Considerando o conde de Vila Franca o muito perigo que esperava pelas novas que corriam de grandes guerras e do dano que os ingreses faziam nas Índias, que por ser esta ilha passagem de sua derrota, lhe pareceu não estar fora do perigo que os cossairos com a ufania da vitória que contra os cristãos houveram, também podiam aqui querer provar sua ventura, sendo esta fama importante a seu mau propósito, foram chamados os vereadores, juiz de fora e pessoas particulares, e pondo-lhes prática do perigo que esperavam e da obrigação que tinham os homens para defender sua terra, e quanta ocasião se mostrava para mostrarem seu ânimo, disse que, além das companhias que na cidade havia, lhe parecia serviço de Sua Majestade fazer uma, a qual se chamaria dos Aventureiros, para acudir às partes de mais perigo, e que a gente dela seria a mais principal da terra, assim os fidalgos, como cavaleiros da Ordem de Cristo que nela havia, donde se reputasse a honra de el-Rei, com a boa defensa que estes tais podiam fazer, e que tinha por segura esta ilha, efectuando-se isto; e lhe parecia bem declarar seu filho D. Gaspar da Câmara por capitão desta companhia, que, sendo seu, o não queria escusar de semelhantes perigos e porque os esperava o fazia; e assim outra pessoa onde estivesse bem a bandeira de el-Rei e fosse segunda pessoa de seu filho, e que para isso rogaria a Manuel Cordeiro de Sampaio que, além dos seus cargos, aceitasse este por servir a Sua Majestade, e que certificado estava que sendo para esta ocasião se não escusaria, pois se tinha mostrado noutras de muita honra. Pareceu a todos bem o pressuposto e tenção declarada do conde, e pôs-se logo em execução. Todos os do hábito foram e o sargento Bartolomeu Cabral, também do hábito, a qual foi tão lustrosa e os homens mostraram tanto desejo de servir a Sua Majestade, que era muito para ver o número da companhia ; eram cento e cinquenta moços galhardos e gente toda principal, ornados de muitas galantarias de ornamentos de vestidos, diferentes, com muitas plumas e outros esquisitos, muito adequados a soldados, e além do tudo, muito destros no atirar. Gente era que prometia qualquer efeito donde se empreendesse muita honra, e dito por muitos homens estrangeiros, muito vistos em muitas partes, ser capaz a companhia de defender esta ilha e outras partes maiores. Foi tanto o contentamento que o conde mostrou em ver seu desejo cumprido e efectuado tão bem, que andava em cada rua encontrando-se para ver, e foi enxergado de todos este contentamento, e em muitas palavras agradecendo a cada qual o bem que o mostravam, dizendo que agora se tinha por ganhador de toda a vitória. E, porque D. Gaspar era dantes capitão da gente de cavalo, deu este cargo a outro seu filho, chamado D. Francisco, galhardo mancebo, de grandes partes e mores esperanças; mas como semelhantes cousas não permaneçam, por certa ocasião se desfez a companhia, o que em geral foi sentido de toda a pessoa.
Há na cidade da Ponta Delgada uma companhia de mais de cem homens de cavalo, de que foi capitão Francisco de Arruda da Costa, depois D. Gaspar da Câmara e agora é capitão D. Francisco da Câmara, seu irmão, filhos do conde , e em seu lugar tenente o capitão Alexandre, e alferes Manuel da Fonseca Mota, e agora António Pereira; e cabos de esquadra Manuel de Oliveira, filho do licenciado Manuel de Oliveira, Pero da Costa, neto de Francisco de Arruda, Hércules Barbosa da Silva, Gaspar de Brum da Silveira, Gonçalo do Rego e Francisco Ramalho.
Há também agora, na dita cidade da Ponta Delgada, seis companhias de infantaria, de cento e cinquenta homens cada companhia.
Da primeira é capitão João de Arruda da Costa, alferes Manuel Pavão e sargento João Velho Cabral, neto de Rui Velho.
Da segunda, capitão Gaspar de Teve, alferes António Afonso Pavão, sargento João Rabelo , irmão de D. Fernando.
Da terceira, capitão João de Melo, do hábito de Cristo, alferes Lourenço Vaz Carreiro, depois Francisco de Melo, e sargento Brás de Melo, seu irmão, que agora é alferes, em lugar de seu irmão falecido, e de sargento serve ao presente Francisco Brochado.
Da quarta, capitão Rui Vaz Medeiros, do hábito de Cristo, alferes Manuel Serrão, e agora é alferes João Rabelo, sargento António Monforte.
Da quinta, capitão Brás Raposo, alferes Afonso de Goes, depois Gaspar Camelo Pereira, agora Hierónimo Coelho, e sargento António Mendes Pereira, e agora Fernão de Matos.
Da sexta, capitão Gonçalo Tavares, alferes seu filho, e sargento Pero Furtado. Todas estas entram e saem de guarda todos os dias de todo o ano, cada uma por si.
Nos termos da cidade, na freguesia de S. Roque, há uma companhia de cento e cinquenta homens de que foi capitão Manuel da Costa e agora Martim de Sousa, alferes Pero de Teve Mota, e sargento, o primeiro Simão de Viveiros, o segundo é agora António Fernandes.
Na freguesia de Nossa Senhora das Neves há outra companhia de outra tanta gente, de que é capitão João Roiz Ferreira, alferes António Lopes Falcão e sargento Afonso Gonçalves Ferreira, filho do dito capitão.
Nas freguesias das Feiteiras, Candelária, S. Sebastião e dos Mosteiros há outra companhia que tem perto de quatrocentos homens, de que é capitão João Roiz Pavão, alferes Garcia Rois Pavão, seu irmão, e sargento Pero de Teve de Mesa.
Nas freguesias da Bretanha e de Santo António há outra companhia que terá duzentos e cinquenta homens, de que é capitão Bastião Afonso de Sousa, alferes António de Viveiros e sargento Cristóvão Afonso, filho do dito capitão. Casou este capitão com Guiomar de Oliveira de Vasconcelos, filha de João Manuel de Vasconcelos, grande cavaleiro; teve cinco filhos, Manuel Lopes de Sousa, Cristóvão Afonso de Sousa, o licenciado Marcos Afonso de Vasconcelos, Belchior Manuel de Sousa e Gaspar Manuel de Vasconcelos, que casou com Catarina de Figueiredo, irmã do Bispo do Funchal. Teve mais Bastião Afonso de Sousa três filhas: Isabel Lopes, Filipa de Vasconcelos, e Inês de Oliveira, todas bem casadas como os filhos, excepto o licenciado que ainda é solteiro .
Na freguesia dos Fanais há outra companhia de duzentos homens, de que é capitão Manuel Lopes de Sousa, alferes Tomé Gonçalves Homem, sargento Domingos Pires.
Deixando à parte os capitães e oficiais da milícia das outras vilas desta ilha, de que já disse, direi por remate os que agora são das duas vilas mais principais dela, onde há capitães mores.
Em Vila Franca do Campo foi primeiro capitão mor Pedro da Costa, e sargento mor seu filho João de Arruda Costa; e em seu tempo foram ali capitães Lopo Anes Furtado, e seu alferes Cosme de Brum, sargento Brás Ferros. O outro capitão foi Jorge Furtado, alferes Leonardo de Sousa, seu filho, sargento Miguel da Grã.
Agora é capitão mor João de Arruda da Costa, filho do dito Pedro da Costa, e sargento mor seu irmão Rui Tavares da Costa, e capitães os seguintes: Manuel Favela da Costa, seu alferes Cosme de Brum, sargento Brás Ferros, e agora Manuel da Fonseca.
Outro capitão, Leonardo de Sousa, seu alferes Apolinário Raposo e sargento João Galego.
Outro capitão foi Jerónimo de Araújo; depois dele foi António de Matos, que era seu alferes, em cuja absência é agora Filipe do Quental, seu irmão; seu alferes Simão Martins; sargento Miguel da Grã. Tem cada uma bandeira duzentos homens.
Os sargentos mores foram sempre cabos dos de cavalo, que são vinte homens bons cavaleiros; e agora é cabo deles Bento de Sousa.
Na vila da Ribeira Grande há mais de cinquenta homens de cavalo, de que era capitão mor D. Gaspar da Câmara, como o foi em toda a ilha, a quem toda a gente de cavalo obedecia.
Agora é dela capitão mor, na dita vila da Ribeira Grande, Rui Gago da Câmara, como o é da infantaria, e cabos de esquadra Paulo Gago e Jordão Pacheco.
Da infantaria é sargento mor Duarte Privado, e capitães são os seguintes: Francisco Tavares, capitão de duzentos homens; seu alferes, Gonçalo Bezerra; sargento, o primeiro, Gaspar Fernandes, o segundo, Miguel de Paiva.
Pero de Paiva, capitão de outros tantos; seu alferes, o primeiro, Simão de Sousa, o segundo, Manuel da Câmara, o terceiro, Duarte Tavares; sargento, António Cansado.
Nuno de Sousa, capitão da gente da Ribeira Seca; seu alferes, o primeiro, Ciprião da Ponte, o segundo, João Cabral; sargento, o primeiro, Estêvão Pires, o segundo, Cristóvão Afonso.
Na dita vila e seu termo, havia mil homens de peleja em quatro bandeiras, e o conde , no ano de mil e quinhentos e oitenta e seis, pelo pedir assim o tempo perigoso, erigiu outra companhia de novo, como de aventureiros, de cento e setenta e cinco homens, de que foi eleito por capitão Pedro Alvres Cabral; seu alferes, Tomé Jorge Formigo; sargento, Belchior Soares.
Manuel Moniz, capitão do lugar de Rabo de Peixe, termo da mesma vila; seu alferes, Rui Gago, filho de Rui Gago da Câmara; sargento, o primeiro, Manuel Raposo, o segundo, Custódio Afonso.