Em companhia de Gonçalo Vaz Botelho, chamado o Grande, veio a esta ilha, por mandado de el-Rei e do Infante, Gonçalo de Teve Paym, francês, natural de Paris, filho de Gonçalo Dornelas Paim, capitão de el-Rei de França, que em umas guerras que o Rei teve com italianos, guardou e defendeu com grande esforço uma porta dos muros da dita cidade de Paris, sendo cometida dos imigos, com que não entraram nela; pelo que, aparecendo diante de El-Rei, que o mandou chamar depois desta vitória, lhe perguntou como se chamava; respondendo ele que seu nome era o capitão Gonçalo Dornelas Paym, lhe disse el-Rei: “chamo-vos eu Gonçalo de Teve, pois tivestes com tanto esforço as portas da minha cidade de Paris, por onde me defendestes de não entrarem meus imigos nela”. E daqui lhe ficou este apelido de Teve, a ele e a seus descendentes.
Gonçalo de Teve Paym, filho deste Gonçalo Dornelas Paim, vindo a esta ilha por mandado do Infante, de cuja casa, era, com grandes poderes para repartir e dar terras, e com cargo de almoxarife, foi o primeiro nela; onde o Capitão e ele, em nome do Rei, faziam as dadas das terras e a repartição delas. Teve dois filhos, sc., Pero de Teve e João de Teve, que por ser mais velho foi o segundo almoxarife, depois do falecimento de seu pai. O qual João de Teve casou com Isabel Manuel, filha de Manuel Afonso Pavão, o Velho, morador na vila de Água do Pau, da qual houve estes filhos: o primeiro, João de Teve, doctor e desembargador, de que não ficaram filhos; houve mais João de Teve, segundo almoxarife, uma filha chamada Guiomar de Teve, que foi mulher de André Gonçalves de Sampaio, de que não ficaram filhos; teve mais o dito João de Teve um filho, chamado Simão de Teve, que houve de sua mulher um só filho.
Houve Gonçalo de Teve, primeiro almoxarife, de sua mulher, a que não soube o nome, o segundo filho, chamado Pero de Teve, e irmão do dito João de Teve, ambos primos com-irmãos ou parentes muito chegados de António de Teve, tesoureiro-mor que foi no regno de Portugal, o qual Pero de Teve, segundo filho de Gonçalo de Teve, e que viveu na cidade, junto da Calheta, que tomou dele o nome, casou com Francisca de Mesas, da geração dos Mesas e Francos, irmãos da mulher de João Afonso, Cadimo de alcunha, que morou nos Biscoitos, junto de André Gonçalves de Sampaio, e irmão da mulher de Aires Lobo, filhas todas de Isabel Franca de Mesas; da qual houve o dito Pero de Teve estes filhos: o primeiro, Amador de Teve, que casou com Breatiz Roiz, filha de Pedro Álvares Benavides, de que houve um filho, chamado Gaspar de Teve, que por ser homem de grandes espíritos e muita discrição, foi capitão da companhia da guarda da fortaleza da cidade da Ponta Delgada, e agora é capitão de uma companhia, o qual casou com uma filha de Manuel Machado e de Lianor Ferreira, filha de Gaspar Ferreira, de quem tem alguns filhos.
O segundo filho de Pero de Teve se chamou Simão de Teve, que casou com uma filha de Gil Vaz, morador na Bretanha; o terceiro, Sebastião de Teve, casou com uma filha de Álvaro Pires, procurador do número, morador nos Biscoitos da Fajã, pai da mulher de Sebastião Luís, pai de Hierónimo Luís; o quarto Hierónimo de Teve, que faleceu solteiro. Teve mais Pero de Teve uma filha, chamada Francisca de Teve, mulher de António da Mota; outra, Isabel de Teve, freira no mosteiro da Esperança, da cidade da Ponta Delgada; e Ana de Teve, mulher de Sebastião Gonçalves, filho de Francisco Dias Caiado; e Guiomar de Teve, que casou com Rui Velho, filho de João Alvres do Olho, de que tem os filhos que disse na geração dos Velhos.
Além destes filhos, teve Gonçalo de Teve outro filho, chamado Simão de Teve, que casou com Catarina Borges, filha de Joanne Annes Colombreiro, morador em Vila Franca, onde morreram no dilúvio.
Veio também com o dito Gonçalo de Teve, primeiro almoxarife, por mandado de el-Rei e do Infante, a esta ilha de S. Miguel, por primeiro escrivão do almoxarifado, um seu irmão , chamado Pero Cordeiro, que morou em Vila Franca com sua mulher, da qual tinha quatro filhas muito formosas e virtuosas: uma casou com Gonçalo Vaz Andrinho, o Moço, filho de Gonçalo Vaz Botelho, da qual houve estes filhos: André Gonçalves de Sampaio, o Congro por alcunha, e a mulher de João de Betancor de Sá, fidalgo, e a mulher de Fernão de Macedo, também fidalgo, irmão do Capitão do Faial, como disse na geração de Gonçalo Vaz, o Grande. A segunda filha de Pero Cordeiro, chamada Lianor Cordeira, casou com Fernão Camelo, pai de Gaspar Camelo, fidalgo, e de Pero Camelo, e de Jorge Camelo e de Henrique Camelo, como direi na geração dos Camelos. A terceira filha de Pero Cordeiro, que se chamava Catarina Cordeira, casou com Vicente de Abreu, homem fidalgo, de Portugal, da qual houve um filho chamado Pero de Abreu, que por casar com uma irmã de Francisco Afonso, de Vila Franca, contra vontade de seu pai, o mandou caminho de Portugal, logo em casando, e lá faleceu. A quarta filha de Pero Cordeiro, chamada Maria Cordeira, casou com João Roiz, recebedor de el-Rei, que naquele tempo chamavam recebedores aos feitores; este era criado de el-Rei, homem de muita sorte; da qual houve um filho e duas filhas: o filho, Pero Roiz Cordeiro, casou com Catarina Correa, sexta filha de Martim Anes Furtado, de que teve os filhos que direi na geração dos Furtados. A primeira filha do feitor João Roiz casou com Sebastião Roiz Panchina, irmão de Pedreannes, Bernaldeannes, Johanne Annes e Jorge Vaz Panchinas, o qual Sebastião Roiz morou além da Calheta de Pero de Teve, na quintã onde agora mora seu sobrinho António Ledo, filho de Joanne Annes Panchina, casado com uma filha de João Roiz dos Alqueires, de que tem filhos e filhas, e irmão de Manuel de Crasto, solteiro, e de Leonel João, que casou com Catarina Anes, filha de Luís Galvão, de que tem duas filhas; irmão também de Simoa de Crasto, que casou com Miguel Martins, filho de João Álvares, o Examinado, da Lagoa, e de Catarina Martins, sua mulher, de que houve um filho, chamado Miguel Martins, clérigo bem entendido e bom cantor, que foi cura na cidade, e duas filhas, Lianor Leda, casada com um sobrinho de Baltazar de Armenteiros, castelhano, chamado Gaspar de Armenteiros, e a outra, Catarina Miguel, casada com Cristovão Cordeiro, filho de Cristovão Cordeiro, escrivão que foi da alfândega.
Houve Sebastião Roiz Panchina, de sua mulher, estes filhos: Sebastião Roiz, vigairo que foi dos Fenais e depois da Relva, termos da cidade, e uma filha, chamada Maria Cordeira, que casou com Roque Lopes, escrivão da correição, de que não houve filhos, e depois casou segunda vez com Nuno Barbosa da Silva, filho de Hector Barbosa da Silva, de que também não teve filhos. Houve Sebastião Roiz Panchina, de sua mulher, outro filho, chamado Cristovão Cordeiro, que foi escrivão da alfândega nesta ilha de S. Miguel e casou com Solanda Rodrigues de Benavides, de que houve estes filhos: o primeiro, João Roiz Cordeiro, que foi alcaide na cidade da Ponta Delgada e casou com Maria Luís, filha de Luís Martins e de Margarida Gonçalves, de que tem filhos e filhas; o segundo, Manuel Cordeiro de Sampaio, do hábito de Cristo, com trinta mil reis de tença, que agora é juiz do mar, homem de muita discrição e prudência e de altos espíritos, digno de grandes cargos, que casou com Mécia Nunes, filha do licenciado Gonçalo Nunes de Arês e de sua mulher, filha dum almoxarife da cidade de Angra, da ilha Terceira, dos principais dela. O terceiro filho de Cristovão Cordeiro, chamado como seu pai, é casado com Catarina Miguel, como atrás disse. O quarto, Pedro Alvres de Benavides, que foi para as Índias de Castela. O quinto, chamado André Cordeiro, casado com Maria de Matos, filha de Baltazar Gonçalves Ramires e de Margarida de Matos, filha de Hierónimo do Quental. O sexto, António de Benevides, letrado em leis, de grande habilidade, o qual, pelejando por defensão da pátria, foi morto na batalha naval que houve entre as armadas de el-Rei Filipe e dos cossairos, que vieram da Terceira ao porto da cidade da Ponta Delgada. O sétimo, chamado Mateus Cordeiro, é ainda solteiro; todos homens de grandes espíritos, e outros que faleceram.
Houve mais João Roiz, feitor, de sua mulher Maria Cordeira, outra filha que casou com Jordão Jácome Raposo, de que houve os filhos que direi na geração de Rui Vaz do Tracto Raposo .
Por falecimento do dito feitor João Roiz, ficou sua mulher, Maria Cordeira, viúva, e casou segunda vez com Jorge da Mota, filho de Fernão da Mota, honrado e rico, natural e cidadão do Porto, parente de D. Jerónimo Dosouro , bispo do Algarve, o qual se aposentou em Vila Franca e tinha dois filhos: Jorge da Mota e Pero da Mota, os quais estando ambos com seu pai rico, casou Jorge da Mota com a dita Maria Cordeira, desgostando seu pai disso, só por ser ela viúva; pelo que se tornou com o filho Pero da Mota para o Porto.
Jorge da Mota, que cá ficou, foi um homem muito honrado, virtuoso e discreto, e era cavaleiro do hábito de Aviz; o qual houve da dita Maria Cordeira, sua mulher, três filhos e uma filha: o primeiro, António da Mota, casou na cidade da Ponta Delgada com Francisca de Teive, filha de Pero de Teive, de que houve os filhos que se dirão em outra parte; o segundo filho de Jorge da Mota e de Maria Cordeira, chamado Simão da Mota, casou com Isabel Afonso, filha de João Afonso da Costa, pai de Jorge Afonso Quoqualegres, do Nordeste, de que houve alguns filhos. Depois casou segunda vez com uma filha de João Roiz, dos Fenais da Maia, filho de Fernão Roiz, da Lagoa, de que houve dois filhos: Frei Jorge da Mota e Frei Manuel, que foram bons religiosos, pregadores da ordem de S. Domingos, e tiveram alguns cargos honrosos na dita ordem. Depois casou a terceira vez com Caterina Ferros, viúva, que fora mulher de Francisco da Costa, filho de Manuel do Porto, da cidade da Ponta Delgada, da qual não sei se houve alguns filhos.
Outro filho, terceiro, houve Jorge da Mota, chamado Cristovão da Mota, clérigo e beneficiado em Vila Franca, que com sua liberal condição sustentou sempre, enquanto viveu, uma casa de muitos hóspedes.
A filha do dito Jorge da Mota, chamada Maria de Jesus, foi a primeira freira que houve nesta ilha de S. Miguel e em todas as ilhas dos Açores, que depois do dilúvio de Vila Franca se foi meter em uma ermida de Nossa Senhora de Vale de Cabaços, da vila de Água do Pau, levando consigo algumas suas meias irmãs, que seu pai depois teve de outra mulher com quem casou, onde estiveram guardando a regra da religião inteiramente e fazendo penitência em um pequeno mosteiro que ali se fez; e daí se mudaram para outro que lhe fizeram em Vila Franca, onde ela acabou santamente, como a seu tempo direi; e foi em seu tempo a mais discreta mulher que houve nesta ilha, acompanhada de muitas virtudes.
Depois de falecida Maria Cordeira, casou Jorge da Mota com Bertoleza da Costa, filha de João de Arruda da Costa, da qual houve os filhos e filhas que tenho dito na geração de João Gonçalves Botelho, filho de Gonçalo Vaz, o Grande.
João Roiz Cordeiro, pai de Pero Roiz Cordeiro, seu nome próprio era João Roiz de Sousa, e foi postiço este nome por certos inconvenientes que não fazem a caso para nossa história; porém devia ser parente dos Cordeiros. Os quais Cordeiros têm por armas cinco cordeiros de prata em campo verde e uma águia por timbre.
Havia no Algarve um homem nobre e rico, da casa do Infante D. Henrique, que mandou descobrir estas ilhas dos Açores, chamado ou Joanne Ãnes da Costa, ou Rodrigue Annes, ou Afonse Annes da Costa, morador na Raposeira, onde tinha um seu jardim e horta, que dava em seu tempo muitos cogombros, o qual tinha muitos filhos e filhas e netos e grande família, em cuja casa, dizem alguns, que pousava o dito Infante, quando ia por aquelas partes, e vendo a grande multiplicação de sua geração e horta, também com os cogombros, lhe disse: — “vós hão vos de chamar Cogombreiros”. Outros dizem que, por ver tão multiplicada sua progénia, disse: — “vós dai-vos aqui como cogombros”, porque é hortaliça que dá muita fruta. De qualquer destas duas maneiras que seja, daqui tomou este nome Cogombreiro, beijando a mão ao Infante pela mercê que lhe fazia deste apelido; e os da sua progénia se chamaram Cogombreiros, que depois, pelo discurso do tempo, corrompendo-se o vocábulo, se disseram Colombreiros. E alguns seus descendentes foram dali para a ilha da Madeira e de lá vieram para esta ilha, alguns no princípio de sua povoação, quando veio Gonçalo Vaz Botelho, chamado o Grande, como foram Afonso Anes, Rodrigo Afonso, e Pedro Afonso e Diogo Afonso, segundo cuido, todos três irmãos Colombreiros, filhos de Afonso Anes, filho de Rodrigo Anes Colombreiro, que são também da geração dos Costas, como se vê claramente no brasão de Jorge Camelo da Costa, morador no lugar das Feiteiras, desta ilha: da progénia dos quais direi alguma pouca coisa que pude saber com pouca ordem, por não achar antigos que ma soubessem dizer.
O primeiro Afonso Anes da Costa dizem que morou na Ponta da Garça, termo da Vila Franca; foi casado com uma fuã Carneira, nobre mulher, natural do Porto, de que houve estes filhos: o primeiro, Vicente Afonso, o segundo, João Afonso, o terceiro Gabriel Afonso, o quarto, Afonso Anes, de alcunha Mouro Velho, o quinto, Diogo Afonso, o sexto, Pedro Afonso, pai de Jorge Camelo, o sétimo, Rodrigo Afonso, o octavo, Jordão, que faleceu moço. Vicente Afonso dizem que casou em Vila Franca.
João Afonso casou com uma irmã de Marcos Lopes, de Água do Pau, de que houve uma filha e dois filhos, que faleceram sem geração.
Gabriel Afonso foi casado com Gília Soares, filha de João Velho, primo cõ-irmão de João Soares, Capitão da Ilha de Santa Maria, primeiro, e desta ilha de S. Miguel, o qual Gabriel Afonso houve de sua mulher um filho, chamado João Soares, que morou no lugar dos Mosteiros e casou com Mór Gil, filha de Gil Vaz, do dito lugar, e de Maria Anes, filha de João Moreno, da Ponta Delgada, irmão da mulher de Afonso Ledo. Houve João Soares de sua mulher um filho, chamado Francisco Soares, e uma filha por nome Catarina Velha, que casou com Gaspar Dias, morador na ilha do Corvo, filho de João Dias, lutador, da ilha Terceira; teve mais João Soares outra filha, chamada Isabel da Costa, que casou com João Roiz, filho de João Fernandes, de Santa Clara, e de Maria Roiz Castanha, moradores na freguesia de Santa Clara, da cidade; o quarto filho, chamado como seu pai Afonso Anes, casou com Inês Martins, filha de Martim Anes Furtado, e irmã da mãe de Pero Pacheco, que houve estes filhos: Simão, que faleceu moço e Ana Afonso, casada com Diogo Fernandes Gasalhado, de que não houve filhos, e Solanda Lopes, que casou com Afonso de Oliveira, de que houve muitos filhos. E este mesmo Afonso Anes, quarto filho de Afonso Anes da Costa, casou segunda vez com Breatiz Velha, filha de Gonçalo Velho, sogro de Jorge Nunes Botelho, de que houve uma filha, chamada Breatiz Velha, que casou com Fernão Pires do Quental, de que tem uma filha; e o dito Afonso Anes casou terceira vez com Joana Soares, filha de Francisco Soares, tio de Cristovão Soares, da Atalhada, da vila da Lagoa, de que houve um filho, chamado João Soares da Costa, sacerdote e beneficiado que foi na freguesia de S. Sebastião da cidade da Ponta Delgada. Faleceu este Afonso Anes, de alcunha o Mouro Velho, no dilúvio de Vila Franca.
O quinto filho de Afonseanes, chamado Diogo Afonso Cogombreiro, homem rico e poderoso, viveu primeiro em Vila Franca, e depois na Ponta Delgada, junto aonde agora está a ermida da Madre de Deus, que ele ordenava fazer em sua vida, e tendo já engalgadas as paredes, estando para a armar de obra de madeira, se desaveio no preço com Diogo Dias, carpinteiro, pelo que cessou a obra, até que sua mulher, depois do falecimento de seu marido, a fez acabar, fazendo-lhe Nicolau Fernandes a capela de abóbada, como agora está. Foi casado o dito Diogo Afonso com Branca Roiz Medeiros, filha de Rui Vaz Medeiros, da vila da Lagoa, de que houve estes filhos: o primeiro, Gaspar Carneiro, que casou com uma filha de João do Porto, chamada Catarina Dias, natural da ilha da Madeira, de que houve estes filhos: o primeiro, que faleceu solteiro nas Índias de Castela, o segundo, Diogo Afonso, que casou com Bartoleza Pais, filha de João de Teves, o terceiro, Pero Furtado, que casou com Maria Soares, filha de Gaspar do Monte, o Moço, e neta de Gaspar do Monte, o Velho, o quarto, Gaspar Carneiro, que faleceu frade de S. Domingos, em Coimbra.
Houve mais Gaspar Carneiro quatro filhas: a primeira, Guiomar Roiz, que casou com Vicente Anes, da casta dos Giraldos, gente honrada, que vieram do Algarve, de que houve muitos filhos e filhas; a segunda, Antónia Carneira, casou com João Esteves, viúvo, de que houve dois filhos e uma filha, um chamado Pedro Carneiro, casou com uma filha de João Jorge, o Moço, da vila de Água do Pau; o outro, chamado Manuel Carneiro, casou na cidade da Ponta Delgada com uma neta de Bertolameu Afonso Cadimo; outra, a que não soube o nome, casou com Bertolameu Afonso Giraldo, morador nos Mosteiros, de que tem duas filhas e um filho; e Branca Roiz, quarta filha de Gaspar Carneiro, casou com Álvaro Roiz, viúvo, de que houve filhos e filhas.
O quarto filho de Diogo Afonso, chamado Sebastião Afonso, casou com uma filha de André Manuel Pavão, da vila de Água do Pau, de que houve quatro filhas: as três faleceram solteiras e estão enterradas na ermida da Madre de Deus, que ordenou fazer seu avô Diogo Afonso da Costa; a outra casou com Sebastião Barbosa, filho de Estevão Nogueira e neto de Sebastião Barbosa da Silva, o Velho; outro filho de Sebastião Afonso casou com Maria de Froes, filha de Manuel de Froes, escrivão de Vila Franca; outro filho, chamado Aleixos Furtado de Mendonça, está na Mina. Este Sebastião Afonso, sendo, depois de muito velho, eremitão nas Furnas, teve um galo que pelejava cruamente com os homens que lhe cantavam como galo, ferindo-os com o bico e esporões, com tanta braveza, que não se podendo com um pau, uma vez, defender dele um homem, chamou “aque Delrei” sobre ele, arrancando a espada, com que ainda se não pudera valer, se outros os não apartaram, acudindo ao arruído. Teve também Diogo Afonso, quinto filho de Afonso Anes Cogombreiro, duas filhas: a primeira, D. Maria Medeiros, que foi casada com Francisco de Betancor, morgado, de que houve os filhos que direi na geração dos Betancores; a segunda, Isabel Carneira, que não casou.
O sexto filho de Afonso Anes, chamado Pedro Afonso da Costa, casou com D. Lianor Camela, filha de Fernão Camelo Pereira, fidalgo, e de D. Breatiz, sua mulher, de que houve três filhos: Sebastião de Sousa Pereira, que casou com D. Isabel, filha do Doctor Francisco Toscano, corregedor que foi com alçada nesta ilha, de que houve alguns filhos; Jorge Camelo Pereira, que casou com D. Margarida, filha de Pero Pacheco, de que não houve filhos; e uma filha, chamada D. Breatiz que casou com Francisco de Mendonça, filho de Mendo de Vasconcelos, fidalgo.
O sétimo filho de Afonso Anes, chamado Rodrigo Afonso, faleceu sem casar; o oitavo, por nome Jordão, faleceu moço.
Teve mais Afonseanes da Costa, três filhas: a primeira, chamada Branca Afonso, casou nesta ilha com Luís Gago, da vila da Ribeira Grande, de que houve os filhos que direi na geração dos Gagos; a segunda, Breatiz Afonso, casou com Hector Alvres Homem, fidalgo, morador na Agualva, termo da Vila da Praia, da ilha Terceira, do qual houve estes filhos: Diogo Homem, João Homem, Pedro Homem da Costa, e dois que morreram no mar, e uma filha, chamada Breatiz Homem, que casou com António Lopes, homem fidalgo.
Dizem também ter Afonso Anes da Costa outra filha, que casou com Félix Fernandes, fidalgo, que veio da ilha da Madeira, do qual teve três filhos, o primeiro, Hércules Fernandes, que foi para a Índia, o segundo, Diogo de Andrade, o terceiro, a que não soube o nome, que se foram fora desta terra e lá faleceram. Teve também três filhas: a primeira, Catarina de Rezende, que foi casada com João Mourato, a segunda, Iria de Rezende, casou com Rodrigo Anes, alcaide que foi na vila da Ribeira Grande, de que houve filhas: Ana Roiz, Iria Roiz, Maria de Andrade e um filho por nome António Roiz.
O que eu tenho por mais certo desta geração dos Colombreiros, conforme ao brasão que tem Jorge Camelo Pereira, filho de Pedro Afonso da Costa Cogombreiro, e neto de Rodrigo Anes da Costa Cogombreiro, é que o dito Rodrigo Anes Cogombreiro da Costa foi fidalgo muito honrado do tronco desta linhagem dos Costas, que dizem trazer sua origem da Torre de Moncorvo, donde se passaram ao Algarve, onde o dito Rodrigo Anes da Costa foi morador na Raposeira, e era da casa do Infante D. Henrique, que descobriu estas ilhas; e hoje em dia está ali na Raposeira uma torre que ele fez para agasalhar o Infante e Príncipes, quando lá iam. O qual Rodrigo Anes não veio a esta ilha, mas foram seus filhos morar à ilha da Madeira, no lugar que se chama o Caniço, e depois vieram de lá a povoar esta ilha, e moraram primeiro na Ponta da Garça, três irmãos, filhos do dito Rodrigo Anes da Costa: o mais velho, chamado Afonso Anes que, como disse foi casado com uma fuan Carneira, filha dum cidadão da cidade do Porto, de que houve filhos e filhas já ditos, ainda que outros somente dizem serem seis: Diogo Afonso da Costa, Vicente Afonso, Pedro Afonso, pai de Jorge Camelo, Afonso Anes, Mouro Velho, Rodrigo Afonso e Gabriel Afonso, e as filhas já ditas. O segundo, Joanne Annes da Costa; o terceiro, Pedro Anes da Costa. Joãne Ãnes veio casado com Isabel Borges, mulher nobre, da qual houve estes filhos: Afonso Rafael, que casou com uma filha de João Afonso, homem principal da Grota Funda, de que houve alguns filhos; o segundo, que casou com Maior da Ponte, filha de Ervira Alvres, e de seu pai não soube o nome, a qual Maior da Ponte era mãe de Pero da Ponte, o Velho; o terceiro filho de Joanne Annes Colombreiro se chamava Gonçalo Borges, dos principais de Vila Franca, que casou com Isabel de Povos, de Água do Pau. Teve mais este Joanne Annes Colombreiro seis filhas: a primeira, chamada Catarina Borges, que casou com Simão de Teves, letrado em leis, como direi na geração de João de Teves; a segunda se chamava Constança Rafael, que também casou honradamente com Francisco Anes de Araújo, de quem não houve filhos; a terceira se chamava Guiomar Borges, que foi casada com Gonçalo Anes Bulcão, do hábito de Santiago, bom cavaleiro, morador em Rabo de Peixe, da governança da vila da Ribeira Grande, de quem não houve filhos; a quarta se chamava Maria Borges, que também foi casada honradamente com Marcos Dias, cidadão da cidade de Vila Franca , viúvo, pai do padre Frei Gaspar Marques, confessor que foi das freiras do Mosteiro de Jesus, da vila da Ribeira Grande, de que houve muitos filhos, já defuntos; e outra Maria Borges, casada com Manuel Curvelo, da ilha de Santa Maria, de que não houve muitos filhos e filhas; a quinta se chamava Clara Anes, que não se casou; a sexta se chama Inês Borges, que não pude saber se foi casada.
Pero Anes Colombreiro, irmão de Joanne Annes Colombreiro, também morava na Ponta Garça. Casou e não sei o nome de sua mulher, de que houve os filhos seguintes: Joãne Anes que morou na Achada, e casou na vila da Ribeira Grande com Catarina Fernandes, filha de Fernão Dafonso, o Ruivo, de que houve três filhos: Gaspar Pires, e Baltazar Jaques e Fernão de Anes. Teve mais Joanne Ãnes, filho de Pedreanes, estas filhas: uma chamada Branca Jaques, que casou com um fuão Bastos , morador na Achada. Teve Joanne Annes outra filha, chamada Breatiz Delgada, que casou com Francisco Fernandes, da Achada, e depois de viúva casou segunda vez com Lopo Dias Homem, cavaleiro do hábito de Santiago, morador na Ribeira Grande, de que não houve filhos e aí faleceu. Têm os Colombreiros as armas dos Costas, que são um escudo com o campo vermelho e seis costas de prata em faixa, em duas palas, e alguns têm por diferença um trifólio de ouro, elmo de prata aberto, guarnecido de ouro, paquife de prata e vermelho, e por timbre duas costas de armas em aspa. Foram todos nesta terra mui valorosos, ricos e abastados, e sustentaram suas casas com cavalos, criados e escravos e grande família.
Como a casa do infante D. Henrique, que mandou descobrir estas ilhas , era quase uma religião observante de limpeza e virtudes, e uma escola de virtuosa nobreza, onde a maior parte da fidalguia do Reino se criou, por ele ser curador e zelador da criação dos fidalgos, para os doutrinar em bons costumes, deixando àparte os Velhos, que atrás disse virem de sua mesma casa, sendo também criados nela, como tais e generosos, Gonçalo Vaz Botelho, chamado o Grande, Afonso Anes, Rodrigo Afonso e Pedro Afonso Colombreiros. Gonçalo de Teves, almoxarife primeiro desta ilha, e Pero Cordeiro, seu irmão, escrivão do almoxarifado, Afonso Anes do Penedo, Vasco Pereira, João Pires, João Afonso d’Abelheira, e, segundo alguns afirmam, vindo também nesta companhia Jorge Velho, que casou depois com Africañes, Pero de S. Miguel e sua mulher Aldonça Roiz, João de Rodes e João de Arraiolos, que outros dizem de Araújo, todos naturais de África, criados do infante D. Henrique, e outras pessoas nobres; os mandou como primeiro seminário, ou nova colónia, o dito infante povoar esta ilha de S. Miguel, sendo Capitão dela Frei Gonçalo Velho, Comendador de Almourol, que ao tempo da chegada deles não pude saber se vinha no mesmo navio, se ficava no Reino, ou se porventura residia na ilha de Santa Maria, que então era mais povoada, por ser primeiro descoberta. Pelo que direi em a progénia de alguns deles e de outros que a povoaram o que pude alcançar, começando na de Gonçalo Vaz Botelho, que era mais velho que todos os primeiros e de muita autoridade entre eles.
Gonçalo Vaz Botelho, filho de Pero Botelho, Comendador-mor de Cristo, no Reino de Portugal, por ser tão abalisado fidalgo e muito favorecido antre outros fidalgos na casa do infante D. Henrique, que mandou descobrir estas Ilhas dos Açores, foi enviado por ele a povoar esta de S. Miguel de sua nobre geração, donde se chamou Gonçalo Vaz, o Grande, assim por ele o ser no corpo e condição, como por respeito de um seu filho, chamado Gonçalo Vaz, o Moço; o qual Gonçalo Vaz, o Grande, vindo a esta terra dez anos depois do seu descobrimento, trouxe consigo sua mulher, a que não soube o nome, da qual houve cinco filhos: Nuno Gonçalves, Antão Gonçalves, Gonçalo Vaz, o Moço, chamado Andrinho, João Gonçalves e Francisco Gonçalves. Nuno Gonçalves, primeiro filho de Gonçalo Vaz, o Grande, foi o primeiro homem que nasceu nesta ilha, de que sua mãe vinha prenhe; casou com Catarina Roiz, mulher muito nobre, e viveu no princípio em Vila Franca e depois no lugar de Rosto de Cão, pelo que se chamou Nuno Gonçalves de Rosto de Cão, por ter ali a melhor parte de sua fazenda. Teve de sua mulher dois filhos e três filhas, todos muito honrados e ricos, graves e grandiosos.
O primeiro, Jorge Nunes Botelho, foi casado com Margarida Travassos, filha de Gonçalo Velho Cabral, da geração dos Velhos, atrás ditos, da qual houve o primeiro filho, Nuno Gonçalves Botelho, que foi juiz dos Resíduos nesta ilha muitos anos, e casou com dispensação com Isabel de Macedo, sua prima segunda, de quem houve os filhos seguintes, todos valentes homens e para muito: o primeiro, Jorge Botelho, casou com Isabel de Sousa, filha de Joanne Anes, de que houve filhos e filhas; o segundo, André Botelho, que agora é morgado, e anda na Índia de Castela em serviço de el-Rei; o terceiro, Fernão de Macedo, chamado o Esquerdo, homem de bons espíritos e grandes forças e muito valente de sua pessoa, como tem mostrado na Índia, onde esteve, e nesta ilha e em outras muitas partes, o qual casou com uma fidalga , por parte da qual espera de herdar um rico morgado, sobre que traz demanda; o quarto, Manuel Cabral, casou com Inês Ferreira, filha de Baltazar Ferreira, de que tem filhos e filhas; o quinto, Pero Botelho, está casado com Leonor Vaz, que tem muitos e nobres parentes na vila da Praia da ilha Terceira; o sexto, Jerónimo Botelho, que casou na ilha de Santa Maria. Teve também Nuno Gonçalves Botelho uma filha, por nome Guiomar Botelha, casada com João Mendes, irmão de António Mendes Pereira, de que houve dois filhos: André Botelho e Manuel Botelho, e duas filhas: Isabel Macedo e outra, freira no mosteiro de Vila Franca.
Houve mais Jorge Nunes Botelho, de sua mulher, outro filho, chamado Manuel Botelho Cabral, que, depois de ser alguns anos contador nesta ilha, se foi para a Índia, onde casou rico e está servindo a el-Rei, e é homem para muito, grandioso, muito discreto, de grandes espíritos e generosa condição, muito privado do viso-Rei da Índia, D. Luís de Ataíde; partiu de Lisboa em sua companhia a seis de Abril da era de mil e quinhentos e sessenta e oito, o qual, entrando na nau, mandou que todos obedecessem ao dito Manuel Botelho, como a sua própria pessoa, e assim se fez em toda a viagem; e chegando lá a dez de Outubro do dito ano, em uma de duas embarcações que vieram de terra, o mandou o dito viso-Rei com recado ao outro, que em terra estava, fazendo-lhe a saber de sua chegada; na qual honra foi invejado de muitos, por ser havido por mais apto para esta embaixada que outros muitos fidalgos, que na companhia iam; e é tão prudente e discreto e grave, que soube bem representar o negócio a gosto do mesmo viso-Rei e seu, e de todos os que o viram e foram presentes, de que o acompanharam mais de trezentos homens de cavalo até a pousada de António Botelho, seu parente, onde se foi agasalhar; e não somente é servido dos da terra, mas do viso-Rei, que o levou a ela, recebia cada dia muitas honras e mercês. Tem muitos cargos de que tira muitos proveitos, e um só serve, importante e de honra, com larga jurdição e alçada e que dá dinheiro a quem o souber guardar, se não caíra nas suas mãos, que teve sempre abertas e liberais, pelo que não pode poupar muito, com os grandes gastos que se lhe oferecem cada dia e principalmente muito mais excessivos no ano de mil e quinhentos e setenta e um, por razão da grande guerra que houve na cidade e ilha de Goa, pela ter de cerco o Hidalcão, poderoso Rei vizinho, nove meses, com cento e cinquenta mil homens de peleja, em que entravam trinta e seis mil de cavalo, e setecentos elefantes, armados os mais deles, que é uma das maiores forças que os Reis lá têm na guerra, e outra tanta gente e poder lhe ficava guardando suas terras e fortalezas. Com o qual cerco deu muito trabalho aos portugueses e houve com ele muitos recontros e perdas de parte a parte, até que o alevantou, com deixar perto de quinze mil homens mortos no campo e muitos elefantes e cavalos, e dos nossos morreriam duzentos. No qual tempo houve outro cerco em uma cidade, sessenta léguas de Goa, que se chama Chaúl, onde foi também em pessoa o Issa-Maluco, poderoso Rei, confederado em o mesmo tempo com o dito Hidalcão, com outra tanta gente e elefantes, que também se alevantou no cabo dos noves meses, que se acabaram no Agosto de setenta e um anos, indo desbaratado, com perda de trinta mil homens dos seus; e dos nossos, quatrocentos morreram, de mil e quinhentos que eram somente na defensão da cidade, sem muros. Neste conflito e cerco de Goa gastou Manuel Botelho Cabral tanto dinheiro , que ficou na espinha. O que teve por bem empregado, pelo gosto que recebia em o fazer, e pelas honras que ganhava em assaltos, combates e batalhas, em que se achou como muito esforçado e prudente capitão, ganhando a todos, assim nas mesas e iguarias que dava, como nas dianteiras na guerra. O cargo que agora tem na Índia, de grande autoridade e jurdição, tem o nome antigo de escrivão da matrícula; porém, em si, é provedor dela, porque tem jurdição, e julga, e manda prender e soltar e tem muitos oficiais d’ante si, tendo cada um de ordenado cento e quarenta mil reis por ano, afora os percalços, que valem outro tanto e são quatro contínuos; e quando há paga dos soldados, que na mesa se faz, são seis, afora um feitor de el- Rei, que lhe dá o dinheiro, e um meirinho com doze peães para afastar a gente, que é mesa onde vai o viso-Rei em pessoa, posto em armas, acompanhado dos capitães, fidalgos e soldados, a receberem seu soldo. E quando isto acontece, como já em seu tempo havia acontecido algumas vezes, lhe largava Manuel Botelho a sua cadeira, por lhe fazer bom gasalhado, e ficava em uma rasa, e não há outras na casa, por mais monarcas que nela estêm e, do viso-Rei abaixo, todo género de homem vivo e os que lá requerem pelos mortos, a ela vão e tomam dele, Manuel Botelho, o gasalhado que lhe quere fazer na honra do assento. O despacho das naus do Reino pende da mesma mesa um grande pedaço, que outro pertence ao vedor da fazenda, que faz a carga. Todo homem, que se vai com licença, nesta mesa se despacha e com certidão por ele assinada se apresenta para ser admitido em seus requerimentos no Reino, e se dali a não leva, não tem despacho. O dinheiro dos mortos da mesma mesa se manda por um caderno, para saber quanto é e cujo, para Sua Majestade o mandar pagar a seus herdeiros. E, além destas coisas, tem outras muitas que acreditam e engrandecem o cargo.
Outro filho tem Jorge Nunes Botelho, que chamam André Botelho Cabral, ainda solteiro, de magnífica, macia e grandiosa condição e muita prudência, esforçado cavaleiro e valente soldado, digno de grandes cargos, sem os quais não estivera, se saíra desta ilha a outras partes do Reino ou fora dele; e mora na cidade da Ponta Delgada, nas suas formosas e graves pousadas de seu pai, o qual pelas obras que fez e esforço que mostrou contra os franceses, na defensão desta ilha, lhe deu Sua Majestade o hábito de Cristo, com boa tença. Houve mais Jorge Nunes uma filha, por nome Guiomar Nunes, que foi casada com Pero Pacheco, homem principal e fidalgo, como direi na progénia dos Pachecos, filho de Antão Pacheco, que foi ouvidor do Capitão nesta ilha, em Vila Franca, antes do dilúvio, e nele faleceu. O qual Pero Pacheco tem duas filhas, uma que se chama D. Filipa, que foi casada com Marcos Fernandes, homem nobre, que veio muito rico da Índia de Portugal, onde serviu a el-Rei, da qual houve filhos: Miguel Pacheco, que casou com Susana Pereira, neta de João Tavares, filha do bacharel Miguel Pereira e de Caterina Tavares; e houve Marcos Fernandes, da dita D. Filipa, outro filho, que chamam João Pacheco, muito valente homem, que casou com D. Breatiz, filha de Belchior de Betancor; teve mais Marcos Fernandes, de sua mulher, outro filho, chamado Antão Pacheco, de boas partes e grandes espíritos, ainda solteiro . Houve mais o dito Marcos Fernandes uma filha, chamada Guiomar Nunes, beata de raras virtudes. E por falecimento de Marcos Fernandes, casou D. Filipa com António de Sá de Betancor, fidalgo do hábito de Cristo, filho de Simão de Betancor e de D. Margarida Gaga, filha de Luís Gago, morador que foi na Ribeira Grande; e casou com dispensação com ela, por serem parentes ambos no terceiro grau, do qual houve duas filhas, sc., D. Maria Pacheca, que casou com Simão Lopes de Andrade, e D. Breatiz com Manuel de Andrade, ambos ricos e cidadãos do Porto, irmãos de rara habilidade . A outra filha de Pero Pacheco, que chamam D. Margarida, casou com Jorge Camelo da Costa, fidalgo, filho de Pedro Afonso Colombreiro, de que não houve filhos, e mora na sua quinta e fazenda das Feiteiras e é homem de boa renda e de muito mais virtudes, muito liberal, devoto e prudente, e fez uma rica ermida, junto de suas casas, em que gastou mais de três mil cruzados de sua fazenda.
Outra filha de Jorge Nunes Botelho casou com Fernão Correia de Sousa, fidalgo dos Correias e Furtados e Sousas, da ilha da Madeira , primo do dito Pero Pacheco, da qual teve uma filha, que se chamava Maria da Madre de Deus, freira que fez profissão no mosteiro de Jesus da Ribeira Grande, em vida de seu pai, antes do incêndio, sendo abadessa Maria de Cristo, de grande virtude e prudência, irmã de seu pai, e no dito mosteiro faleceu. Este Fernão Correia veio da ilha da Madeira e trouxe consigo duas irmãs, sc., Catarina de Sousa, que casou com Duarte Ferreira, escrivão da cidade, sobrinho de Jorge Nunes Botelho, e Maria de Cristo, que meteu freira em Vila Franca, e daí veio para abadessa da Ribeira Grande e depois do mosteiro de Santo André da cidade, onde agora está. Teve Jorge Nunes Botelho outra filha, que casou com António Fernandes Bicudo, filho de Fernão de Anes, de Leça do Porto, que estava na vila da Ribeira Grande com trato mui grosso, e houve muita fazenda, que tem agora o doctor Francisco Bicudo; e morreu sem haver filhos de sua mulher. Outra filha teve Jorge Nunes, chamada D. Roqueza, que casou com Francisco do Rego de Sá, filho de Gaspar do Rego Baldaia e de D. Margarida de Sá, de que não tem filhos, e casaram com dispensação, por serem parentes.
Outro filho teve Nuno Gonçalves, filho de Gonçalo Vaz, o Grande, que chamavam Diogo Nunes Botelho, que foi contador nestas ilhas todas dos Açores, e no primeiro ano que serviu o dito ofício, que era seu próprio, faleceu na sua quinta em Rosto de Cão, onde morava e tinha sua fazenda. Era cavaleiro do hábito de Cristo; foi casado com Isabel Tavares, filha de Rui Tavares, morador na Ribeira Grande, homem fidalgo, dos Tavares de Portugal, muito rico e principal; o qual tem de sua mulher estes filhos: o primeiro, Simão Nunes, que casou com uma sobrinha de Mestre Gaspar, o Velho , de que houve uma filha, que é freira professa em Vila Franca; o segundo filho de Diogo Nunes, que se chamava Manuel Nunes Botelho, foi casado com Hilária de Lemos, mulher fidalga, da qual houve uma filha, que casou com Gaspar do Rego, filho de João do Rego Beliago. Teve Diogo Nunes outro filho, que chamam Jorge Nunes Botelho, homem de muita nobreza, prudência e saber, que casou com uma filha de Adão Lopes, de Rabo de Peixe, dos principais e ricos da terra, da qual houve, afora outros, um filho chamado Rui Tavares que, estudando leis, faleceu em Coimbra e imitava bem a seu pai na prudência e saber; afora outras duas filhas, que tem no mosteiro de Vila Franca, e outra, chamada Isabel Tavares, que casou com Pero de Faria, da geração dos Farias, fidalgos deste apelido, sobrinho de António Lopes de Faria, da vila da Alagoa; e um filho de grandes esperanças, que faleceu de pouca idade, e outra filha, menina .
Vive este Jorge Nunes com grande concerto em sua casa, mais que muitos dos moradores da ilha, conservando e acrescentando, e não diminuindo tudo o que de seu pai lhe ficou. Em sua fazenda tem um rico pomar, que somente de laranjeiras tem cento e sete, afora outras muitas fruteiras, como adiante direi.
Teve mais Diogo Nunes quatro filhas, freiras professas no mosteiro de Vila Franca, Maria de S. João, Maria de Assunção e Isabel da Madre de Deus, vivas, e outra que faleceu.
Houve mais o dito Nuno Gonçalves, filho de Gonçalo Vaz, o Grande, uma filha, chamada Isabel Nunes Botelha, que casou com Sebastião Barbosa da Silva, fidalgo mui discreto e generoso e grande dizedor, que morava na sua quinta da Fajã, termo da cidade da Ponta Delgada, onde tinha sua fazenda, e ali faleceu, sendo muito velho; e teve os filhos que direi na progénia dos Barbosas. Houve mais Nuno Gonçalves uma filha, que casou com Gonçalo Pedroso, cidadão do Porto e lá foi morar, de quem houve alguns filhos, um dos quais se chamava Pedro Borges, que era grande letrado e esteve por corregedor em Santarém e em outras partes do Reino, e faleceu na Índia, tendo lá um cargo honroso. Teve mais Nuno Gonçalves, filho de Gonçalo Vaz, o Grande, uma filha, chamada Margarida Nunes, que foi casada com um Henrique Ferreira, homem honrado, cavaleiro da guarda de el-Rei, de que houve um filho, chamado Duarte Ferreira, que foi escrivão na cidade da Ponta Delgada; e uma filha que casou em Portugal com um criado de el-Rei.
Teve Nuno Gonçalves Botelho grossa fazenda no lugar de Rosto de Cão, que partia da ermida de Santa Maria Madalena e chegava às portas do Biscoutal Grande, que será meia légua todo de terras de pão e vinhas, e cingindo a ilha pelo meio, começando do mar do sul, fenecia da outra parte do norte, até emparelhar com o lugar de Rabo de Peixe, em pouco menos largura, águas vertentes de ambas as partes, que agora possui o grão capitão Francisco do Rego de Sá; afora outras grandes fazendas que têm seus herdeiros na Povoação Velha e em outras partes desta ilha, como pessoas nobres, ricas e poderosas que eles sempre foram.
Teve mais Gonçalo Vaz Botelho, o Grande, um filho, por nome Antão Gonçalves Botelho, que foi o segundo homem que nasceu nesta ilha, o qual casou e houve uma filha, chamada Breatiz Gonçalves Botelha, que casou com Pero de Novais, avô dos Serrãos , de que houve os filhos que direi na geração dos Serrãos , Novais e Quentais.
O terceiro filho de Gonçalo Vaz, o Grande, chamado Gonçalo Vaz, o Moço, e também Gonçalo Vaz Andrinho foi casado com uma filha de Pero Cordeiro, tabalião das notas de Vila Franca e de toda a ilha, um dos primeiros homens que veio a ela, da qual houve estes filhos: o primeiro deles se chamou Gaspar Gonçalves, ao qual matou um touro, sendo solteiro; o segundo, André Gonçalves de Sampaio, o mais rico homem que houve nesta terra em seu tempo, e por isso lhe chamavam o Congro, que dizem ser o maior peixe do mar, dos que se comem, o qual casou com Guiomar de Teives, filha de João de Teives, almoxarife desta ilha, que morava em Vila Franca, irmão de Pero de Teives, da Calheta, e irmão do licenciado João de Teives, que foi corregedor em Castelo Branco e morreu em serviço de el-Rei, da qual não teve filhos. Teve o dito Gonçalo Vaz, o Moço, outro filho, que chamavam Sebastião Gonçalves, que casou com Margarida Pires , filha de Aires Pires Cabral, da primeira mulher, marido que foi depois de Margarida Mendes, a qual Margarida Mendes era irmã da mulher de João de Arruda da Costa; e a este Sebastião Gonçalves mataram os filhos de Rui Lopes Barbosa, sc., Sebastião Barbosa e Brás Barbosa, por uma afronta que tinha feito a seu pai. O qual Sebastião Gonçalves teve de sua mulher Margarida Pires uma filha, chamada também Margarida Pires, que casou com Gaspar do Rego Baldaia, da qual houve o dito Gaspar do Rego os filhos que direi na geração dos Regos. Teve mais Gonçalo Vaz Andrinho, o Moço, outra filha que casou com Fernão de Macedo, homem fidalgo, irmão do Capitão do Faial, do qual houve os filhos seguintes: Jerónimo Teixeira, que foi casado com Margarida Barbosa, filha de Rui Lopes Barbosa, que morou na cidade, na Calheta de Pero de Teives, de que não houve filhos; teve mais Fernão de Macedo outro filho, chamado Manuel de Macedo, que casou a furto na Maia, termo da Vila-Franca, com uma mulher nobre, de que teve poucos filhos e todos faleceram; o qual Manuel de Macedo mataram na cidade à besta, sendo valentíssimo homem. Teve mais o dito Fernão de Macedo uma filha, chamada Isabel de Macedo, que casou com Nuno Gonçalves Botelho, filho de Jorge Nunes, de que houve os filhos já ditos na geração de Nuno Gonçalves, filho de Gonçalo Vaz, o Grande. Teve mais o dito Fernão Vaz de Macedo outra filha que casou com Gaspar Homem da Costa, fidalgo, morador em Vila Franca do Campo, de que houve muitos filhos. Além destas duas filhas casadas, teve Gonçalo Vaz Andrinho, o Moço, filho de Gonçalo Vaz, o Grande, quatro filhas, a que não soube o nome ; algumas das quais casaram, uma com um Luiseanes, cuja foi a fazenda de Cristovão Soares na Atalhada da Vila da Alagoa, outra com outro homem, a que não soube o nome, e de nenhuma delas há posteridade viva.
João Gonçalves, quarto filho de Gonçalo Vaz, o Grande, foi casado; não pude saber o nome de sua mulher , de que houve os filhos seguintes, sc., João de Arruda da Costa, morador em Vila Franca, homem muito principal e rico, nesta ilha, o qual casou com Catarina Favela, natural da ilha da Madeira, irmã de Margarida Mendes, da cidade da Ponta Delgada, que foi mulher de Aires Pires Cabral, de que houve os filhos que direi na geração dos Costas. De João Gonçalves, quarto filho de Gonçalo Vaz, o Grande, e de sua mulher, a que não soube o nome, nasceu outro filho, chamado Pero da Costa, que se deitou ao mar para sustentar Arzila; o qual Pero da Costa foi casado com uma irmã de Lopo Barriga, viúva, que fora mulher de D. João de Meneses, da qual houve um filho, chamado Henrique da Costa, o qual Henrique da Costa indo em o campo correndo contra os mouros, lhe deu um junco em um olho, de que ficou cego de ambos, e até ali se achou ser sempre um cavaleiro muito esforçado, enquanto teve vista, pelo que el-Rei lhe fazia muitas mercês. Recebeu por mulher, à hora de sua morte, uma Caterina Romeira, de que lhe ficou uma filha , que casou com João de Robles, castelhano nobre, de que não tem filhos. Teve mais João Gonçalves uma filha, por nome Maria Roiz, a qual casou com Rui Martins Furtado, de que houve dois filhos, António Furtado e Jorge Furtado, grandes de corpo, muito valentes, discretos, músicos e bons cavaleiros, de que tratarei adiante na geração de Martim Anes Furtado, pai do dito Rui Martins; o qual falecido, casou ela segunda vez com o bacharel João Gonçalves, morador no lugar de Rosto de Cão, do qual não houve filhos, e, falecendo ela primeiro, ficaram os filhos do primeiro marido ricos, com trinta moios de renda cada um, afora casas e muito móvel de gado, escravos e outra fazenda. E ficando o bacharel viúvo, casou com Francisca de Medeiros, filha de Lopo Anes de Araújo, morador em Vila Franca, como direi quando tratar dele.
Teve mais Gonçalo Vaz, o Grande, o quinto filho, chamado Francisco Gonçalves, que faleceu sem ter filhos. Se Gonçalo Vaz, o Grande, teve algumas filhas, não o pude saber, por serem coisas mui antigas. As suas armas, dos Botelhos e dos seus descendentes, de que têm seu brasão, são as seguintes: um escudo com o campo de ouro e quatro bandas de vermelho; elmo de prata aberto, guarnecido de ouro; paquife de ouro e de vermelho; e por timbre um meio leão de ouro, banda de vermelho, e alguns têm por diferença uma merleta de prata. Os quais primeiros descendentes foram homens poderosos, ricos e abastados, e tiveram grandes casas, vivendo à lei de nobreza, com cavalos, criados e escravos, e grande família.
Segundo dizem, a nobre progénia dos Favilas procede do conde de Favilha e do conde D. Pelayo, asturianos, que ajudaram a ganhar a Espanha perdida, em tempo de el-Rei D. Rodrigo; por terem perto de Olivença, no extremo de Castela e Portugal, onde moravam, grandes diferenças com alguns seus imigos, se vieram viver a este Reino, entre os quais veio um João Favela, que el-Rei D. Afonso, o quinto, casou com Breatiz Coelha, dama de sua casa, sobrinha ou filha de um irmão do Coelho, a que tiraram o coração pelas costas, por ser leal a este Reino , e o Príncipe, depois de seu pai morto, o matou com este género de morte, por se vingar dele. Houve João Favela desta Breatiz Coelha estes filhos: o primeiro, Fernão Favela, que casou na ilha da Madeira, onde estava seu tio Nuno de Atouguia, provedor da Fazenda de el-Rei na dita ilha; o segundo, João Favela, homem nobre e de grande fama, também casou na mesma ilha; o terceiro, Bertolameu Favela, o qual teve uma filha que casou com Diogo Mascarenhas, fidalgo muito parente do conde de Castelhar e sobrinho de D. Pedro Mascarenhas, que nestes Reinos eram fidalgos marcados.
Houve mais João Favela, de sua mulher Breatiz Coelha, um filha, chamada Catarina Favela, com a qual casou João de Arruda da Costa, filho de João Gonçalves Botelho e de Isabel Dias da Costa, sua mulher, e neto de Gonçalo Vaz Botelho, o Grande, que veio povoar esta ilha, como já disse. De João de Arruda da Costa e de sua mulher Catarina Favela nasceram os filhos seguintes: Amador da Costa, Pero da Costa, Francisco de Arruda da Costa, Manuel da Costa, Isabel Dias da Costa, que depois se chamou Isabel do Espírito Santo, e Maria da Trindade, freiras professas de muita virtude e algumas vezes abadessas no mosteiro de Santo André de Vila Franca e Bartoleza da Costa e Breatiz da Costa.
Amador da Costa casou com Bárbara Lopes, filha de Álvaro Lopes do Vulcão, homem muito honrado e rico, de que houve filhos: Manuel da Costa e António da Costa, que foi para as Índias de Castela, e Álvaro da Costa, todos solteiros, homens para muito; e filhas: Isabel Dias, mulher que foi de António Borges de Gamboa, filho de Baltezar Rebelo, morador à Calheta de Pero de Teves, e de Guiomar Borges; e outras seis filhas, freiras no mosteiro de Vila Franca, muito boas religiosas, que às vezes são abadessas e vigairas. Deixou Margarida Mendes um rico morgado a Amador da Costa, que ficou a seu filho Manuel da Costa, sobrinho de Margarida Mendes, sua tia, meia irmã de sua avó Caterina Favela; a qual Margarida Mendes era filha de Rui Pires, irmão de Vasco Pires, os quais eram dois cavaleiros, os mais afamados, que havia em tempo de el-Rei D. Afonso; e por serem tais lhe queria el-Rei tanto, que, quando estavam à sua mesa, estavam assentados e, por não haver confusão nos outros, tomava el- Rei por causa que por terem os pés pequenos o fazia. E depois de morto Rui Pires, que era casado com Breatiz Coelha, pai e mãe de Margarida Mendes, ficou no paço de el-Rei D. Afonso a dita Breatiz Coelha viúva, e veio João Favela do extremo de Castela, por certa causa já dita, e como era fidalgo, andando no paço, tendo el-Rei conhecimento dele, o casou com Breatiz Coelha, mulher que foi do dito Rui Pires, pai e mãe da dita Margarida Mendes; a qual nasceu em Évora, onde teve e tem muitos parentes, muitos honrados e fidalgos, dos Mendes.
E depois que João Favela casou com Breatiz Coelha, trouxe consigo para esta terra a Margarida Mendes, por ser filha de sua mulher; e aqui houve João Favela os três filhos já ditos, e a filha, chamada Caterina Favela, a qual foi casada com João de Arruda da Costa, nesta ilha de S. Miguel, e era meia irmã de Margarida Mendes, por ser filha de Rui Pires e Caterina Favela ser filha de João Favela; e por ser Margarida Mendes, meia irmã de Caterina Favela, e Amador da Costa seu sobrinho, lhe deixou o morgado no qual soccedeu a Manuel da Costa, filho de Amador da Costa e neto da dita Caterina Favela; o qual morgado começa da praça da cidade da Ponta Delgada, começando do mar da banda do sul, até ver o mar da banda do norte desta ilha.
Os três filhos de João Favela e de Breatiz Coelha se criaram na ilha da Madeira, depois da morte de seu pai, em casa do provedor Nuno de Atouguia, seu tio; viveram muito ricos e honrados, à lei de fidalgos, como eles eram, e assim vivem os filhos, netos e bisnetos do dito João de Arruda e Caterina Favela, sobrinhos da dita Margarida Mendes, nesta ilha de S.
Miguel, e por esta causa herdou Manuel da Costa dela o dito morgado da praça , afora outro que tem de seu bisavô João Gonçalves Botelho, em Rosto de Cão, termo da cidade.
Nuno de Atouguia, tio de Caterina Favela e dos três irmãos, foi na ilha da Madeira o mais próspero fidalgo que em seu tempo nela havia, e como tal o fez el-Rei provedor e veador de sua fazenda, que era o melhor cargo que nela houve; e de el-Rei era muito conhecido, tendo diante dele grande nome, e era da geração dos Favelas. O qual casou uma filha com João Esmeraldo, que foi outro segundo o sogro e mais, e também provedor, fidalgo tão rico e poderoso que o Capitão lhe não pôde nunca fazer avesso nem direito em nada, e deixou um morgado de mais de dois contos e meio de renda.
Da progénie dos Favelas, há Fernão Favela de Vasconcelos, neto de Fernão Favela e filho de António Favela, que é rico morgado e vive à lei de fidalgo, como foram seus avós.
O segundo filho de João de Arruda da Costa, chamado Pero da Costa, homem muito principal, rico de fazenda e de virtudes, cidadão, morador em Vila Franca, casou com uma filha de João Álvares do Olho , da cidade da Ponta Delgada, de que houve dois ou três filhos que faleceram com sua mãe. E depois casou, segunda vez, com uma filha de Rui Tavares , morador na vila da Ribeira Grande, da qual houve os filhos seguintes: o primeiro, João de Arruda, que casou com D. Guiomar da Cunha, filha de Heitor Gonçalves Minhoto, e neta de João Soares, Capitão da ilha de Santa Maria, de que houve três ou quatro filhos; o segundo, Rui Tavares, que é casado com uma filha de Gabriel Coelho, de que teve duas filhas, que morreram com a mãe. Depois casou com Maria de Sousa , mulher de grande virtude e prudência, filha de Pero Roiz Cordeiro, cidadão de Vila Franca, de que não tem filhos. Houve mais Pero da Costa, de sua segunda mulher, algumas filhas, duas das quais, Catarina de São Miguel e Caterina de Santiago, são freiras professas e boas religiosas, no mosteiro de Vila Franca. E outra filha, por nome Isabel Tavares, que faleceu em casa de seu pai, mulher de meia idade, a qual, sendo dantes muito galante e fermosa, quando pretendia casar virou as costas ao mundo, saindo-lhe muitos e ricos casamentos; e fazia vida santa e abstinente, dando os ricos vestidos às igrejas e pobres, com quem repartia largas esmolas, e, andando vestida como beata, acabou bemaventuradamente; cuja morte foi sentida de todos e muito mais dos pobres, a quem ela dava vida. E deixou por seu falecimento muitas esmolas, fazendo-se os ofícios de seu enterramento, a que se acharam presentes muitos religiosos e cleresia e muita gente nobre de toda a ilha, com grande choro e sentimento de todos que foram convidados aquele dia em casa de seu pai, que comeu com eles à mesa no convite, por lho a filha deixar encomendado e ser ele tão prudente, que com todo seu sentimento e nojo da absência de tal filha, quis celebrar as exéquias de sua morte com sumptuoso banquete, como se fora o dia que a casara, sabendo certo que a casava com Deus, verdadeiro esposo de sua alma.
O terceiro filho de João de Arruda da Costa, chamam Francisco de Arruda da Costa; é homem de grandes espíritos, prudente, discreto, de muito liberal condição, a quem se encomendam nesta ilha todos os cargos de importância, assim de el-Rei, como do povo, de que ele dá a conta que de sua prudência e pessoa se espera. Serviu já de juiz do mar e contador, e de capitão-mor das ordenanças, e de provedor da Misericórdia muitas vezes e de outros cargos semelhantes, digno de muitos maiores e de vida perpétua para amparar a Pátria, como pai que é dela. Ao qual deu Sua Majestade o hábito de Cristo, com boa tença, e outras mercês de grandes favores. E casou com Francisca de Viveiros de Sousa, filha de Gaspar de Viveiros, homem de muita nobreza e riqueza, de que houve os filhos seguintes: o primeiro, Amador da Costa, que casou com Isabel Pereira, filha de Pedro Afonso Pereira, de que tem alguns filhos; o segundo, Damião da Costa, que está servindo a el-Rei na Índia, onde casou com Maria Salema, mulher de muita qualidade e grandemente rica; o terceiro, Sebastião da Costa, que casou com Maria Sens, filha de Pero de Maeda, de nação biscainho, mestre das obras e fortificações de El-Rei, nesta ilha, de que tem alguns filhos. Tem mais Francisco de Arruda uma filha, chamada D. Maria de Arruda, casada com João de Melo, nobre fidalgo, filho de Manuel de Melo e neto do contador Martim Vaz Bulhão, o qual por ser quem é, pessoa de muita prudência e virtude, sendo vreador , foi pela cidade da Ponta Delgada dar a obediência ao mui alto, poderoso e católico Rei Filipe, que lhe deitou o hábito de Cristo, com boa tença; tem de sua mulher um filho, chamado como seu pai João de Melo. Tem mais Francisco de Arruda três filhas, freiras professas, e uma solteira, chamada Cosma da Costa, de grande merecimento e virtude, e outras que faleceram.
Houve mais João de Arruda da Costa, de sua mulher Catarina Favela, estas filhas: a primeira, Bartoleza da Costa, que casou com Jorge da Mota, viúvo, cavaleiro do hábito de Aviz, da geração dos Motas e Osouros , que são fidalgos neste Reino, de que houve os filhos seguintes: o primeiro, João da Mota, que casou, a primeira vez, com uma filha de João Roiz, dos Fenais da Maia, de quem houve um filho, chamado Manuel da Mota, do hábito de Cristo, casado primeiro com uma filha de Belchior Gonçalves, e depois com Paula da Maeda. E casou João da Mota, segundariamente , com Breatiz de Medeiros, filha de Lopeanes de Araújo, de que tem alguns filhos. O segundo filho de Jorge da Mota, Manuel Favela, casou com Violante Mendes, filha de António Mendes Pereira, de quem tem alguns filhos; mora na Vila Franca, na quinta que foi de seu pai, imitando-o tanto na discrição e virtude, como na riqueza e nobre condição. O terceiro filho de Jorge da Mota, chamado Francisco da Mota, faleceu solteiro. Teve mais o dito Jorge da Mota, da segunda mulher, cinco filhas: Guiomar da Cruz, Maria de Santa Clara, Catarina de São João, Ana de São Miguel, Úrsula de Jesus, todas freiras professas, de grande religião e virtude, no convento de Santo André de Vila Franca, onde serviram e servem os melhores cargos; e Guiomar da Cruz foi também abadessa no mosteiro de Santo André, da cidade da Ponta Delgada. Houve mais Jorge da Mota, de sua mulher Bartoleza da Costa, uma filha chamada Clara da Fonseca, que casou primeiro com Manuel Lopes Falcão, filho de António Lopes, da Relva, de quem houve um filho, por nome Manuel Botelho, agora casado na Ribeira Grande com Maria Correia, filha de Sebastião Jorge Formigo e de Joana Tavares; e uma filha, freira professa no mosteiro de Vila Franca, chamada Maria de São Bento. E, falecido Manuel Lopes, casou Clara da Fonseca com António Pacheco, fidalgo, cidadão de Vila Franca, filho de Mateus Vaz Pacheco, de Porto Formoso, de que houve alguns filhos.
Houve mais João de Arruda da Costa duas filhas, freiras professas no mosteiro de Vila Franca, chamadas Isabel do Espírito Santo e Maria da Trindade, de muita virtude e grande exemplo na religião, pelo que serviram de abadessas e vigairas muitas vezes. Teve também João de Arruda da Costa uma filha, chamada Breatiz da Costa, que casou com Manuel do Porto, cidadão da cidade do Porto, homem muito honrado, prudente, discreto e rico, da qual houve estes filhos: o primeiro João de Arruda da Costa, que casou com Maria Mendes, filha de António Mendes Pereira, dos Mendes e Pereiras do Reino, de que tem muitos filhos e filhas, uma das quais, chamada Catarina Favela, casou com Cristovão Paym, fidalgo dos Payns, da Vila da Praia da ilha Terceira , o segundo, Manuel da Costa, letrado em Cânones, bom sacerdote e religioso na Companhia de Jesus. O terceiro, chamado Bertolameu Favela, que casou na ilha Terceira com Justa Neta, filha de João Álvares Neto, fidalgo e grande cavaleiro, que andou muitos anos em África, quando lá estava Vasque Annes Cortereal, e foi muito tempo provedor-mor das armadas e das naus da Índia, Mina e Guiné, da dita ilha, arrecadando, sendo almoxarife, todos os rendimentos dela para Sua Alteza, e foi homem de muita valia antre todos os que, em seu tempo, foram naquela terra. Houve Bertolameu Favela, de sua mulher, um filho que faleceu moço; o qual Bertolameu Favela, neto de João de Arruda da Costa e bisneto de João Gonçalves Botelho e trisneto de Pero Botelho, comendador-mor que foi de Cristo, no Reino de Portugal, como descendente de tais pessoas, por serviço de Deus e de el-Rei, e por satisfazer à obrigação de sua nobreza, andando pelejando a armada de el-Rei de Portugal, de que era capitão Pero Correia de Lacerda, fidalgo de sua casa, contra três navios ingreses de cossairos , que andavam entre São Jorge e a ilha Terceira, se ajuntou de seu próprio moto João Betencor de Vasconcelos e Aires Jácome Correia, fidalgos da casa de el-Rei, e tomando um batel de pescar, muito pequeno, em que não cabiam mais que os remadores e eles, com um Gaspar Estácio, cidadão e nobre da Terceira, se foram todos quatro acudir à dita armada, por saberem não ter gente para se defender, como era necessário; e por serem dos primeiros que chegassem, partiram assim em barco tão pequeno, no qual, por ser o mar tão grosso, correram risco de se perderem por mais que de terra eram chamados por muita gente de cavalo que se tornassem por não perecerem: e eles, estimando mais sua honra que sua vida, sem querer tornar atrás, seguiram seu caminho adiante, onde quase milagrosamente foram ter com a armada, sem a verem, nem aos imigos que contra ela eram, porque havia tanta briga e guerra antre eles que não enxergavam navio algum com a grande fumaça das muitas bombardas, que uns aos outros atiravam. Os quais, por antre estes perigos e obscuridade, foram ter com o capitão-mor, passando muito risco do mar e da artelharia, e chegando às dez horas do dia entraram no galeão, onde se ofereceram todos quatro ao capitão para serviço de seu Deus e de seu Rei, começando logo a ajudar e pelejar com seus arcabuzes, ajudando a assestar a artelharia, animando aos soldados, dizendo-lhe que de terra vinham muitos arcabuzeiros em seu favor. Passado aquele dia, em que pelejaram varonilmente até noite, chegaram em anoitecendo vinte arcabuzeiros de terra e com eles dentro guerrearam continuamente com os imigos três dias e três noites, sem nunca descansarem; e por trazerem mais atormentados os contrários, deixavam a artelharia atacada de dia, para de noite a disparar neles; no dia que chegaram, mataram dos cossairos vinte seis ou vinte sete homens e depois lhe tomaram um dos navios, com muita artelharia e alguma mercadoria. Os quais contrários se não tomaram todos por falta de pólvora na armada, que se gastou toda naqueles três dias e três noites, em que lhe atiraram quase quinhentos pelouros. E não foram abalroados os ditos imigos, por o galeão de Portugal ser só e eles três, que as duas caravelas de el-Rei não quiseram abalroar, pelo qual foram bem castigados no Regno; e se não foram os ditos Bertolameu Favela, João de Betencor, Aires Jácome Correia e Gaspar Estácio, muito risco correra a armada de el-Rei. E muitas vezes, sucedendo fazer-se a armada na ilha Terceira e nesta de S. Miguel contra cossairos, que sempre a elas vêm, vão nelas o dito Bertolameu Favela da Costa e os outros acima ditos que, por se pôrem a este perigo e a outros muitos, escreveu el-Rei a cada um deles duas cartas de muitos agradecimentos e honras, em que lhe prometeu fazer-lhe muitas mercês e encomendando-lhe sempre o seu serviço em tais sucessos.
Houve também Manuel do Porto o quarto filho, chamado Francisco da Costa, que casou com Caterina Ferros, dos Ferreiras, de que não houve filhos, e faleceu vindo do Cabo Verde.
Teve mais Manuel do Porto, de sua mulher Breatiz da Costa, duas filhas, Margarida da Costa e Maria de S. Pedro, freiras no mosteiro de Vila Franca; e outra filha, chamada Breatiz da Costa, mulher que foi de Francisco de Melo Machado, fidalgo muito honrado, filho de Bertolameu Godinho Machado e de Filipa de Melo, fidalgos, e não tiveram mais que uma filha, que faleceu. E, falecendo Francisco de Melo, casou ela com João Lopes Moniz, filho de Adão Lopes e neto de João Moniz, e faleceu sem haver dela filhos.
Jorge da Mota, genro de João de Arruda da Costa, foi primeiro casado com outra mulher, de que houve alguns filhos, como direi na geração dos Cordeiros.
As armas dos Costas são um escudo com um campo de vermelho, com seis costas de prata em faixa, em duas palas, e algumas têm por diferença uma flor de liz de ouro; elmo de prata aberto, guarnecido de ouro, paquife de prata e vermelho, e timbre duas costas em aspa.
Como diz o docto João de Barros, muito aproveita a lição da história para virem os cursados nela a grande estado de honra e acrescentamento de fazenda; como Marco Túlio, que uma das coisas que o pôs em a dignidade consular, que era a maior que naquele tempo havia, foi ter grande conhecimento das linhagens, famílias, das propriedades e de outros negócios públicos do povo romano, sem as quais coisas, o seu orar fora edifício sem fundamento, telhado sem paredes, folha sem tronco, rama sem raiz, polpa sem ossos, carne sem nervos e música sem compasso. Pelo que direi aqui a progénia dos antigos descobridores e povoadores desta ilha, começando na geração e apelidos dos Velhos, donde descende o primeiro Capitão dela, Frei Gonçalo Velho, comendador de Almourol, que no princípio a descobriu e povoou com os mais que depois a ela vieram.
Os parentescos nesta ilha estão liados uns com outros que, se foram mais frescos e não foram discorrendo e saindo já do quarto grau por diante, escassamente se pudera contrair matrimónio entre pessoas nobres, e principalmente o da progénia dos Velhos, que é o apelido do primeiro Capitão, que a veio descobrir e povoar. Para algum entendimento do qual, se há-de notar que houve em Portugal um fidalgo, Martim Gonçalves de Travassos, casado com uma fidalga chamada D. Catarina Dias de Melo, que tiveram dois filhos, um chamado Nuno Martins de Travassos, tão abalizado fidalgo do Reino e de tanta valia que teve por seu pagem a um Fernão Roiz Pereira, que, depois, deu por parente aos Pereiras, e veio a ser amo da duquesa infanta D. Breatiz, mãe d’el-Rei D. Manuel, e criou os infantes, seus filhos. E outro fidalgo, Fernão Velho, casado com outra fidalga, chamada D. Maria Álvares Cabral, filha do senhor de Belmonte, que houveram os filhos seguintes: sc., o primeiro, Gonçalo Velho Cabral, chamado o famoso Comendador do Castelo de Almourol e senhor das Pias e Bezalga e Cardiga, e Capitão e Comendador desta ilha de S. Miguel e da de Santa Maria; o segundo, Álvaro Velho, a quem não soube a descendência, por ficar em Portugal; a terceira, D. Tareja Velha, que casou com um Fuão Soares, de que nasceu João Soares de Albergaria, que depois foi segundo Capitão destas ilhas de S. Miguel e Santa Maria, por lhas deixar o dito seu tio, Gonçalo Velho; a quarta filha de Fernão Velho e de D. Maria Álvares Cabral se chamou D. Violante Cabral; a quinta, D. Leonor Velha, e não sei se tiveram mais filhos.
D. Violante Cabral casou com Diogo Gonçalves de Travassos, filho de Martim Gonçalves de Travassos e de sua mulher D. Catarina Dias de Melo. Dantre o dito Diogo Gonçalves de Travassos e D. Violante Cabral nasceram os filhos seguintes, sc., Rui Velho de Melo, em quem Gonçalo Velho pôs a comenda do castelo de Almourol e senhoria das Pias e Bezalga e Cardiga. Este Rui Velho foi estribeiro-mor de el-Rei D. João, segundo do nome, e houve um filho natural e uma filha: o filho, chamado Simão Velho, viveu em Tomar e foi à Índia, donde veio muito rico; a filha havia nome Violante Velha e foi casada com um Francisco Botelho, de que houve nobres filhos. Por morte de Rui Velho, que não casou, houve estas comendas D. Nuno Manuel e, depois, o conde do Redondo.
Tiveram mais os ditos Diogo Gonçalves de Travassos e D. Violante Cabral estes filhos: Pero Velho, Nuno Velho, D. Caterina Velha Cabral, D. Leanor Velha Cabral.
Pedro Velho de Travassos e Nuno Velho vieram para estas ilhas com seu tio Gonçalo Velho, e nelas casaram, como adiante direi.
D. Caterina Velha Cabral casou com um fidalgo, a quem não soube o nome, de que houve a D. Caterina, que casou com um Martim da Silveira, do qual houve a Manuel da Silveira, senhor da Terena, e Diogo da Silveira, capitão-mor que foi do mar da Índia, e a mulher de Nuno da Cunha, que foi Viso-Rei da Índia, e não sei se teve mais filhos.
D. Lianor Cabral casou com outro fidalgo, cujo nome não soube; dentre eles nasceu uma filha, por nome D. Cecília, que casou com Francisco Miranda, de que nasceram Diogo de Miranda e Pero de Miranda, dayão da Sé de Évora.
Diogo Gonçalves de Travassos, como fica dito, filho de Martim Gonçalves de Travassos e de D. Catarina Dias de Melo, foi veador do infante D. Pedro, Regente do Reino, e seu escrivão da puridade e aio e padrinho dos filhos do dito infante, e foi do conselho d’el-Rei D. Afonso, quinto do nome. Jaz sepultado no mosteiro da Batalha, à porta da capela de el-Rei D. João, de Boa Memória, primeiro do nome, e dos infantes, seus filhos, da banda de fora, e tem sobre a cova uma campa com uma grande letra D, que quer dizer o seu nome, Diogo, a qual letra lhe mandou pôr el-Rei, por ser muito privado seu, tanto que, adoecendo ele à morte, o foi visitar a sua casa o mesmo Rei em pessoa. Era homem grande de corpo, bem disposto, gentil-homem, muito valente e forçoso, com as quais partes tinha bem servido a el-Rei nas guerras contra Castela e fora por seu mandado com o infante D. Pedro na tomada de Ceuta, onde foi armado cavaleiro pelo dito infante, pelo que era muito favorecido dos Príncipes.
Era Gonçalo Velho, o famoso comendador de Almourol e primeiro Capitão que foi da ilha de Santa Maria e desta de S. Miguel, também tão valente de sua pessoa, que mandando el-Rei D. João correr touros em Évora, mandou ele fazer um cadafalso para levar a vê-los umas sobrinhas suas, sc., D. Cecília e D. Catarina, e outras parentas. Estando já o corro cerrado, entrou ele com as sobrinhas, e passando com elas e dois pagens, que iam diante dele para o cadafalso, havia um touro muito poderoso e afamado de bravo, que estava para se correr, o qual disse el-Rei que deitassem no corro a Gonçalo Velho, que passava com suas sobrinhas, conhecendo dele sua valentia, de que tinha muitas experiências; tanto que o touro foi no corro e o vira ir, arremeteu a ele, recolheu com o braço esquerdo para trás os pagens junto das sobrinhas, vindo o touro já mui perto para o levar nos cornos, e fazendo o que é de sua natureza, que é abaixar a cabeça e sarrar os olhos, arrancou ele de um terçado que levava na cinta, e lhe deu com ele um golpe no jarzilo, junto dos cornos, no lugar por onde os matam, com que lhe derribou a cabeça, de maneira que caiu o touro no chão, perneando e morrendo; ele alimpou o terçado do sangue no mesmo touro, muito quieto, dizendo: — Os rapazes que vos cá mandaram outro tanto lhe fizera eu, se eles cá vieram. E levou suas sobrinhas ao cadafalso. E João Rodrigues da Câmara, quarto Capitão desta ilha de S. Miguel, contava, , esta história dele, miudamente.
Sendo este Gonçalo Velho, comendador de Almourol, como era, muito privado e da casa do infante D. Henrique, o que mandou descobrir estas ilhas, tendo uma vez brigas com uns fidalgos da casa do mestre de Santiago, que foi antes de D. Jorge, filho de el-Rei D. João, sobre qual deles era mor senhor, se o infante D. Henrique, se o dito mestre de Santiago, afrontados eles das palavras que Gonçalo Velho lhe dissera, indo ele para a sua comenda de Almourol, acompanhado de vinte de cavalo, afora outra gente de pé, por se temer deles, foi pousar no caminho em uma pousada, onde, andando de noite, passeando e rezando a véspera e completas por umas Horas, lhe atiraram por um buraco da porta com uma besta e o quadrelo lhe deu e pregou nas Horas por onde rezava, sem lhe fazer nenhum dano. Chamando ele, então, pelos criados, se saiu com eles a cavalo, buscando os contrários pelo campo, sem os poder achar; somente sendo já manhã, viram os sinais das ferraduras e tropel dos cavalos, que se iam recolhendo, por de dia o não ousarem cometer, senão de noite, com espias diante de si, por conhecerem do dito Gonçalo Velho ser tão valente e esforçado de sua pessoa, que não podiam dele de dia tirar o melhor rosto a rosto; e por isso o foram cometer à treição , de noite. Era Gonçalo Velho de tantas forças, que podia espremer um homem e esmiuçá-lo antre as mãos. E além disto muito animoso, pelo que foi de noite no alcance, buscando a seus contrários, o que de alguns foi taxado e julgado por temeridade, porque fora possível serem tantos seus inimigos em cilada, que o puderam tomar aquela noite. Mas o grande esforço, ânimo e valentia, que tinha, o fez cometer, sem estimar nem temer, tal perigo.
E por ser desta qualidade e de tão boas partes, era muito privado do infante D. Henrique e foi enviado por ele a descobrir estas ilhas de Santa Maria e de S. Miguel, que descobriu e foi feito Capitão delas, trazendo consigo aos ditos dois sobrinhos, Pero Velho e Nuno Velho. E tornando-se para o Regno por não se contentar de viver em terra erma, senão na corte, onde se criara às abas dos Príncipes, os quisera fazer Capitães, um de uma, e outro de outra, mas o Infante acabou com ele que fosse Capitão delas outro seu sobrinho, do mesmo Gonçalo Velho, que andava em casa do dito infante, chamado João Soares de Albergaria, filho de outra sua irmã, do dito Gonçalo Velho, e irmão da dita D. Violante, mulher de Diogo Gonçalves de Travassos, atrás dito. O qual, feito Capitão depois da renunciação de seu tio, que ficou em Portugal, onde faleceu sem ter filhos, se veio morar a estas ilhas, governando-as com muita prudência e diligência, residindo principalmente o mais do tempo na ilha de Santa Maria, por ser mais povoada naquele tempo . E dos filhos que teve disse já, tratando da ilha de Santa Maria, pelo que agora não direi mais deles, remetendo-me ao que dito tenho. Nem agora tornei a falar neles, senão por haverem sido dos primeiros Capitães desta ilha de S. Miguel, sendo Gonçalo Velho o primeiro, e seu sobrinho João Soares o segundo. Dos sobrinhos do qual Gonçalo Velho, chamados Pero Velho Cabral e Nuno Velho Cabral, procederam os Velhos destas duas ilhas de Santa Maria e S. Miguel, como agora direi, além do que tenho dito deles na história da ilha de Santa Maria, já contada.
Dos dois filhos de Diogo Gonçalves de Travassos e de D. Violante Cabral, sobrinhos do Capitão Gonçalo Velho, que com ele vieram a estas ilhas, que houveram de ser Capitães delas, se o infante o consentira, o Pero Velho, nesta de S. Miguel, fez a ermida de Nossa Senhora dos Remédios da Alagoa e jaz sepultado nela, e viveu ali perto, onde tinha suas terras. Não sei com quem foi casado, mas de sua mulher houve dois filhos, sc., Gonçalo Velho e Estevão de Travassos, e três filhas, sc., a mulher que foi de João Álvares do Olho, e a mulher de João Afonso, o Corcôs de alcunha, que era também da casta dos Velhos, e a mãe de João Velho Cabral, cujas foram as casas que agora são de Jerónimo Luís , filho de Sebastião Luís e genro de Aires Lobo.
Gonçalo Velho, filho de Pero Velho, foi casado com uma mulher da geração dos Amados, chamada Catarina Álvares de Benevides, de que houve os filhos seguintes, sc., a mulher de Jorge Nunes Botelho, que chamavam Margarida Travassos, Amador Travassos e Nuno Velho e Francisco Travassos e Lopo Cabral de Melo e Tareja Velha, que casou com um letrado, chamado António Álvares, filho de João Álvares, do Pico que Arde, da Ribeira Grande, a segunda vez com Sebastião Fernandes de Freitas, dos quais não houve filhos.
Amador Travassos, filho de Gonçalo Velho, casou com Maria d’Oliva, em África, onde esteve muitos anos em serviço de el-Rei e de lá a trouxe; da qual houve a Heculiano Cabral, sacerdote, a Afonso d’Oliva e Nuno Travassos e uma filha, que se chama Briolanja Cabral, a qual casou com Pero Castanho, homem de grandes espíritos, e outra filha, chamada Margarida Travassos, que casou com Miguel Fernandes, filho de Sebastião Fernandes de Freitas, e outra filha chamada Roqueza Cabral, que casou com António Correia de Sousa.
Estevão Travassos, filho de Pero Velho, casou com Catarina Gonçalves, filha de Gonçalo Anes e de Catarina Afonso, naturais da cidade do Porto, de que houve filhos: Pero Velho de Melo e João Cabral e Amador Travassos, sacerdote, vigairo que foi em S. Roque, e filhas, Filipa Travassos, mulher de João Cabral, que não houveram filhos. João Cabral casou com uma filha de Vasco Vicente, da vila de Água de Pau, irmã do Padre Manuel Vaz, beneficiado na vila da Ribeira Grande, e houve de seu marido muitos filhos e filhas; e Branca Velha, mulher de Cristovão Roiz, do qual houve alguns filhos e filhas.
Pero Velho de Melo casou em Lagos com uma nobre mulher, a quem não pude saber o nome, de que houve duas filhas, Violante Cabral, mulher de Manuel Roiz, o Saramago de alcunha, e outra que se chama Antónia Travassos, que casou com Manuel Fernandes, filho de João Fernandes, de Santa Clara.
Violante Velha, filha de Pero Velho, sobrinho do primeiro Capitão da ilha de Santa Maria e desta de S. Miguel, chamado Gonçalo Velho, Comendador de Almourol, casou com João Álvares do Olho, de que houve quatro filhos e uma filha, que casou com Pedro da Costa, de Vila Franca do Campo. O primeiro filho, chamado Álvaro Velho, casou com Margarida Álvares, de que houve estes filhos, sc., Gaspar Velho, Baltazar Velho, Sebastião Velho, João Cabral, Violante Velha e Maria Fernandes. O segundo filho, chamado Rui Velho, foi casado com Guiomar de Teves, filha de Pero de Teves, da Calheta, e de Catarina de Meza, filha de um homem a que não soube o nome, da casa de el-Rei de Castela, donde veio fugido a esta ilha no tempo das comunidades , e casou aqui com Isabel ou Guiomar Franca; e houve o dito Rui Velho, de sua mulher Guiomar de Teves, os filhos seguintes: o primeiro, chamado Pero Velho, que casou com Lianor Pereira, de que houve quatro filhos e uma filha, ainda de pouca idade. Houve mais Rui Velho uma filha, por nome Violante Velha, que casou com Gomes Gonçalves Morgade, de que houve três filhos e uma filha: um deles, chamado João Velho, casou com uma filha de Manuel Afonso, de que tem um filho e uma filha.
Outro filho de Rui Velho e Guiomar de Teves, chamado Amador Velho, casou em Portugal com Isabel da Costa, de que não tem filhos. Outro filho, chamado Rui Velho, como seu pai, casou com Ana de Aguiar, de quem tem dois filhos de pouca idade. Outro filho de Rui Velho, por nome Sebastião Velho, casou com Briolanja Afonso, filha de Pero Afonso Pereira e de Guiomar Fernandes, da qual tem três filhas e um filho.
Outro filho houve João Álvares do Olho de sua mulher Violante Velha, chamado André Travassos, que casou com Isabel Roiz, de que houve um filho, chamado João Travassos, e uma filha, por nome Violante Velha. O quarto filho de João Álvares do Olho e de Violante Velha, chamado Pero Velho, foi casado com Breatiz Pais, filha de João Pais, cidadão da cidade do Porto, e de sua mulher Clara Gonçalves, o qual Pero Velho houve estes filhos: o primeiro, Salvador Pais, que casou em Portugal; o segundo, Afonso Pais, que faleceu menino; o terceiro, João Pais, ainda solteiro; o quarto, Sebastião Velho, que casou em Gran Canária; o quinto, António Pais, que foi para as Índias de Castela; o sexto, Pero Velho, meirinho das execuções nesta ilha de S. Miguel, que foi preso na cidade de Angra, por ser da parte de el-Rei Filipe, o qual por isso lhe fez mercê do hábito de Santiago, com vinte mil reis de tença. Houve mais Pero Velho, de sua mulher Breatiz Pais, uma filha, chamada, como sua mãe, Breatiz Pais, que casou com Cristovão de Oliveira, filho de Manuel de Oliveira, escudeiro, morador na Ribeirinha, termo da vila da Ribeira Grande, de que não tem filhos.
A mulher de João Afonso Córcos, filha de Pero Velho, chamada Lianor Velha, teve estes filhos, sc., Adão Travassos, que casou com uma mulher da casa de Gaspar de Betancor, por nome Genebra de Sequeira. Teve mais o Córcos duas filhas, sc., a mulher de Gaspar Perdomo, chamada Breatiz Velha, e a de Lourenço Mendes de Vasconcelos, chamada Margarida Cabral, ambos fidalgos, e houveram muitos filhos e filhas. Gaspar Perdomo houve de sua mulher Breatiz Velha estas filhas, sc., D. Francisca, que não casou, e D. Simôa, que casou em Portugal com D. João Pereira, bisneto do conde da Feira. Houve também Gaspar Perdomo três filhos, sc., Ibonel de Betancor, Baltazar de Betancor e Belchior de Betancor, os quais casaram nesta ilha com muito honradas e virtuosas mulheres. Lourenço Mendes teve filhos: Francisco Mendes e Jordão de Vasconcelos, e filhas: D. Francisca e D. Beatriz, que não casaram.
João Velho Cabral, filho de uma filha de Pero Velho de Travassos, que fez a ermida de Nossa Senhora dos Remédios, teve de sua mulher D. Isabel Ferreira estes filhos, sc., o licenciado Sebastião Velho Cabral, que foi juiz de fora em Almôdovar, uma vila de Portugal, no campo de Ourique, e depois faleceu no Cabo Verde com sua mulher Maria de Paiva, de que ficaram um filho e duas filhas, a mais velha, chamada Helena Cabral, casou com Gonçalo Bezerra, filho do mestre João e de Grismonda Tavares, na vila da Ribeira Grande, e a outra, Francisca Cabral, está solteira; e o filho se chama Manuel Cabral, que, como mancebo de bons espritos , se foi desta ilha a buscar alguma ventura. Teve mais o dito João Velho Cabral, da dita sua mulher, outros dois filhos, chamados João Velho Cabral e Lopo Cabral, discretos e esforçados cavaleiros, que faleceram na Índia em serviço de el-Rei. Teve também João Velho Cabral duas filhas, uma chamada Branca Velha, que casou com Duarte de Mendonça, homem fidalgo e alferes da bandeira da cidade da Ponta Delgada, de que não houve filhos, senão uma filha, que faleceu menina. E casou o dito Duarte de Mendonça segunda vez com Maria de Medeiros, neta de Rafael de Medeiros e de sua mulher D. Maria. Dizem que casou João Velho Cabral, segunda vez, com Breatiz Álvares, filha de João Álvares do Olho e de sua segunda mulher, também chamada Breatiz Alvares, de que houve um filho, chamado Nuno Cabral, que faleceu solteiro e foi morto por franceses na caravela de Francisco de Mares e duas filhas, uma por nome Brianda Cabral, que casou com um filho do licenciado António Tavares, chamado Jordão da Silva, alferes da bandeira do capitão, seu irmão, Gonçalo Tavares, na mesma cidade, de que tem muitos filhos e filhas, e outra, ainda solteira, chamada Francisca Cabral.
Lopo Cabral de Melo, filho de Gonçalo Velho, casou com uma filha de Diogo Vaz, cavaleiro, e de sua mulher, Constança Afonso, filha de Afonseãnes, da Maia, de que houve filhos: Fr.
Jerónimo de Melo, da ordem de S. Domingos, que por sua muita virtude e letras foi prior, primeiro em Coimbra e depois em Aveiro e Elvas, e depois em Benfica, e foi em capítulos gerais, três ou quatro vezes, um dos definidores; e, uma vez, se afirma que o quiseram fazer ou geral ou provincial, e ele se escusou por querer antes estar recolhido e quieto em sua cela; e outro, Diogo Cabral de Melo, que é nas Índias de Castela; e Manuel Cabral que casou com Maria da Costa, filha de João Roiz Camelo; e Teodósio Cabral, que casou com Catarina de Vasconcelos, filha de Gonçalo Mourato e de Catarina de Oliveira. E houve o dito Lopo Cabral de Melo, também da primeira mulher, uma filha, chamada Isabel Cabral, que casou com Manuel Lopes de Sousa, filho de Sebastião Afonso de Sousa, capitão duma bandeira daquela banda da Bretanha, e de sua mulher Isabel de Oliveira; e outra filha, religiosa, chamada Roqueza Cabral, e agora Roqueza das Chagas, que é freira no mosteiro de Jesus na vila da Ribeira Grande. Depois casou Lopo Cabral de Melo com D. Filipa de Melo, filha de Manuel de Melo e de Antónia de Bulhão, natural de Alcácer do Sal, irmã de João de Melo, genro de Francisco d’Arruda da Costa, da qual tem filhos: Manuel de Melo, que casou na vila da Ribeira Grande com Ana da Ponte, filha de André Lopes e de Margarida da Ponte, e Jerónimo de Melo, e Cristovão de Melo, e uma filha que faleceu.
Tinha mais Gonçalo Velho, pai de Lopo Cabral de Melo, de sua mulher Catarina Alvres de Benevides, um filho por nome Nuno Velho, que casou no Algarve, em Alvor, com Inez de Oliveira, filha de Rui de Oliveira, cavaleiro do hábito de Santiago e de Maria Vaz, sua mulher, o qual Nuno Velho teve um filho, chamado Amador Travassos, que é clérigo e prior do Sovoral , termo da vila de Mortágoa. Teve Nuno Velho mais uma filha, chamada Catarina Cabral de Melo, que casou no Algarve com António Portela, moço da câmara de el-Rei, de que teve filhos e filhas. Houve Nuno Velho, de sua mulher Inez de Oliveira, outra filha por nome Margarida Cabral, que faleceu solteira e foi dama da Condessa, mulher do conde de Lyra, sobrinho de el-Rei. Teve mais Gonçalo Velho, pai de Lopo Cabral de Melo, uma filha, chamada Breatiz Velha, que foi casada com Afonseãnes Colombreiro, de que houve uma filha, chamada Breatiz Velha, como a mãe; era meia irmã do padre João Soares da Costa; a qual casou com Fernão Pires Quental, de que houve uma filha, do nome de sua mãe.
O segundo filho de Diogo Gonçalves de Travassos e de D. Violante Cabral, sobrinho de Gonçalo Velho, primeiro Capitão destas ilhas de Santa Maria e de S. Miguel, chamado Nuno Velho de Travassos, casou aqui a primeira vez com Isabel Afonso, de que houve um filho, chamado Diogo Velho, que casou no lugar da Relva, avô de Manuel da Fonseca Falcão; e Isabel Nunes Velha, mulher de Fernão Vaz Pacheco, e Guiomar Nunes Velha, mulher de André Lopes Lobo, da casa do duque de Bragança, os quais moraram todos nesta ilha de S. Miguel.
Casou o dito Nuno Velho, segunda vez, na ilha de Santa Maria, com Africañes, viúva, mulher que fora de Jorge Velho, da qual houve o primeiro filho, chamado Duarte Nunes Velho, cavaleiro do hábito de Santiago, que morou, em Malbusca, da dita ilha, e Grimaneza Afonso de Melo que casou com Lourenço Anes, da Ilha Terceira, nobre e poderoso, do qual houve um filho, chamado Sebastião Nunes Velho, pai de Inês Nunes Velha, mãe de D. Luís de Figueiredo de Lemos, dantes dayão da Sé de Angra e agora benemérito bispo do Funchal, como tenho dito, quando tratei da ilha de Santa Maria; e outros filhos .
Outros dizem que primeiro houve Nuno Velho estes filhos de Africañes, já viúva, e depois casou nesta ilha de S. Miguel o dito Nuno Velho e houve os filhos acima ditos; e de sua mulher que, ou antes ou depois foi casada, ou casou com Antão Pacheco de que houve um filho, chamado Antão Pacheco, pai de Pero Pacheco, genro de Jorge Nunes Botelho. E esta mulher de Nuno Velho e de Antão Pacheco, ou de algum destes dois maridos, ou de outro terceiro marido, se foi casada terceira vez, houve uma filha, mulher que foi de Afonso Roiz Cabea, que teve as rendas destas ilhas alguns anos . Mas o mais certo é que este Nuno Velho casou primeira vez nesta ilha com Isabel Afonso, mulher nobre, não sei cuja filha, da qual houve duas filhas, a primeira Guiomar Nunes Velha, que casou com André Lopes Lobo, da casa do duque de Bragança, pai de Aires Lobo. A segunda filha de Nuno Velho e de Isabel Afonso, chamada Isabel Nunes Velha, casou com Fernão Vaz Pacheco, do qual houve quatro filhas e um filho. A primeira filha, Guiomar Pacheca, casou com Heitor Barbosa da Silva, filho de Sebastião Barbosa da Silva, da qual houve três filhos e duas filhas: o primeiro Nuno Barbosa, o segundo Pero Barbosa, o terceiro Henrique Barbosa, o Valente, que faleceu na Índia; a primeira filha Filipa da Silva, a segunda Maria Pacheca, que ambas faleceram solteiras.
A segunda filha de Fernão Vaz Pacheco e de Isabel Nunes Velha, chamada Maria Pacheca, casou com Estevão Álvares de Rezende, filho de Pedralvres das Cortes, da Fajã, de que houve filhos e filhas, como já disse. A terceira filha de Fernão Vaz Pacheco e de Isabel Nunes Velha, chamada Briolanja Cabral, casou com Melchior Dias, morador na Ribeira Chã, junto de Água de Pau, de que houve filhos e filhas. A quarta filha de Fernão Vaz Pacheco e de Isabel Nunes Velha, chamada Catarina Velha, casou com Jorge Furtado, de que houve um filho, Leonardo de Sousa, e uma filha, Maria de Crasto , freira no mosteiro de Santo André, de Vila Franca.
Casou Jorge Furtado, a segunda vez, com D. Guiomar Camela, filha de Gaspar Camelo Pereira e de D. Breatiz Jorge, filha de Pero Jorge, de que houve dois filhos: Martim de Sousa, grande cavaleiro, e Jorge Furtado de Sousa, cónego da Sé da cidade do Funchal, da ilha da Madeira, ainda solteiros , ambos discretos como seu pai, e de grandes espíritos; e duas filhas: D. Ana e D. Isabel. D. Ana casou com Braz Neto Darès , filho do licenciado Gonçalo Nunes Darès , contador e juiz do mar que foi na cidade de Ponta Delgada; e D. Isabel é ainda solteira , como direi na geração dos Furtados.
Duarte Nunes Velho, filho primeiro de Nuno Velho de Travassos e de Africañes, casou a primeira vez em Portugal com uma nobre mulher , chamada Isabel Fernandes, de que houve filhos: João Nunes Velho, que casou na vila da Ribeira Grande, desta ilha de S. Miguel com Maria da Câmara, irmã de Guiomar da Câmara, filhas ambas de Antão Roiz da Câmara, de que houve filhos: João Nunes Velho, que foi vigário e ouvidor na ilha de Santa Maria, e Tomé da Câmara, cavaleiro fidalgo da casa de el-Rei, e Manuel da Câmara, mestre em artes e bacharel formado em teologia, que agora é prior de S. Pedro de Alenquer, e outros filhos que faleceram na Índia, em serviço de el-Rei; e uma filha, chamada D. Dorotéa, que agora é Capitoa da ilha de Santa Maria, casada com Brás Soares de Sousa, quinto Capitão dela.
Houve mais Duarte Nunes Velho de sua mulher o segundo filho, chamado Jordão Nunes Velho, que foi casado e morador na dita ilha de Santa Maria, e Nuno Fernandes Velho, de muita nobreza e virtude, que agora mora na fazenda de Malbusca, que herdou com o morgado de seu pai e tem uma filha, chamada D. Maria, que foi Capitoa da dita ilha, mulher do Capitão João Soares, terceiro do nome, e outros filhos que já disse, quando tratei da mesma ilha. Teve Duarte Nunes Velho outros filhos, filhas e netos, muito nobres e honrados.
O segundo filho de Nuno Velho de Travassos, chamado Diogo Velho, foi casado com Maria Falcôa, de nobre geração, de que houve duas filhas, uma chamada Francisca Velha, que casou com Pero Gonçalves Ferreira, de que houve filhos, um por nome João Velho, que faleceu na ilha de Santiago, do Cabo-Verde, e outro, Manuel Ferreira, que faleceu e está enterrado na igreja de Nossa Senhora das Neves, do lugar da Relva, e Diogo Velho, que casou com uma filha de Sebastião Gonçalves, e Lianor Velha que casou com Diogo Gonçalves. A segunda filha de Diogo Velho e da dita Maria Falcôa, chamada Constança Falcôa, casou com Francisco da Fonseca, filho de António Lopes, do lugar da Relva, segundo marido de Maria Falcôa, de que houve um filho por nome Manuel da Fonseca Falcão, escrivão da cidade da Ponta Delgada, que casou com Maria de Paiva, filha de Belchior de Paiva, da qual não houve filhos, e depois com uma filha de Miguel Serrão. Teve mais Francisco Lopes da Fonseca, de sua mulher Constança Falcôa, outro filho, chamado António Lopes da Fonseca, que casou com Briolanja Ferreira, filha de Gonçalo Pires e Briolanja Gil, de que tem filhos; e outro filho, por nome Rui da Fonseca, casado com Guiomar Ferreira, filha de António Afonso, cavaleiro, e de sua mulher Antónia Ferreira, de que tem filhos; houve mais a dita Constança Falcôa, de seu marido Francisco da Fonseca, duas filhas casadas, uma chamada Lianor Velha, com João Gonçalves, o Cavaleiro, morador no lugar da Relva, de que tem filhos e filhas, e outra, por nome Maria Falcôa, casou em Vila Franca com Vicente Fernandes, de que tem filhos e filhas. E casou Maria Falcôa segunda vez com o dito António Lopes Rebelo, primo segundo de Simão Roiz Rebelo, de que houve estes filhos: o primeiro, chamado Rui Lopes Rebelo, que faleceu solteiro na cidade de Lisboa; o segundo, Manuel Lopes Rebelo, que casou em Vila Franca com Clara da Fonseca, filha de Jorge da Mota e de sua mulher Bartoleza da Costa, de que houve um filho, por nome Manuel Botelho, que casou na vila da Ribeira Grande com Maria Correia, filha de Sebastião Jorge Formigo e de Joana Tavares, de que tem filhos e filhas; houve mais Manuel Lopes uma filha, chamada Maria de São Bento, freira no mosteiro de Santo André em Vila Franca. Outra filha de António Lopes, chamada D. Isabel Fernandes, casou primeira vez com Manuel Deloguarde Varajão, escrivão que foi na mesma cidade, e segunda vez com Gaspar de Betancor de Sá e de nenhum houve filhos.
Teve também Nuno Velho de Travassos a primeira filha, chamada Isabel Nunes Velha, casada com Fernão Vaz Pacheco, de que houve quatro filhas e um filho: a primeira filha, chamada Guiomar Pacheca, foi casada com Heitor Barbosa da Silva, filho de Sebastião Barbosa da Silva, morador na Fajã, perto da cidade, de que houve filhos: Nuno Barbosa, Pero Barbosa e Henrique Barbosa, esforçado cavaleiro na Índia, de quem adiante direi, na geração dos Barbosas. Teve também Isabel Nunes Velha, filha de Nuno Velho, de seu marido Fernão Vaz, outra filha, chamada Maria Pacheca, que casou com Estevão Álvares de Rezende, do qual houve estes filhos: sc., Fernão Dalvres Cabral, que se foi fora desta ilha e não se sabe dele; outro filho, chamado Manuel Pacheco, que foi à Índia de Castela, sem mais virem dele novas; o terceiro filho, Pedralvres Cabral, que casou com Isabel Bicuda, filha de Vicente Anes Bicudo, e mora na Ribeira Grande, homem de nobre condição e grandes espíritos, que agora é capitão de uma companhia na mesma vila da Ribeira Grande, de que tem alguns filhos. Teve mais a dita Maria Pacheca, de seu marido Estevão Alvres de Rezende, três filhas: a primeira, chamada Lianor de Rezende, que casou com Rafael Coelho, irmão de Gabriel Coelho, de que houve filhos e filhas; a segunda filha é casada com Gonçalo Tavares, filho do licenciado António Tavares, de que tem filhos e filhas; a terceira filha foi casada com Diogo Ferreira, cidadão e natural da cidade do Porto, que mora agora na cidade da Ponta Delgada, de que tem filhos e filhas. Houve mais Isabel Nunes, filha de Nuno Velho e neta de Álvaro Velho e mulher de Fernão Vaz Pacheco, do dito seu marido, um filho e duas filhas, além das duas já ditas: o filho se chamava Manuel Pacheco, homem de muito preço e boas partes, que morreu na Índia em serviço de el-Rei, e uma filha, chamada Catarina Velha, que foi casada com Jorge Furtado, de que houve um filho, chamado Leonardo de Sousa e uma, freira no mosteiro de Vila Franca, chamada Maria de Cristo; e outra filha se chamava Briolanja Cabral, que foi casada com Belchior Dias, morador que foi em Porto Formoso, do qual houve os filhos seguintes: o primeiro, chamado Fernão Vaz Cabral, casado com uma filha de António Furtado, chamada Maria ou Breatiz de Medeiros, de que tem filhos; o segundo, chamado Jerónimo Pacheco de Melo, meio cónego da Sé de Angra. Das filhas, a primeira, chamada Mécia Cabral, casou com o licenciado Sebastião Pimentel, homem de muitas letras e virtudes, de que tem filhos; a segunda, chamada Maria Pacheca, casou com Manuel Freitas, filho de Pero de Freitas, morador em Vila Franca, de que teve um filho.
Outra filha segunda de Nuno Velho de Travassos, chamada Guiomar Nunes Velha, foi casada com André Lopes Lobo, fidalgo da casa do Duque de Bragança, o da treição, por cujo respeito veio ter a esta ilha, envergonhado de aparecer no Reino, pelo que seu senhor fizera, e morou nos Fenais da Maia, de que houve filhos: Aires Lobo, pai de Francisco Lobo, escrivão na cidade da Ponta Delgada, que casou com uma filha de Lucas de Sequeira, chamada Bárbara de Sequeira, de que tem um filho, chamado Manuel Lobo, que casou com a filha de João Roiz Cernando, de Rabo de Peixe, e de sua mulher; tem, afora este casado, duas filhas e um filho, a que não sei o nome; e uma filha, Isabel Loba, ainda solteira. E outra filha do dito Aires Lobo, chamada Guiomar Nunes, casou com Jerónimo Luís, homem de muita nobreza, virtude e prudência, e muito rico, de que tem um filho, chamado Sebastião Luís, como seu avô, e uma filha, chamada Isabel Nunes. Outro filho teve Aires Lobo, chamado Manuel Lobo, esforçado cavaleiro que faleceu na Índia, servindo a el-Rei. Houve mais André Lopes Lobo estes filhos: António Lobo, vigairo que foi no lugar da Relva, e Cristovão Lobo e uma filha, chamada Bárbara Loba.
André Lopes Lobo, pai de Aires Lobo e avô de Francisco Lobo, era filho de Rui Lopes Lobo e neto de Mem Roiz Lobo de Monsaraz e por morte de D. Fernando, duque de Bragança, que el-Rei D. João segundo do nome mandou degolar, se passou a Castela, em companhia do Marquês de Monte-Mor, irmão do Duque, e daí a Arzila, onde esteve fronteiro três anos; donde se passou a esta ilha e não tornou a Alentejo, por ele e alguns seus parentes darem um ponto na boca, com um cabo de sapateiro, a um homem fidalgo, pessoa notável, em uma sua quintã, por dizer na praça de Vila Viçosa: — “ainda não enforcaram estes tredos?”.
Pelo que ficando seus irmãos em Castela, na companhia do Marquês, irmão do Duque, se desnaturou o dito André Lopes Lobo de Portugal a Castela e de Castela a Arzila e de Arzila a esta ilha, onde casou com Guiomar Nunes Velha Cabral. E a seus descendentes, além das armas dos Velhos, pertencem as dos Lobos e Cabrais, como têm em seu brasão, que são o escudo esquartelado, ao primeiro, dos Lobos, que trazem o campo de prata e cinco lobos pretos em aspa, armados de vermelho; e ao segundo, dos Cabrais, que são o campo de prata e duas cabras de preto, com cabelo; e assim os contrários; elmo de prata aberto, guarnido de ouro, paquife de prata e vermelho e prata e preto, e por timbre um dos lobos das armas; e por diferença uma muleta de azul e nela uma estrela de ouro.
Sebastião Velho Cabral, filho legítimo de Gonçalo Velho e de Margarida Afonso, e neto de Álvaro Velho, irmão que foi de outro Gonçalo Velho, Capitão desta ilha de S. Miguel e Santa Maria e comendador de Almourol, e bisneto de Fernão Velho e de Maria Álvares Cabral, e sobrinho de Rui Velho, comendador do dito castelo de Almourol, foi casado com Francisca Fernandes, filha de Maria Gonçalves, a Ama; houve de sua mulher a João Cabral e a Gaspar Cabral e outro filho que se foi fora da ilha, e duas filhas, Maria Cabral e Ana Cabral. O João Cabral casou com Margarida Alvres, filha de João Alvres do Olho, de que houve um filho, chamado Jerónimo Cabral, que mora na Ribeira Grande, e é agora alcaide nela, casou em Portugal com Escota de Moura, mulher nobre, sobrinha de Mem da Mota, Capitão que foi da Mina e na Índia muitos anos, o que estava por Capitão na torre de Setúvel , quando veio o Duque de Alva sobre ela. Gaspar Cabral casou com Ana Luís, em Portugal, de que não teve filhos. A primeira filha de Sebastião Velho Cabral, chamada Maria Cabral, casou com Baltazar Tavares, grande cavaleiro, de que houve um filho, chamado João Cabral, que casou na Ribeira Grande com Catarina Jorge, filha de Jorge Gonçalves, cavaleiro, onde vive. A segunda filha de Sebastião Velho, Ana Cabral, não casou. Houve também Baltasar Tavares, de sua mulher Maria Cabral, duas filhas: a primeira, Isabel Tavares, casou com João do Monte, de que tem muitos filhos e filhas; a segunda, Leonor Cabral, casou com Simão de Paiva, filho de Álvaro Dorta, de que não tem filhos.
Maria Gonçalves, mulher nobre, chamada Ama, porque criou o Capitão Manuel da Câmara, veio a esta terra, em que teve dadas e herdades e trouxe primeiro as silvas à Ponta Delgada; foi casada com Fernão Gonçalves, o Amo, homem nobre, irmão de João Gonçalves, da Várzea dos Fenais, termo da cidade, de que houve três filhos, Gaspar Galvão e João Galvão e Luís Galvão e três filhas, sc., Francisca Fernandes, que casou com Sebastião Velho Cabral, acima dito, e outra chamada Brázia Galvoa, que casou com Mendo de Vasconcelos, de que houve filhos, Francisco de Mendonça e Duarte de Mendonça, os quais na Índia morreram em uma batalha contra os imigos, defendendo um ao outro, e outros filhos que por todos eram dezanove. E outra filha houve Fernão Gonçalves, Bartolesa Galvoa, que casou com Afonso de Matos, Francisco de Mendonça casou nas Feiteiras com D. Breatiz Camela, filha de Pero Afonso Colombreiro, de que houve uma filha, chamada D. Lianor, casada com António Pereira, filho de Diogo Pereira, que foi ouvidor nesta ilha. Duarte de Mendonça casou a primeira vez com Branca Velha, filha de João Velho Cabral, de que não houve filhos, e segunda vez com D. Catarina de Medeiros, filha de António Camelo e de Maria de Medeiros, sua mulher, e neta de Rafael de Medeiros e de D. Maria, sua mulher, de que tem uma filha, chamada D. Ana; e casou terceira vez com D. Guiomar, filha de Simão de Teves, filho de Pero de Teves, e de Breatiz Gil, mulher do dito Simão de Teves.
Martim Vaz de Bulhão, generoso homem, nobre, prudente, e grandioso, foi criado de el-Rei, do hábito de Cristo e vedor e contador da fazenda do mesmo Rei, em todas as Ilhas dos Açores, servindo estes cargos mais de cinquenta anos. Casou em Portugal, dentro, no castelo de Almourol, com Isabel Botelha, sobrinha de Rui Velho, comendador de Almourol, de quem houve um filho, chamado Manuel de Melo, que teve nesta ilha, no lugar da Relva, termo da cidade da Ponta Delgada, fazenda que lhe rendia, em cada um ano, passante de cem moios de trigo, o qual casou em Alcácer do Sal, com Antónia de Bulhão, filha dum fidalgo a que não soube o nome, da qual houve uma filha, por nome Filipa de Melo, segunda mulher de Lopo Cabral de Melo, e outra filha, chamada Isabel de Melo, que morreu solteira, e um filho, chamado João de Melo, fidalgo de muita prudência e virtude, do hábito de Cristo, que casou com Maria d’Arruda da Costa, filha de Francisco d’Arruda da Costa e de sua mulher Francisca de Viveiros, e outros que faleceram meninos. Teve mais Martim Vaz, contador, de Isabel Botelha, sua mulher, uma filha chamada Joana Botelha, que foi casada com Simão Roiz Rebelo, criado de el-Rei, fidalgo de sua casa, de que tem brasão, dos Rebelos, que são fidalgos de cota de armas, porque era filho legítimo de Luís Roiz, cavaleiro da casa de el-Rei D. João, e de Breatiz Rebela, que foi neta de João Roiz Rebelo, que foi do tronco desta geração e fidalgo honrado, cujas armas são um escudo com o campo azul e três faixas de ouro, e, em cada uma, uma flor de liz vermelha, postas em banda, e por diferença uma brica de prata; elmo de prata aberto, guarnido de ouro, paquife de ouro e de azul, e por timbre duas flores de liz de vermelho. Da qual Isabel Botelha, sua mulher, houve estes filhos: o primeiro, Luís Rebelo, grande latino e poeta, que casou com Marqueza Gonçalves Pimentel, filha de Domingos Afonso Pimentel, do lugar do Rosto de Cão, e de sua mulher Breatiz Cabeceiras, filha de Gonçalo Vaz Carreiro e de Isabel Cabeceiras, de que houve um filho, chamado Manuel Rebelo, clérigo de grande habilidade, e uma filha Maria de S. Francisco, freira professa no mosteiro de Santo André da cidade da Ponta Delgada. Casou o dito Luís Rebelo, segunda vez, com Isabel Castanha, filha de João Fernandes, de Santa Clara, e de sua mulher Maria Roiz Badilha, filha de João Roiz Badilha e de Catarina Pires, de que tem alguns filhos. Teve mais Simão Roiz Rebelo um filho, chamado António Rebelo que, estando ordenado de ordens sacras, faleceu em Lisboa. Procedem os Rebelos de França, porque um grande cavaleiro francês, fazendo uma grande sorte, disseram dele uns fidalgos: — “Belo é o francês!”, respondeu el-Rei: — “Belo e Rebelo!”, o que lhe ficou o apelido.
Houve também Martim Vaz Bulhão, contador, de sua mulher Isabel Botelha, uma filha, por nome Filipa de Melo, que casou com Bartolomeu Godinho Machado, criado de el-Rei, cavaleiro, fidalgo de sua casa, de que tinha seu brasão de seu filhamento; de quem houve um filho, chamado Francisco de Melo, que casou com Breatiz da Costa filha de Manuel do Porto e de Breatiz da Costa, sua mulher, de que houve uma filha, que faleceu menina. Houve mais Bartolomeu Godinho uma filha, por nome Isabel Botelha, que casou com João Lopes, filho de João Lopes, dos Mosteiros, que foi meirinho do Capitão muitos anos, nesta ilha de S. Miguel, de que houve um filho que faleceu menino; e outro chamado Bartolomeu Botelho, que casou com Catarina de Nabais , filha de João Serrão e de sua mulher Lianor Lopes, de que houve filhos e filhas.
Teve também o dito Martim Vaz, contador, uma filha, chamada Maria Travassos, que casou com Garcia Roiz Camelo, viúvo, sobrinho de Fernão Camelo, pai de Pero Camelo e de Henrique Camelo e de Manuel Camelo, que todos foram fidalgos, escritos nos livros de el-Rei; de quem houve estes filhos, sc., Isabel Botelha, que casou com Rui Gago da Câmara, fidalgo, parente dos Capitães desta ilha, de que houve filhos e filhas, que direi quando tratar da progénia dos Gagos; e outra filha, chamada Jerónima de Melo, que casou com Roque Gonçalves Caiado, filho de Francisco Dias Caiado, dos nobres e principais desta ilha, e de sua mulher Marqueza Gonçalves, de que houve um filho, que se chama Francisco de Melo, casado com uma filha de João Fernandes e de sua mulher Catarina de Crasto; e outro filho, chamado Brás de Melo, que casou com Breatiz da Silva; e outros filhos e filhas, ainda moços. Teve Garcia Roiz Camelo um filho, chamado João Botelho de Melo, que casou com Inês de Oliveira, filha de Fernão d’Afonso, tabelião na cidade, e de sua mulher Caterina Manuel, de que houve uma filha, freira no mosteiro de Santo André, da mesma cidade, chamada Breatiz do Espírito Santo, e duas solteiras. Teve Garcia Roiz outro filho, chamado Francisco de Melo, solteiro, que se foi desta ilha à guerra de Granada e daí para as Índias de Castela. Houve também outra filha, chamada Maria de Melo, freira no mosteiro de Jesus, da vila da Ribeira Grande, onde reside, e dantes abadessa no mosteiro de Santo André, da cidade, que agora se chama Maria da Trindade; e outros filhos e filhas, que faleceram moços. Da primeira mulher de Garcia Roiz Camelo, e dos filhos que teve dela, direi quando disser da geração dos Camelos. Casou terceira vez Garcia Roiz Camelo com Margarida Gil, filha de Gil Afonso, da vila da Lagoa, de que não houve filhos.
Desta maneira sobredita, não somente são os Velhos, principalmente Lopo Cabral e a mulher de Jorge Nunes Botelho, e seus irmãos e descendentes, parentes do Capitão da ilha de Santa Maria, mas também liados com os Lobos e Rezendes, segundo tenho dito, e com os Botelhos, como em parte já disse e adiante direi, e com os Pereiras, porque um sobrinho de seu bisavô, por nome Fernão Roiz Pereira, foi veador da Duqueza de Bragança, cuja neta era D. Caterina, cujos foram os paços da Ribeirinha, da vila da Ribeira Grande, desta ilha de S.
Miguel, mãe de Rui Pereira, o qual tinha de moradia, cada mês, três mil e vinte reis, e teve nesta ilha, no termo da dita vila, cento e vinte moios de renda em cada um ano, do morgado que lhe ficou de seu pai. São também parentes dos Silveiras, pois Manuel da Silveira, senhor da Terena, e Diogo da Silveira, seu irmão, que foi capitão-mor do mar na Índia, são seus sobrinhos, filhos de D. Caterina, sua prima, segunda mulher de Martim Silveira, pai dos sobreditos; e com os Cunhas, já que outra sua prima foi casada com Nuno da Cunha, que foi viso-Rei da Índia. Têm também liança com os Mirandas do Reino, pois Pero de Miranda, dayão da Sé de Évora, e seu irmão Diogo de Miranda, são seus sobrinhos no mesmo grau dos acima ditos, por serem filhos de D. Cecília, sua prima, mulher que foi de Francisco de Miranda, fidalgo dos principais destes Reinos. Têm também liança com os Figueiredos, pois João Soares de Albergaria, segundo Capitão da ilha de Santa Maria e sobrinho de Gonçalo Velho, primeiro Capitão destas ilhas, descendia dos Figueiredos, como tenho dito, quando tratei de seu princípio deles, falando na ilha de Santa Maria. Além dos mais apelidos que têm e lhe pertencem de Velhos, Soares, Travassos, Cabrais e Melos. E todos os de Portugal e desta ilha são de grandes espíritos e viveram e vivem sempre à lei da nobreza, abastados com cavalos de estado, e criados e escravos de seu serviço. Têm os Velhos seu brasão autêntico de sua nobreza e fidalguia da cota de armas e solar conhecido, e por armas um escudo de campo vermelho e cinco vieiras de ouro em aspa, sc., uma no meio, as outras nos cantos, e algumas têm uma estrela branca em um quadrado preto por divisa; e outros têm outras divisas diferentes; não tem elmo, nem paquife, nem timbre, de que não pude saber a razão, se não se é por naquele tempo antigo não se costumar pôr nas armas, que no escudo com sua insígnia se punham, prezando-se trazer as outras nos ombros, antes que nos brasões; e depois pelo tempo em diante se costumaram pôr neles os mais sinais de honra, como em outros seus brasões achei, que tem elmo de prata aberto, guarnido de ouro, paquife de ouro e vermelho, e prata e púrpura, e por timbre um chapéu pardo com uma vieira de ouro na borda da volta .
Dizem alguns que mandando Gonçalo Velho, comendador de Almourol, vir três sobrinhos — Pero Velho, Nuno Velho e Lopo Velho — para estas ilhas, de que era Capitão, foram os três sobrinhos com tormenta ter à ilha da Madeira; sendo Lopo Velho pela terra dentro e alevantando-se o navio, em que vieram à ilha de Santa Maria o Pero Velho e Nuno Velho, ficou ele na ilha da Madeira; e, vendo-se sem despesa, foi ajudar a trabalhar em um engenho de açúcar, no qual soltando-se um espeque deu com ele em uma parede e lhe quebrou os braços e pernas e ficou maltratado da cabeça, pelo que, depois de curado na casa de Misericórdia da dita ilha da Madeira, e ficando aleijado, se casou aí. E depois o mandou Pero Velho, seu irmão, primo ou parente em outro grau, ou, como outros afirmam, irmão, filho natural do pai do dito Pero Velho, vir de lá com sua mulher, e o teve em sua casa, junto de Nossa Senhora dos Remédios onde vivia, e daí o aposentou na vila da Ribeira Grande, na rua das Pedras, onde teve muitas moradas de casas suas, e alguns filhos, sc., João Lopes, e Afonso Lopes e Gião Lopes, e filhas Caterina Lopes e outras, a que não soube o nome. João Lopes houve de sua mulher um filho, chamado António Lopes Travassos, que casou na vila da Ribeira Grande com Simoa Gonçalves, filha de Gonçalo Pires e de Margarida Gonçalves, de que tem filhos e filhas.
Caterina Lopes, irmã de João Lopes e tia de António Lopes Travassos, casou com Pero Dias, da Achada, homem muito rico e honrado, de que teve muitos filhos e filhas; um deles, chamado Miguel Dias, é bom sacerdote e beneficiado na freguesia de Nossa Senhora de Estrela, da vila da Ribeira Grande; e uma filha, irmã de Miguel Dias, chamada Catarina Dias, foi casada com Sebastião Pires Paiva, homem nobre, rico e abastado, da governança da dita vila, de que teve alguns filhos e filhas.
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