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PRINCÍPIOS QUE REGEM A PODA
Para a perfeita execução da poda, é necessário um conhecimento da posição, distribuição e função dos ramos e das gemas e circulação da seiva.
As raízes das fruteiras extraem do solo a água, contendo esta, em solução, os sais nutritivos que alimentarão a planta. Tal solução constitui a seiva bruta, que sobe pelos vasos condutores localizados no interior do tronco e se dirige até as folhas. Nestas e em presença de luz e perdendo água por transpiração, a seiva bruta passa por diversas transformações, tornando-se seiva elaborada.
A seiva circula pela planta toda, sempre fluindo para as partes mais altas e mais iluminadas da árvore, razão pela qual os galhos mais vigorosos são aqueles que conseguem posicionar-se melhor na copa e têm uma estrutura mais retilínea, o que favorece a circulação.  A seiva, circulando pela periferia da planta, alimenta todos os órgãos e determina o seu crescimento e evolução, tais como: o desenvolvimento das raízes, o crescimento dos brotos, aumento dos ramos, folhas, gemas e a frutificação. É por isso também que, o crescimento da planta tende sempre a se concentrar nas pontas dos ramos, o que se denomina de Dominância Apical. Quando eliminada, através da poda, ocorre uma melhor redistribuição da seiva, favorecendo a brotação lateral da gemas.
A circulação rápida da seiva tende a favorecer o desenvolvimento vegetativo, enquanto que a lenta, o desenvolvimento de ramos frutíferos. E essa circulação faz-se em função da estrutura da planta: quanto mais retilínea, mais rápida a seiva circulará.
No início do seu desenvolvimento, as fruteiras gastam toda a seiva elaborada no seu próprio crescimento. Porém, após um certo tempo, variável de espécie para espécie, a planta atinge um bom nível de desenvolvimento como: tronco forte, copa expandida e raízes amplas, a planta já fotossintetiza intensamente e começa a aparecer sobras de seiva elaborada, que serão armazenadas na planta, em forma de reservas. Quando essas reservas atingem uma suficiente quantidade, tem início a frutificação, pois as reservas de seiva elaborada são invertidas ou gastas na transformação das gemas vegetativas em gemas frutíferas, que darão as futuras flores e frutas. Com esse desvio para a frutificação, cessa quase completamente o crescimento das raízes e da copa.
Há um antagonismo entre a frutificação e a vegetação, ou seja, enquanto a planta desenvolve ativamente a sua expansão vegetativa (como acontece nos indivíduos novos) não há saldo de seiva elaborada para ser aplicado na frutificação, e o mesmo acontece quando há um grande gasto de reservas, como por exemplo num ano em que ocorre uma superprodução, pois assim a planta fica sem saldo de seiva elaborada para formar novas gemas de fruto no ano seguinte. A frutificação é então muito pequena; mas como as raízes continuam a absorver água e nutrientes e as folhas a fotossintetizar, começa a aparecer novo saldo de seiva elaborada, o qual, não tendo frutos para desenvolver, é aplicado em nova expansão das raízes e dos ramos. Esta expansão poderá resultar em novos saldos de seiva elaborada, que são armazenados nos locais de reserva, registando assim um superávit de seiva elaborada na planta, o que resulta num grande número de gemas vegetativas a serem transformada em gemas frutíferas, voltando a planta a produzir grande safra de fruto, ao mesmo tempo que vegeta modestamente.
Nas fruteiras de quintal, abandonadas, sem podas e sem cuidados, a alternância de anos de fruto com os de escassez é muito frequente. A poda pode regularizar esta anomalia, eliminando ramos frutíferos nos anos de frutificação excessiva, estimulando, deste modo, a expansão de crescimento vegetativos.


As plantas não sujeitas a podas apresentam duas importantes características:
1º) A planta alcança grande volume, porque a sua folhagem, sem sofrer restrição alguma, absorve grande quantidade de água e nutrientes (seiva bruta) e produz grande quantidade de seiva elaborada (fotoassimilados), a qual é alternativamente gasta em grande frutificação seguida de grande expansão do sistema radicular e da copa, essa expansão é apenas limitada pela conformação específica da planta e pelas condições ambientes (solo, clima, etc.);
2º) A planta atinge a máxima longevidade, pois a produção contínua de novas quantidades anuais de ramos, folhas e frutos, que as podas provocam, acaba por esgotar a planta, abreviando os seus dias, o que não se verifica nos indivíduos não podados.
Em contraposição, estes apresentam os inconvenientes seguintes:
a) Frutificação inconstante;
b) Fruta inferior, tanto em tamanho com em aspecto, pois a seiva que a faz desenvolver tem de ser distribuída por um grande número de frutos e ramos, o que não acontece nos pés podados;
c) Operações culturais mais difíceis, mais caras, devido à maior altura e o maior volume dos pés. O controle fitossanitário chega a ser praticamente impossível nos indivíduos de crescimento livre e a colheita é frequentemente antieconómica, pois a produção, além de ser de qualidade inferior, distribui-se nas pontas mais altas da ramagem.
Ao podador é indispensável saber que parte da planta está cortando, pois, de conformidade com cada planta em particular, há ramos cuja supressão é indispensável, mas outros existem cuja eliminação redundaria em grave prejuízo para a produção, porque encerram neles a própria safra de frutos dentro de suas gemas.