Dos primeiros que a esta ilha vieram, no tempo de Rui Gonçalves da Câmara, terceiro Capitão dele, primeiro do nome, veio a ela, de Castelo Branco um Fernão Camelo Pereira, fidalgo dos Camelos de Portugal, com grande fausto e cavalos e escravos, e aqui casou com Breatiz Cordeira , filha de Pero Cordeiro, dos primeiros povoadores que houve, morador em Vila Franca, de que teve estes filhos: Jorge Camelo, Manuel Camelo, Pero Camelo, Gaspar Camelo e Anrique Camelo, todos com apelido de Pereiras; e duas filhas, Leanor Camela e D. Breatiz Camela; os quais cinco filhos levou Fernão Camelo daqui a Portugal, e os deu a el-Rei por moços fidalgos. E o primeiro, Jorge Camelo, depois de o servir, andando na corte alguns anos, morreu no serviço de el-Rei, sendo capitão de uma nau da Índia, sem casar e sem filhos.
O segundo, Manuel Camelo Pereira, indo por capitão de outra nau da Índia passaram além dela, e com os trabalhos da comprida viagem, ainda que ele e seis ou sete companheiros seus, somente escaparam no mar, saindo e desembarcando em terra, morreram logo todos. Foi casado, a primeira vez, com uma filha de Luís Vaz Maldonado, memposteiro-mor dos cativos em todas estas ilhas, e a segunda vez com uma Fuã Tavares, sem ter filhos dela.
O terceiro filho, Pero Camelo Pereira, casou em Lisboa com D. Maria d’Alpoem, de que não houve filhos; e servindo a el-Rei em uma armada, tendo briga com uns franceses, havendo tiros de parte a parte, com a pólvora e fogo ficou cego; pelo que lhe fez el-Rei mercê das pensões de todas estas ilhas dos Açores e da saboaria da ilha de S. Miguel. E casou segunda vez com D. Maria, de que não houve filhos, a qual depois da morte dele casou com o licenciado Luís da Rocha, de Viana, ouvidor que foi do Capitão desta ilha, e depois provedor da Fazenda de el-Rei na comarca de Bragança, onde faleceu.
O quarto filho, Gaspar Camelo Pereira, casou com Breatiz Jorge, filha de Pero Jorge, de que houve filhos: Pero Camelo Pereira, que agora é juiz dos órfãos na cidade da Ponta Delgada, e casou em Portugal com D. Iria , fidalga muito principal, de que tem um filho, chamado Nicolau Pereira, e uma filha por nome D. Vitoria. Teve Gaspar Camelo Pereira três filhas: casou uma com o bacharel Gonçalo do Rego, de que houve um filho, Gaspar Camelo, que casou na Praia, da ilha Terceira, com uma filha de Álvaro Cardoso; o qual Álvaro Cardoso, por falecimento de Gonçalo do Rego, casou com D. Breatiz. A segunda filha de Gaspar Camelo casou com Álvaro Martins, memposteiro-mor dos cativos nesta ilha de S.
Miguel, de que houve dois filhos: um se chama Pero de Sousa, que foi escrivão da câmara do elegantíssimo e grande pregador D. António Pinheiro, primeiro benemérito bispo de Miranda e depois de Leiria, cronista-mor de Portugal, tão expediente em todo o género de negócios e de tanto saber e prudência, que bem pudera governar o mundo todo. E outro que foi para a Índia de Portugal. E uma filha, por nome Isabel de Jesus, freira professa no mosteiro de Santo André, da cidade da Ponta Delgada. E outra filha, chamada D. Breatiz Camela, que casou com Rui Vaz Medeiros, capitão dos aventureiros na cidade da Ponta Delgada, por ser muito valente de sua pessoa e homem de grandes espíritos, pelo que Sua Majestade lhe deu o hábito de Cristo, com boa tença. A terceira filha de Gaspar Camelo, chamada D. Guiomar Camela, casou com Jorge Furtado, como direi na geração dos Furtados.
O quinto filho de Fernão Camelo Pereira, chamado Henrique Camelo Pereira, foi casado, primeira vez, com uma filha de Luís Gago, da Ribeira Grande, chamada D. Alda Gaga, de que houve dois filhos, Jorge de Sousa Pereira e Pero de Sousa de Castelo Branco, ambos os quais eram muito discretos, músicos e valentes de suas pessoas, e foram para a Índia em serviço de el-Rei. Jorge de Sousa, o mais velho, foi capitão de Cochim, e daí foi com uma armada sobre as ilhas de Maldiva, que estavam alevantadas contra o seu Rei, que ficava em Cochim, onde viera pedir favor a D. Constantino, que era então Viso-Rei, o qual mandou Jorge de Sousa, por capitão desta armada, a este socorro; e tendo já tomado e sujeitado duas das ilhas, entrando na terceira, morreu com toda a gente em uma cilada que os imigos lhe armaram; e conta-se que pelo dano que tinha feito neles, o amarraram a um pau e mataram às canaveadas . O segundo filho de Henrique Camelo Pereira, chamado Pero de Sousa de Castelo Branco, serviu de capitão-mor na costa de Melinde, em tempo que Francisco Barreto foi ao descobrimento do Rio do Ouro de Menopotapa, e acabando seu tempo de capitão na dita costa de Melinde, casou em Moçambique com uma viúva e aí vive até hoje. Casou Henrique Camelo a segunda vez, com uma nobre mulher a que não soube o nome, nem sei se teve dela filhos.
Das duas filhas de Fernão Camelo Pereira, uma chamada D. Lianor Camela, casou com Pedro Afonso da Costa Cogombreiro , morador na freguesia de Santa Luzia, no lugar das Feiteiras, de quem houve estes filhos: Sebastião de Sousa, que casou com D. Isabel, filha do doutor Francisco Toscano, quando estava por corregedor nesta ilha de S. Miguel, de que houve filhos e filhas muito virtuosas e honradas; Francisco Toscano e Fr. Pedro, religioso e pregador, prior que agora é do mosteiro de Nossa Senhora da Graça, da cidade de Angra, e D. Lianor, de grande saber e virtude, e outras que faleceram. Houve mais Pedro Afonso da Costa Colombreiro, de sua mulher D. Lianor Camela, um filho chamado Jorge Camelo da Costa, homem de grande virtude, muito bom cavaleiro, magnífico e grandioso, e tão liberal que gasta quanto tem de sua renda, com agasalhar hóspedes e pobres, tanto que parece sua casa o hospital de uma vila. E fez no lugar das Feiteiras, onde mora, nas casas que foram de seu pai, uma sumptuosa igreja, em que gastou mais de três mil cruzados; e casou com D. Margarida, filha de Pero Pacheco, de que não houve filhos, como disse na geração de Nuno Gonçalves, filho de Gonçalo Vaz, o Grande, e na geração dos Cogombreiros .
Houve mais Pedro Afonso Cogombreiro, de sua mulher, uma filha, chamada D. Breatiz, que casou com Francisco de Mendonça, fidalgo, filho de Mendo de Vasconcelos, de que houve uma filha chamada D. Lianor, que casou com António Pereira, filho do bacharel Diogo Pereira, de quem tem alguns filhos: D. Margarida, Diogo Pereira, Marcos Pereira e outros de pouca idade.
A segunda filha de Fernão Camelo, chamada D. Breatiz, casou com Pedro Homem da Costa, fidalgo, morador na Praia, da ilha Terceira, de que não houve filhos.
Veio depois de Portugal Garcia Roiz Camelo, sobrinho de Fernão Camelo, o qual Garcia Roiz Camelo tem e teve da primeira mulher, chamada D. Lianor Soeira, tia do licenciado Diogo Dias Soeiro, uma filha chamada Breatiz Roiz, que casou com Diogo Vaz Carreiro, de que houve um filho, que faleceu menino. Outra filha de Garcia Roiz Camelo, chamada Leonor Soeira, casou com Manuel Afonso Pavão, filho de Manuel Afonso Pavão, da vila de Água do Pau, de muita nobreza, de que houve os filhos seguintes: o primeiro, João Roiz Pavão, o segundo, Garcia Roiz, que ambos moram no lugar da Candelária, o terceiro, Pero Manuel, o quarto, António Afonso, o quinto, Simão Roiz, vigário que foi de S. Roque, o sexto, Manuel Pavão, o sétimo, Rui Vaz, o octavo, Mateus Camelo, e outros que faleceram. E das filhas, a primeira, Lianor Soeira, casou com Pero de Teves, filho de António da Mota, de Vila Franca; a segunda, Breatiz Roiz, casou com o licenciado António de Frias, filho do Licenciado Bertolameu de Frias.
Houve mais Garcia Roiz um filho, chamado João Roiz Camelo, grande e esforçado cavaleiro, que casou a primeira vez com uma nobre mulher, de que houve o licenciado António Camelo, tão bom cavaleiro como letrado, que casou com Leonor Dias, filha de António Afonso, morador na vila do Nordeste, e de sua mulher Mónica Dias. Teve também João Roiz Camelo, da primeira mulher, uma filha, chamada Maria da Costa, que casou primeira vez, com um Manuel Homem, de que houve um filho, que chamam Manuel Homem, o Ante-Cristo, por ser de grandes espritos e tão extremado cavaleiro que indo correndo dois, salta ele do seu cavalo no do outro, e do outro no seu; e segunda vez com Manuel Cabral de Melo, fidalgo, filho de Lopo Cabral de Melo e de sua mulher Isabel Dias, de que tem uma filha, que chamam Isabel Cabral. Casou João Roiz, segunda vez, com uma mulher da Terceira, chamada Maria Badilha, de que não teve filhos; e a terceira vez casou João Roiz, em Vila Franca, com Caterina Correia, filha de Gaspar de Gouvea e de Solanda Cordeira, de que houve uma filha, chamada primeiro Breatiz Roiz e agora Breatiz de Cristo, por ser freira no mosteiro de Santo André, na cidade da Ponta Delgada, e dois filhos pequenos.
Depois casou Garcia Roiz, segunda vez, com Maria Travassos, filha de Martim Vaz, contador, de que houve os filhos já ditos na geração dos Velhos; e faleceu rico e abastado, deixando seus filhos e genros bem herdados. Terceira vez casou Garcia Roiz com Margarida Gil, viúva, de que não houve filhos.
Também Gaspar Pereira Camelo, morador na vila da Lagoa, é filho legítimo de Fernão Camelo, fidalgo, e de Maria Roiz de Azevedo, sua segunda mulher, e os irmãos e dois filhos deste Fernão Camelo serviram a el-Rei de moços fidalgos e estão assentados em seus livros, de que têm seus instrumentos autênticos.
João Camelo foi um homem fidalgo, da casa de el-Rei D. Manuel, morador em a vila de Alfesirão, e capitão-mor de todos os coutos de Alcobaça; e este teve três filhos, um dos quais, por nome António Camelo, veio moço de doze anos ter a esta ilha, ao lugar das Feiteiras, a casa do dito Fernão Camelo, seu tio, onde se criou até idade de vinte anos, em que se casou com Isabel Velosa, filha de João Esteves Veloso, o Velho, homem principal, que então servia de almoxarife de el-Rei, e com ela viveu muitos anos na cidade da Ponta Delgada e no governo dela; e sendo já de idade de cinquenta anos, sabendo que seu pai, João Camelo, era falecido, se foi desta ilha a Portugal, e trazendo demanda sobre um morgado que de seu pai lhe ficava, com outro seu irmão, que o possuía por se ter ser morto, faleceu e foi enterrado em a igreja de Alfesirão, na cova de seu pai.
Deste António Camelo ficaram dois filhos e três filhas, que todos foram criados na cidade da Ponta Delgada, como filhos de quem eram, e um deles, chamado, como seu pai, António Camelo, sendo de idade de vinte anos, se casou com Maria de Medeiros, filha do afamado Rafael de Medeiros, com a qual viveu na cidade da Ponta Delgada doze anos, no fim dos quais se foi a Portugal a acabar a demanda que seu pai havia começado; e por seu tio ser homem rico e poderoso a não acabou, e se foi para a Índia, onde faleceu no naufrágio da nau S. Paulo.
Deste António Camelo, que faleceu na Índia, ficaram um filho e uma filha, chamada D. Caterina, a qual casou com Duarte de Mendonça, fidalgo, e faleceu deixando uma filha que agora vive. O filho do dito António Camelo, que faleceu na Índia, chamado Gaspar Camelo, é casado com uma filha de Manuel Álvares Pinheiro. Depois de casado, foi acabar a demanda, que seu avô e pai tinham começada, como pessoa a quem pertencia, e cobrou o morgado que lá possui e se tornou para esta ilha, onde agora vive rico e abastado na cidade da Ponta Delgada, e tem um filho, por nome João Camelo, e uma filha de pouca idade.
Outro filho do primeiro António Camelo, filho de João Camelo, chamado Braz Camelo, se foi desta ilha para o reino de Castela e lá andou alguns anos sendo mancebo, e tornando se meteu na ordem de S. Francisco, onde cantou missa e viveu vinte anos no cabo dos quais se foi a Roma e passou a outra ordem, de Santo Agostinho, isento, e vindo a esta ilha viveu em uma ermida de Vale de Cabaços, junto da vila da Água do Pau, doze anos, onde fez muito fruto de doctrina, que ensinava a grandes e pequenos; e por fim se tornou a meter na primeira ordem de S. Francisco. E sucedendo um interdito que pôs o Bispo D. Gaspar de Faria no mosteiro das freiras da Esperança, na cidade, foi sobre isso enviado o dito frei Braz Camelo ao Regno, onde alcançou que logo se alevantasse o interdito, e, procedendo na causa destas dúvidas, levou tudo ao cabo em favor das religiosas, para o que mandou o Cardeal Infante D. Henrique vir a esta ilha o muito religioso e reverendo padre Luís de Vasconcelos, rector do Colégio da Companhia de Jesus, da cidade de Angra, que com sua grande prudência e virtude compôs e apagou estas diferenças.
Por Fr. Braz Camelo ser pessoa para fazer qualquer negócio importante, foi em Lisboa eleito por comissário da corte, que serviu dois anos, no fim dos quais, em capítulo, o fizeram guardião da casa de S. Francisco, de Angra, da ilha Terceira; e acertou de ser no tempo do avantamento dela, donde ele ficou culpado, de modo que vindo escondido para esta ilha, foi preso pelo Conde Rui Gonçalves da Câmara, e mandado a Lisboa e daí para Castela, por morador para a casa de S. Francisco de Guadelajara, onde está.
Das filhas de António Camelo, filho de João Camelo, uma, chamada Maria Camela, casou com Paulo de Moura, que a levou para Portugal, onde faleceu, ficando-lhe duas filhas, uma por nome D. Maria e outra que a rainha D. Catarina meteu freira, e um filho que foi para a Índia.
Outra filha do dito António Camelo, chamada Guiomar Camela, casou com um Álvaro Dias, natural do Algarve, homem rico; viveu nesta ilha, no lugar das Feiteiras, tem dois filhos: Gaspar Camelo e Jorge Camelo, e uma filha que faleceu, depois de professa no mosteiro da Esperança, da cidade da Ponta Delgada.
A terceira filha de António Camelo, filho de João Camelo, chamada Margarida Camela, casou com Sebastião de Macedo, filho de Gonçalo Braz, de Santo António.
Dizem que teve mais o dito António Camelo outra filha, chamada Lianor Camela, que casou com Francisqueanes, e Breatiz Camela, que casou com Simão de Teves.
A Jorge Camelo, morador no lugar das Feiteiras, pertencem as armas dos Costas e as dos Camelos; as dos Costas são no campo do escudo vermelho seis costas de prata em faixa, em duas palas e por diferença um trifólio de ouro; elmo de prata aberto, guarnecido de ouro; paquife de prata e vermelho e por timbre duas costas das armas em aspa. As armas dos Camelos são um escudo com o campo de prata e três vieiras de azul, riscadas de ouro em triângulo, e por diferença uma merleta preta, e elmo de prata aberto, paquife de prata e azul; e por timbre um pescoço de camelo, com cabeça de sua cor; e de ambas estas armas tem seus brasões mui autorizados.