo fruto ê muito maior—o maior do género—e a P. laurifolia, variedade linifolia, com fruto também do tamanho de um ovo de galinha, amarelo quando maduro

Esta última variedade, é, por alguns apreciadores, considerada melhor do que a P. edulis, pelo facto do pericarpo ser mais delgado e a polpa mais aromática, segundo afirmam. Julgamos, porém, que o aroma do nosso maracujá é mais delicado. O P. quadrangularis costuma ser consumido com vinho da Madeira ou com vinho branco, emquanto o P. laurifolia se emprega especialmente como refresco.

Poderemos ainda citar a P. ligularis, A. de Juss., com frutos . maiores do que o maracujá, de côr castanho-avermelhada ou amarela e a P. mollissima, Bailey e P. manicata, Pers., também conhecidas por Tacso-nia, cujos frutos têm aplicação semeihante à do maracujá. A P, mollissima vai bem nos Açores e até no clima do continente português, e supomos tratar-se do «maracujá de São Tomé ou amarelo», como ê conhecido em São. Miguel.

O maracujá é originário da América sub-tropical, sobretudo da Argentina e do Brasil, onde vegeta com extraordinária facilidade e exuberância própria das plantas da flora indígena daquelas paragens. E, porém, cultivado em diferentes partes do globo, podendo dizer-se que invadiu todas as regiões tropicais e sub-tropicais, chegando a sua cultura a tomar, nalguns países, grande desenvolvimento e apreciável interesse económico. Na Nova Zelândia e Austrália, tem sido aproveitado largamente, com feição industrial.

Sobre a sua introdução nos Açores nada sabemos de concreto. É natural que tenha sido para aqui trazido como tantas outras espécies exóticas, numa ânsia de tudo experimentar neste meio, nos tempos já recuados em que as naus vinham tomar aguada e ventos de feição a estas ilhas.

O maracujá, embora espontâneo na sua pátria de origem e naquelas terras de clima onde se adaptou facilmente, tem   merecido, nalguns países cuidados especiais, próprios das culturas intensivas.

Teme as geadas e os ventos e, portanto, tem fraco crescimento no inverno. Nos Açores, a não ser em condições de protecção excepecionais, comporta-se como planta de folha caduca, mas, por exemplo, na Austrália, a planta conserva-se em vegetação durante os meses frios de inverno.

Neste Arquipélago, desenvolve-se e frutifica muito bem. Os frutos atingem excelente maturação e adquirem perfume muito delicado. Não sabemos qual o seu valor sápido, quando comparados com os frutos produzidos na América do Sul, mas não receamos afirmar que o nosso maracujá pode enfileirar entre os frutos de sabor e perfume mais delicado.

Em todas as ilhas existe esta planta, quer cultivada, quer espontânea—abandonada e em concorrência com as restantes plantas espontâneas.
Nascida ao acaso ou plantada é geralmente orientada de maneira a constituir latadas, espaldeiras ou simplesmente atirada para cima de árvores, paredes ou moroiços.

Nestas ilhas, a exploração desta planta não obedece geralmente a cuidados especiais, embora comece a ser frequente a sementeira em alfobre, para obter plantas destinadas a colocar em lugar definitivo.

A planta pode ser propagada por semente ou por estaca—e não sabemos se também por mergulhia. O primeiro é o processo usual nos Açores. Devem ser escolhidas sementes de boas plantas e dos melhores frutos, os quais devem, de preferência, deixar-se secar na própria planta. As sementes, uma vez escolhidas, devem ser secas à sombra e conservadas em lugares secos e frescos.

No começo da Primavera, deverão ser semeadas em alfobre—ou simples caixotes ou terrinas—preparado com terra solta e com os cuidados normais. A semente deve ser distribuída a lanço e coberta com uma polegada de terra fina, posto o que deve proceder-se a uma rega. Posteriormente, repetir-se-ão as regas, as vezes julgadas convenientes. A germinação é demorada, mas uma vez saídas as plântulas da terra, desenvolvem-se com certa rapidez.

Deve proceder-se a uma repicagem, deixando apenas plantas de 15 em 15 cms. Deve ter-se, é claro, sempre o cuidado de fazer mondas, para eliminar a vegetação espontânea e os caules devem ser limpos de folhas até 10 a 15 cms. do solo. É variável o tempo de desenvolvimento das plantas em alfobre mas ao fim de seis meses a um ano elas estão prontas a ser transplantadas para o lugar definitivo.

O maracujá pode, como dissemos, multiplicar-se por estaca. As estacas devem ser colhidas das melhores plantas e de rebentos completamente formados. Devem ter cerca de 15 cms. Não é processo normalmente seguido nos Açores e ignoramos mesmo se já foi aplicado nestas ilhas.

Para se conseguir bom enraizamento, as estacas devem ser postas em areia. Afirma-se que este processo de multiplicação é mais rápido. A ser viável no nosso clima—questão que convinha estudar—ofereceria grande interesse adoptar esta prática, pois ela permitiria obter novas plantas com maior rapidez e fazer uma excelente selecção, pela escolha dos melhores indivíduos, donde tirar as estacas. De resto, nota-se a existência de variedades ou formas diversas, umas melhores que outras, como por exemplo os maracujás de casca mais fina.

O maracujá é exigente quanto a água e fertilidade do solo. O terreno deve ser solto, com boa drenagem, fundo, fresco e rico em matéria orgânica. Todavia, isto não quer dizer que as plantas se não desenvolvam e produzam regularmente em terrenos com outras caraterísticas. O solo, antes da plantação, deve ser preparado com cava funda.

Não convém usar terrenos que anteriormente tenham sido também cultivados com maracujás, especialmente para defesa das doenças. Devem ser escolhidos lugares abrigados dos ventos, pormenor muito para ter em conta no meio açoriano.

No caso de fazer-se cultura em extensão, para ocupação de todo o terreno, as plantas devem ficar dispostas em linhas separadas umas das outras de 3,50 m. e dentro da linha de 5,50 m. a 6,00 m. Pode, porém, usar-se disposição relativa diversa. Tudo depende do sistema de tutor que se pretende adoptar.

Logo a seguir à plantação a planta deve ser presa a um tutor, para melhor defesa dos ventos. Qualquer tutor lhe serve para trepar. Este planta pode muito bem ser aproveitada para constituir latada, pois assim se torna possível associar o útil ao agradável, o ornamento e a frescura da sombra, por um lado, e o fruto por outro.

Maracujá fresco contém pró-vitamina A beta-caroteno, vitamina C (36%), fibra (42%) e ferro (12%) em quantidades significativas quanto às necessidades diárias; o teor de vitamina A convertido a partir de fontes de provitamina A é de 25%. O sumo de maracujá é uma boa fonte de potássio, o que pode tornar o fruto relevante como fonte de nutrientes para diminuir o risco de pressão arterial elevada. Estudos preliminares indicaram que consumir casca de maracujá pode aliviar os sintomas da asma. Um estudo mostrou que a fruta contém licopeno.

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