Manuel Correia, cavaleiro fidalgo da casa de el-Rei nosso Senhor, e sargento mor desta ilha de S. Miguel, foi filho de Fernão Gil, cavouqueiro, o qual era natural da vila de Ançã, termo de Coimbra. Seus pais e parentes eram lavradores e ricos, e nas terras onde moravam governavam a república. O dito Fernão Gil veio a esta ilha de idade de vinte anos, fugindo de sua terra por certo negócio que nela teve. Foi-lhe necessário buscar modo de viver, e assim foi cavouqueiro. Casou-se com Leonor Roiz, filha de João Roiz, o Mano, de Vila Franca; teve o dito Fernão Gil este filho e de idade de sete anos o pôs nas escolas de ler e escrever e canto, e estudou até idade de dezasseis, que o mandou para Coimbra aprender, e para o fazer letrado e sacerdote. Esteve no estudo quatro anos, acabou a gramática e, estando para passar às artes, deixou o estudo e se foi com Francisco Barreto ao Pinhão de Belles, quando se ganhou.
Depois de seu pai ser falecido, veio a esta ilha e daqui se tornou para Castela e se foi à guerra de Granada, na qual esteve desde o princípio até o fim, achando-se em todas as batalhas que nela houve, com o terço de D. Lopo de Figueiroa, que acabou de destruir a moirama daquelas ásperas serras. Foi ferido nesta guerra de uma espingardada em um quadril. Daí se embarcou com o senhor D. João de Áustria, de gloriosa memória, para Itália, no dito terço que se chamava o da Liga, e se achou na batalha naval na galé Ocasião, de Hespanha, onde pelejou como valente soldado, saltando em uma galé dos turcos e acabando de a render foi ferido de duas lançadas em uma perna. Depois se achou na jornada de Navarrin, depois na jornada de Hanes, depois na jornada da ilha dos Querquenes, em África. Depois se foi a Frandes, onde estava o senhor D. João, e se achou em ganhar dezoito vilas fortes, donde saiu ferido de duas espingardadas; e uma lhe deram, reconhecendo o Fuso de Matrique , a outra em uma escaramuça, a maior que houve em Frandes. Depois que mandou Sua Majestade vir toda a gente de Frandes, se veio à guerra de Portugal, onde não foi necessário e ficou em Itália e veio com a Imperatriz, e, embarcando-se na armada do marquês de Santa Cruz, se achou no galeão S. Mateus, com parte da artilharia a seu cargo, em sua estância, quando se desbaratou a armada de França. Veio a esta ilha, havendo dezoito anos que era fora dela, e, tendo-o já por morto, achou sua mãe e irmãos vivos; tornou-se na armada. Sua Majestade lhe fez mercê de o tomar por cavaleiro fidalgo com mil e duzentos e cinquenta réis de moradia. Logo o outro ano, veio com o marquês de Santa Cruz à jornada da Terceira, e se achou na desembarcação dela com o capitão Pero Rosado, dos primeiros que saltaram em terra. O marquês de Santa Cruz, havendo-o conhecido haver servido muitos anos a Sua Majestade muito bem, lhe fez mercê do ofício de sargento mor desta ilha e de cinquenta mil réis mais, de uma praça no castelo dela, que um ordenado e outro são trezentos cruzados cada ano. Foi soldado na companhia de D. Pedro de Bassão, e cabo de esquadra, e sargento, e alferes dezasseis anos, sem nunca deixar a dita companhia, no terço de D. Lopo de Figueiroa, que foi uma das maiores façanhas que ele fez no tempo que foi soldado.
É homem alto de corpo, envolto em carnes, forçoso e animoso, bem assombrado, discreto, nobre, liberal, macio, conversável e humilde; pelas quais partes sempre foi tido em muita conta entre a soldadesca, e é mui estimado e honrado do conde governador D. Rui Gonçalves da Câmara, em cujo tempo veio a esta terra, e amado de todos os moradores desta ilha de S.
Miguel, que de boa vontade o aceitaram por sargento perpétuo. É tão curioso que de todas as batalhas e empresas em que se achou fez um breve e copioso sumário, muito para ver e ouvir, em que bem mostrou ser mais que pastor, pois como Júlio César, trazia na milícia as armas em uma mão e os comentairos na outra.
A cabo de três anos que o dito Manuel Correia estava nesta ilha com o dito cargo de sargento mor, depois da batalha que se teve com os dois galeões ingreses, de cuja vitória foi ele a principal parte, se foi ao Regno, onde lhe fez Sua Majestade mercê de lhe confirmar o ofício de sargento mor perpétuo, com setenta mil réis de ordenado, que tinha dantes, e tomado por seu capitão do número, com doze mil réis pagos no mesmo lugar aonde se paga o ordenado de sargento mor, e duzentos cruzados em dinheiro para ajuda de custa, e a praça que tinha no castelo, que eram onze cruzados cada mês, que são cada ano cinquenta mil réis, e lhe aclarou que se lhe pague cada ano, como se lhe pagava, que vem a ser, um ordenado com outro, cento e trinta e dois mil réis cada ano, e a seu irmão, Simão Correia, que também se achou na mesma batalha com ele contra os galeões ingreses, fez Sua Majestade mercê de o tomar por cavaleiro fidalgo, e cinquenta cruzados de mercê para ajuda de custa.
Deixando o marquês de Santa Cruz na cidade da Ponta Delgada, vendo a fortaleza , contarei, Senhora, o que secedeu às três naus hespanholas que saíram da barra de Lisboa ao dia seguinte, depois de partida a armada de Sua Majestade que venceu a francesa e da vinda da armada de Sevilha, e do que mais se passou até tornar o marquês de Santa Cruz a Lisboa Tenho atrás dito como o marquês de Santa Cruz deu ordem que, se alguma nau se perdesse da companhia de sua armada, se viesse direito a esta ilha de S. Miguel. Partido, pois, o dito marquês da barra de Lisboa a dez de Julho de mil e quinhentos e oitenta e dois anos, às dez horas do dia, para esta ilha, não podendo sair com ele três naus por lhe faltar tempo, logo o dia seguinte as tiraram as galés a remos pela barra fora, e caminharam repartidas, conforme a ordem do marquês para esta ilha de S. Miguel; e, como ovelhas sem pastor, a cada uma seguiu sua fortuna. Uma delas em que vinha o capitão Pero de Prego com sua gente, querendo tomar língua da terra, mandou em um barco dez soldados, ao qual e à nau saíram três naus francesas, pelo que, fugindo-lhe a dita nau de Hespanha e rodeando a ilha, se tornou para Lisboa; e o barco dos soldados se salvou também depois na fortaleza desta ilha. As outras duas naus chegaram aqui sábado à tarde, vinte e um dias de Julho, primeiro que o marquês; em uma delas vinha o capitão D. Sancho Escobar, e na outra o capitão Sebastião da Mata. Traziam estas naus em sua companhia quatro barcas, três das quais se apartaram diante da armada, e, querendo chegar ao porto de Vila Franca, sem suspeita de estar ali a armada francesa, lhe tiraram dois tiros de terra e fizeram amainar as velas a duas delas, que logo foram tomadas, por estar aquela vila já por D. António . A outra barca fugiu para o pego e, indo após ela uma nau de franceses, a tomou diante das duas naus de Hespanha, e a levou sem que os hespanhóis lhe pudessem valer, os quais vendo isto, sem ver a armada do marquês, nem saber parte dela, se alargaram ao mar para descobrir as pontas da terra desta ilha, e descobriram primeiro uma nau, e logo outra maior, além da Ponta da Garça, as quais também se fizeram na volta do mar pela mesma esteira por onde iam as duas dos castelhanos, como que os seguiam ou buscavam. E, como das naus dos ditos hespanhóis tinham visto tomar diante de si com tanto atrevimento a caravela já dita, entendendo que eram imigos, se foram afastando delas para o mar, retirando-se na volta do sul, o que vendo as duas naus francesas se tornaram para a terra, assim pelas não poderem alcançar, como por então se pôr o sol. Ficaram os hespanhóis com má suspeita, deixando-se estar quedos com calmaria à vista dos franceses, e mandaram uma das quatro barcas que lhe ficaram aquela mesma noite a Vila Franca, com oito arcabuzeiros e quatro marinheiros, na volta desta ilha de S. Miguel, a ver se podia reconhecer o imigo e levar recado se eram imigos ou se por ventura estava o marquês já no porto, ficando os da barca de levar este recado em amanhecendo, mas, não tornando a estas horas, tiveram a mau sinal, ainda que diziam alguns que não tornaria por causa da calmaria, por haver ido de vela e não de remos. Assim estiveram as duas naus dos hespanhóis aquele dia, e ajuntando-se uma com outra, o capitão da nau de Santo Antão, que ia por capitaina, deu ordem que aquela noite fossem na volta do porto, para pela manhã reconhecerem se eram imigos, ou verem se podiam entrar dentro, ou ao menos achar sua barca; e assim o fizeram. Então viram que se alargava ao mar a outra urca que chegou primeiro que eles, e ia fugindo por entender sempre que eram de imigos as naus que via, pelo que rodeando a ilha se tornou para Lisboa, como tenho dito. Estando as duas ao outro dia, que foi segunda-feira, junto de terra tanto como cinco léguas, com desejo de saber se havia imigos nesta ilha, se subiu um marinheiro à gávea de uma delas, olhando para terra, e começou a dar brados, dizendo que via a armada do marquês, com que todos receberam grande alegria, posto que lhe durou pouco. E, esperando que o marquês os mandasse chamar, se aquela fosse a sua armada, ou que o seu barco tornasse com recado, nada disto alcançaram, pelo que tinham má suspeita e grande desgosto. Sendo já meio-dia, descobriram cinquenta e duas velas que se começaram a apartar em largo esquadrão tomando-lhe os ventos. E, como nem elas nem as dos hespanhóis podiam navegar com a calmaria que fazia, postas as velas, aguardavam todos o vento, até que às duas horas depois do meio-dia, em que refrescou, os franceses começaram a navegar para os castelhanos; os quais, entendendo então que eram imigos, se foram retirando com grande pressa e temor, e os contrairos lhe foram dando caça até que sarrou a noite, não pouco deles desejada para escaparem da boca do lobo e de tão grossa armada. Terça-feira, pela manhã, véspera de Santiago, se acharam junto da ilha de Santa Maria, sem ousar chegar a ela, e, ainda que se alegraram, reconhecendo que os não seguia já o imigo, todavia tinham desgosto por não saber parte da armada do marquês, nem onde o poderiam achar. Estando assim perto da ilha de Santa Maria, mandaram a ela um barco com quatro marinheiros e seis arcabuzeiros, homens de honra, e sem chegar o barco a terra deitaram um homem a nado, o qual lhes trouxe nova dos moradores que haviam visto aquela armada, mas não conheciam, se era de D. António, se do marquês, e só sabiam que o governador de S. Miguel lhes tinha mandado levar mantimentos, porque aguardava pelo marquês, com a qual nova se foram na volta do mar. A terça-feira tomaram esta língua na ilha de Santa Maria, e a quarta, que foi vinte e cinco de Julho, andaram bordeando junto desta de S. Miguel, e logo a quinta-feira, andando assim como perdidos, em amanhecendo, viram duas urcas e entendendo que eram imigos se puseram em arma. Chegados a investir-se, conheceram ser de alemães que iam desta ilha de S. Miguel, os quais disseram que segunda-feira atrás, vinte e três de Julho, pela manhã, chegaram perto do porto de S. Miguel, onde as três naus de castelhanos tinham chegado o sábado antes, porque ali se haviam de ajuntar todas as naus e galés por ordem de Sua Majestade e do marquês, mas que os franceses tomaram primeiro este sítio. Aquelas três naus foram as primeiras que chegaram antes do marquês, como está dito. E logo o marquês, com as vinte e cinco naus, sem a mais armada chegando e vendo o imigo, ambos andaram bordeando, o marquês porque esperava a mais armada, convém a saber, as galés que com o tempo não puderam vir, e vinte naus de Cales , que por causa da peste tardavam, e D. António porque aguardava outras trinta naus da Terceira. Mas por fim houveram sua batalha naval em que o marquês fora desbaratado, dizendo mais que os franceses traziam uma grande bandeira branca na nau real arvorada. E chegando as trinta naus de D. António, da Terceira, vendo o marquês a grande avantagem do contrairo, sendo já de noite, tomara o lume e subindo o fanal ou farol três vezes em alto e abaixando-o outras três vezes o matara e apagara, dando a entender que ninguém o seguisse, e que por isso eles com aquelas duas naus se desviaram e não viram mais o marquês, nem as outras naus de sua armada e companhia. O marquês bem soube das três naus em que iam os castelhanos serem chegadas primeiro que ele, pelo barco que eles mandaram a reconhecer, sem lhe ousar mandar recado por entre os imigos que tinha junto de si, mas eles não souberam do marquês mais que isto, que lhe disseram os alemães destas duas urcas com que o tiveram por vencido.
Andando estas quatro naus pelo mar, duas de castelhanos e duas de infantaria de tudescos, que lhe deram esta triste nova de ser desbaratado o marquês e entrada a ilha de S.
Miguel dos franceses, se fizeram todas quatro na volta de Hespanha, e tendo andado cem léguas, sexta-feira à noite, três dias de Agosto, os descobriu a armada de Sevilha, de dezasseis naus, em que vinha por capitão-mor João Martins Ricalde e António Moreno por mestre de campo, que vinha em busca do marquês, sem os tudescos a verem, e quase à meianoite, chegando a elas a capitaina, investiu com as quatro naus, cuidando serem imigos, e lhe tirou um tiro, investindo primeiro com uma urca dos tudescos; como eles não responderam claro, ainda que diziam que eram de el-Rei Filipe, lhe atiraram muitas bombardas, e de uma companhia da liga da infantaria, de que era capitão Álvaro de Avalos, chegando a bordo da nau, lhe meteram dentro gente armada, o que vendo os tudescos, querendo-se defender, mataram um soldado honrado, chamado Guterre Gomes, vizinho de Vila Nova dos Infantes, e morreram dos alemães três ou quatro, e neles o sargento da companhia. Foram saqueados e esbulhados os ditos tudescos de valia de oitocentos cruzados, porque isto pediram ao outro dia diante do geral e mestre de campo aos soldados que eram do terço de António Moreno, os quais mandaram que lhos tornassem logo, sem faltar nada.
Ao tempo que estes andavam com os tudescos às arcabuzadas, foi o capitão sobre as duas naus dos hespanhóis e tirando-lhe duas ou três peças de artilharia, uma das duas naus disparou um tiro sem pelouro, para dar a entender que eram amigos, por ter entendido que eram as naus de Espanha. E atirando-lhe outro tiro que os houveram de levar ao fundo, por passar a nau, por onde entrava muita água, os mandaram amainar com grandes brados; respondendo-lhe: — por quem? e tornando-lhe a dizer que por el-Rei Filipe, amainaram e se renderam uma nau dos castelhanos e uma urca dos tudescos, mas as outras duas foram fugindo até que amanheceu, em que reconheceram ser amigos. Aquele dia, sábado, quatro de Agosto, o geral das naus de Hespanha e António Moreno, mestre de campo, e o alferes de uma nau castelhana, com os oficiais dos tudescos, entraram em acordo a informar-se deles onde ficava o marquês ou o imigo, e dando-lhe os tudescos as novas que tinham dado às duas naus de castelhanos, dali mandou o geral as mesmas novas e relação de tudo em uma caravela a el-Rei Filipe. E posto que alguns fossem de parecer que se tornassem para Espanha, com a voz do esforçado geral João Martins Ricalde, determinaram que todos em conserva viessem e tornassem a buscar o marquês na volta desta ilha de S. Miguel, onde chegando, arreceando que estivesse nela a armada francesa, mandaram diante um patacho a saber a verdade, e averiguando e sabendo a grande vitória que o marquês houvera da armada francesa, converteram o pesar em alegria, com a qual vinham ao longo da costa tocando os tambores, tangendo trombetas e clarins, e tirando muita e grossa artilharia; a qual ouvindo em Vila Franca, sem ver as naus, mandaram aviso disso ao marquês que estava na cidade da Ponta Delgada, o qual, achando-se confuso e suspeitoso, se embarcou com grande pressa no galeão S. Martinho, donde mandou tirar um tiro de recolher, com que se recolheu toda a gente da armada, apercebendo-se todos a ponto de batalha; mandando logo o marquês um barco a reconhecer o que aquilo seria, e trazendo novas que era a armada de Sevilha, e as naus que se apartaram, se converteu o receio em prazer, com que entraram as naus que vinham disparando grande número de peças de artilharia, tangendo tambores, pífaros e trombetas e outros instrumentos, e as que estavam com o marquês fazendo o mesmo, durando este alegre recebimento três horas inteiras. Sabendo depois o marquês das novas mentirosas que os tudescos dele deram, os mandou pôr nus da cinta para cima à vergonha, dependurados das vergas das urcas em que vinham.
Estando o marquês de Santa Cruz no porto da cidade da Ponta Delgada desta ilha de S.
Miguel, com toda esta armada junta e surta, esperando tempo para fazer viagem para a Terceira, lhe veio um patacho dar aviso como vinham as naus da Índia navegando em trinta e sete graus, com grande necessidade de mantimentos, pelo que determinou ir socorrê-las, e, antes que desta ilha partisse, deixou em guarnição nela mais de dois mil e seiscentos soldados, que com os criados seriam por todos três mil pessoas, repartidos pelas vilas e aldeias, deixando por mestre de campo Agostim Inhigues, assinalado e valoroso soldado; e aos treze de Agosto se partiu desta ilha a buscar as ditas naus, indo dando bordos na mesma altura de trinta e sete graus, por onde lhe disseram que vinham. E dali a treze dias, que foram vinte e seis de Agosto, as achou e trouxe em sua conserva a esta ilha, provendo-as de todo o necessário, entregando-as aqui a D. Cristóvão de Erasso que vinha sinalado por seu geral, dando-lhe sete naus da armada e dois patachos para sua guarda; com que se partiram aos trinta e um de Agosto. E no mesmo dia, à uma hora depois do meio-dia, se embarcou em companhia destas naus da Índia, no cais da cidade, para Lisboa, o bispo D. Pedro de Castilho, com muitas lágrimas suas e de todo o povo, que ficou muito saudoso e triste pela partida e despedida de tal prelado, ficando esta ilha órfã de tão bom pai e senhor. Foi-se pelo pouco respeito que os soldados de guarnição tinham a seus criados e aos ministros da justiça e moradores da ilha, pelo que, vendo a opressão da terra, embarcando-se com as lágrimas que lhe corriam por seu venerável rosto, disse em alta voz: — folgara que toda esta ilha se embarcara comigo — partindo também o marquês o mesmo dia na volta da Terceira, onde, chegando dali a três dias, mandou a terra dois patachos com recado de Sua Majestade, a um dos quais saiu uma nau do porto, atirando-lhe grossa artilharia. Depois, sobrevindo uma furiosa tormenta que durou vinte e quatro horas, os apartou uns dos outros e da mesma ilha Terceira, pelo que foi forçado ao marquês andar aos bordos, esperando a todas as naus de sua conserva, e tendo-as juntas, por ver o tempo tempestuoso, e não lhe acontecer algum desastre neste mar, se partiu para o Reino, onde chegou a salvamento com tão gloriosa vitória.
Andando no mar as duas armadas contrairas, travadas na batalha que agora acabei de contar, andavam nesta ilha os religiosos e sacerdotes com o povo fazendo procissões, em que pediam a Deus paz e concórdia entre os príncipes cristãos, para quietação de seus povos; e alguns, em seus corações, rogavam a Deus particularmente desse vitória à armada de Hespanha, outros à de D. António , mas no geral se pedia que se lembrasse Deus dos cristãos e alumiasse os errados. A quarta-feira, dia do Apóstolo Santiago, viam de terra as armadas apartadas grande distância uma da outra para o sul, defronte de Vila Franca do Campo, onde na igreja matriz do Arcanjo S. Miguel, junto o povo para ouvir missa, houve uma excelente pregação de um padre da Companhia, chamado Faustino de Maiorga que aí os franceses trouxeram de um navio que da ilha da Madeira havia saído e encontrado com sua armada, no qual o dito padre e um seu companheiro iam por passageiros. A qual pregação foi sobre aquelas palavras do Evangelho da mesma festa: — Nescitis quid petatis. Potestis bibere calicem, quem ego bibiturus sum? Dicunt ei: possumus. Onde consolou grandemente os cristãos, animando-os, dizendo que ainda que muitas misérias, trabalhos e perseguições passássemos, tudo permitia o Senhor para melhoria nossa e glória sua. Um frade domínico português, chamado frei José, que em companhia de D. António viera, estava então assentado com os mordomos da mesa do Santíssimo Sacramento, defronte do púlpito, onde ouviu e interpretou a pregação a seu gosto e vontade, porque, acabando de pregar e descer do púlpito o padre da Companhia, logo se ergueu ele em pé e disse a todo o povo que estivesse atento ao que queria dizer e manifestar. E advertido e atento o povo, começou ele em alta e inteligível voz, a dizer: — Vendo eu que o padre que acabou de pregar é português, lhe dei licença que hoje pregasse na igreja do Arcanjo S. Miguel, entendendo que ele pregaria e declamaria o que vos convinha saber acerca do nosso Rei D. António, que vedes e sabeis anda com sua armada procurando vencer o imigo, como prestes vencerá, e a declarar-vos o que há feito e fará por nos dar liberdade e paz, e para nos fazer grandes mercês, o que o padre não pregou nem tratou senão do Evangelho, o que todos já sabeis, e disto que tanto vos importa saber e fazer, nada disse; pelo que a mim convém avisar-vos: — Haveis de saber que o vosso Rei e senhor D. António é Rei e senhor destes Reinos de Portugal e assim lhe são concedidos e o direito deles pelo Papa. E porque el-Rei de Castela com poder e força se apoderou deles e ora os está possuindo com ter guarnição e gente de armas neles injustamente e contra direito, conveio a vosso Rei e Senhor buscar modo e vias como deste Reino saísse escondido, tendo antes escapado com feridas mortais, das quais, dando-lhe Deus saúde, andou escapando de não ser preso nem morto de seus imigos, ora vestido em trajos de pastor, ora de lavrador, ora fugindo de barco em barco, ora de monte em monte, até vir dar em uma serra mui espessa de arvoredo, fragosa e áspera de caminhar, dormindo sobre pedras à chuva e ao vento, buscando caminhos e veredas por onde pudesse sair de lugar de povoado, para ver se pudesse ir buscar quem em direito e justiça o pusesse com seu contrairo e favorecesse com armadas e gente, até ser tornado à posse de seus Reinos e Senhorios. E, estando uma noite cuidando nisto, lhe apareceu uma estrela junto de terra, no ar, como fez aos Reis Magos, e o começou a guiar, com que ele louvou ao Senhor por tal mercê, e pôs em sua vontade de seguir o caminho que aquela estrela lhe mostrasse. Assim andou após ela até ver a luz do dia, em que se achou na praia de Setúvel, onde viu uma grande nau que de verga de alto estava disposta e aparelhada para partir, e perguntando para onde se fazia prestes aquela nau, lhe foi dito da barca da mesma nau, que para Inglaterra; perguntou como se chamava a dita nau, disseram-lhe que os Reis Magos. Logo disse ele: — nela me convém ir; levai-me dentro a ela. Recebido na barca, foi levado à nau e vendo-a tão formosa e grande, e de tal nome, louvou a Deus em seu coração, dizendo que, para ter bom sucesso do que desejava e esperava, Deus o havia tirado daquele deserto e serras onde andava perdido, e com sinal, como os Magos, o tinha trazido a tal lugar e à nau de seu apelido. E que desta jornada fora a Inglaterra e a Frandes e a França, e contando-lhe suas cousas, à Rainha mãe e aos grandes de Frandes, de França e Inglaterra, lhe prometeram dar tanto favor e ajuda quanto bastasse e fosse necessário para cobrar e recuperar seu Reino, com maior aumento, e veriam como quanto possuem e têm os luteranos hespanhóis tudo há-de vir a sua mão, porque esta tão grande armada que aqui vedes, que traz Sua Majestade , é toda muito pouco para as que se esperam; e vêm já pelo mar D. Diogo de Menezes com cinquenta grossos galeões e naus de armada, que fez em Frandes e em Inglaterra; Duarte Perin com outros vinte ou trinta galeões; e a da Rochela com outros tantos; e sendo junta com esta que vereis presto ganhada, averiguando estas ilhas que fiquem fortalecidas e bem fortificadas, logo partirá Sua Majestade a tomar posse do seu reino, porque todo está aparelhado para se lhe entregar, como ao conde de Vimioso e ao bispo da Guarda, todos os condes e senhores de Portugal têm prometido, e logo tomarão a Castela; e haveis de saber que vosso Rei é tão católico que não quis ajuda do Grão Turco, que também para tudo isto lha dava. E não traz nenhum luterano consigo, senão todos católicos, que por exalçar a fé católica hão passado muitos trabalhos e visto-se em grandes guerras e encontros com luteranos; e o senhor Filipe Strosse traz uma honrosa cutilada pelo rosto, recebida por destruir luteranos, e outros grandes senhores que aqui vêm muitas feridas e golpes que houveram por exalçamento da fé. Assim vereis como deles sois bem tratados e defendidos, e não tão somente não tomarão o vosso, mas antes vos darão do seu, pagando-vos o que vos comprarem inteiramente, sem vos fazer ninguém injúria, como lhe é mandado a todo soldado, que nenhum agravo faça a nenhum português, tanto vos estima Sua Majestade, e por isso agora que vedes ser necessário o ajudar com orações e fazer procissões para que Deus lhe dê vencimento do imigo, com quem já anda em batalha, ainda que é tudo muito pouco para ele, mas todavia para que vos mostreis bons súbditos e vassalos, é razão que assim o façais, e para isto foi dada licença ao padre que pregou, para que vos avisasse e informasse, e ele não quis tratar senão do Evangelho, e não do que importava. Sabei que quando são guerras necessárias, Deus as quer e permite, senão vede a de Faraó em Egipto, e como foi destruído, e vede outras muitas que o povo de Deus teve com seus imigos; tudo se acabou por guerra. Bem vedes quanto nos é necessário alcançar nosso Rei a vitória, para que fiqueis todos livres desses luteranos, espanhóis e castelhanos, que desejam e querem tomar e haver vossas fazendas e terra, e cativar vossas mulheres e filhos. E vosso Rei, por vos livrar de tudo isto, anda em pessoa pelejando com eles; e pois isto vos é notório, rogai todos a Deus lhe dê deles vitória. E assim fareis o que deveis e sois obrigados como bons cristãos e súbditos. Dizendo isto e outras mais cousas, este padre deu fim a sua prática, a que todos os circunstantes estiveram calados, o que foi claro sinal de lhe não ser agradável, principalmente porque o padre da Companhia tinha tão bem e tão direitamente falado e dado tanta doutrina e tão suave, que arrebatou os corações de todo o auditório e povo e os uniu com Cristo. E, como os moradores desta ilha estão tão enfadados de sedições, nem por o que este frade então disse deram nada, nem falaram nada; nem edificou cousa alguma sua tal doutrina, especialmente aos sacerdotes e aos discretos e honrados. E, acabada a missa, houve homem que indo para acompanhar sua mulher para casa, lhe disse ela, pelo dito frade frei José: — Marido, eu ouvi agora o Anti-Cristo; é certo que este frade o parece; o pregador d’antes pregou a palavra de Nosso Senhor com tanto espírito que a todo o povo consolou e edificou, e este a todos desagradou e descontentou, com tanta sizânia que falou.
Contudo, por ser tempo duvidoso, por estar a batalha do mar em balança, não ousavam os homens falar na terra a verdade que entendiam; e, sendo então como dobrões de duas caras, foram acompanhando muitos com grande caterva o dito frei José, da igreja até sua pousada.
Ao meio-dia da mesma festa do Apóstolo Santiago, se viram em Vila Franca descobertas ambas as armadas, que antes estavam cobertas com sarração de grande nevoeiro que no mar havia, que ainda que as não viam, ouviam os da terra o grande estrondo da artilharia e tom da mosquetaria que entre si atiravam, e entendendo que já pelejavam, se fez uma devota procissão em que ia muito povo; e outra parte dele fez outra da vila até Ponta da Garça. Todo aquele dia ouviram no mar os mesmos estrondos. Ao seguinte, que era festa de Sant‘Ana, viram o galeão S. Martinho, onde ia o marquês, rodeando e como ajuntando suas naus, como faz o bom pastor no lugar onde se teme de lobos, e sentiram travar a escaramuça da batalha às onze horas, como atrás tenho contado. E o tirar das bombardas e mosquetaria era tal e tão contínuo, que aos que estavam em terra parecia que todas as naus e ambas as armadas se acabavam, e os que dali escapassem não prestariam para nada; pelo que toda a cleresia e gente de Vila Franca andava em procissão, e a justiça e vereadores em cuidado de mandar refresco a D. António , porque havia na vila alguns franceses que ficaram em guarda de Aires Jácome Correia, que com D. António viera e ficou ali enfermo, para se curar no mosteiro de S. Francisco, não por vontade do guardião, frei João de Faro. Ficaram também alguns franceses, como digo, na terra, por causa de um senhor francês que ficou doente em casa do Correia, genro de Francisco Lopes, de que logo direi. O estrondo e tom das bombardas e basta mosquetaria não cessava, dizendo uns que os franceses venciam, outros que os espanhóis eram vencedores, afirmando cada um o que mais desejava. Durou este estrondo das onze horas do dia até às cinco da tarde, ao qual tempo, clareando o ar e vendo-se o mar, foram os de terra descobrindo ambas as armadas, que, com o espesso fumo das bombardas e tiros, dantes se não viam. E divisaram três ou quatro naus ir destroçadas de mastos, enxárcias e obras mortas. E entenderam alguns que a armada francesa era desbaratada e que dos espanhóis era a vitória, como na verdade assim passava.
Depois do marquês ter alcançado a vitória que tenho dito, tão gloriosa, andou três dias bordeando com vento contrairo para arribar a terra, levando por popa do galeão S. Martinho, metido em um ceirão, o corpo morto do conde de Vimioso, com tenção de lhe ir dar em terra honrosa sepultura e estar presente a seu enterramento, por ser seu parente. Mas, por não poder chegar tão prestes e cheirar mal o corpo, lhe foi forçado deitá-lo no mar, onde nas águas salgadas dele ficou sepultado.
Divisaram os da terra o galeão S. Martinho vir para ela com sua bandeira no masto maior, como sempre trazia, do que inferiram ser nossa a vitória; e assim o conheceu o Capitão Alexandre, do lugar onde estava apartado e escondido do povo. Logo ao outro dia pela manhã, que era sexta-feira, vinte e sete de Julho, viam os da terra que umas naus se apartavam das outras, tristes com os mastos do meio quebrados e desfeitas de castelos e duas delas indo na volta da cidade e derrota da Terceira; e a noite que sobreveio lhas encobriu de todo no mar, mas ficou descoberta a tristeza dos frades e franceses que na terra andavam, que seriam até dezoito os que apareciam, afora quase outros tantos que se não viam, os quais franceses se acolheram logo em um patacho dos que tinham tomados, fugindo nele ao longo da costa.
Por mandado do padre frei José, estava em uma caravela, posto em guarda em poder de franceses o padre Maiorga, quando acabou de pregar o dia de Santiago, e seu companheiro; os quais franceses, vendo que os outros iam fugindo, ficaram temorizados, e arreceando o padre Maiorga que quisessem também fugir, lhes disse: — Amigos, não temais, que eu vos prometo se vos dará a vida, se fazeis o que vos eu disser; levai-nos ao galeão capitaina e eu vos empenho a cabeça que não recebais nenhum dano. Segurados os franceses e contentes do partido, se puseram logo em via, entregando suas espadas aos padres que lhas pediram, por irem mais seguros; e assim se foram apresentar ao marquês, que os recebeu amorosamente, por haverem passado trabalhos em poder de frei José, já dito, e outorgou a vida aos franceses.
Andava nossa armada toda junta, seguindo o galeão S. Martinho, e, como todos entenderam claramente serem os franceses rotos e vencidos, apareceu o Capitão Alexandre que de receio e temor dos moradores de Vila Franca andava escondido nos matos, e veio mui seguro à praça, com Manuel Favela, cidadão da dita vila, que também de novo apareceu. E disse o dito Capitão Alexandre a Manuel de Castro e a outros honrados da governança que ele se queria ir ver com o marquês, e pedir-lhe de mercê que não mandasse Sua Excelência saquear aquela vila, e que se tardava já em ir lá; e confiava em Deus alcançar do dito marquês mercê tão importante. Logo se embarcou em um barco, ele e Francisco de Arruda da Costa e João de Melo, seu genro, Manuel Favela, Batolomeu Nogueira e Manuel de Castro. Todos foram bem recebidos do marquês, e muito mais o Capitão Alexandre, que de muito tempo na guerra de serviço de Sua Majestade o tinha conhecido, ao qual concedeu perdão para a vila e para Aires Jácome, que não se pôde embarcar. Prometeu de o levar vivo a Sua Majestade, a quem pediria por ele mercês. Assim se tornaram mui contentes e alegres do bom gasalhado e despacho do marquês, a aparelhar cousas de refresco que lhe mandar e pôr em obra de haver às mãos o padre frei José e outro francisco, que em terra ficaram, da banda do norte, com Aires Jácome, para se acolherem em um barco em que se foram, tornando a desembarcar o dito Aires Jácome, por estar muito enfermo. Ficaram também em terra um francês, fidalgo, doente, e seus criados e guarda, ao qual logo o dito Capitão Alexandre, por ordem do marquês, foi prender a sua pousada. Mostrava este francês ser homem de muito preço, de gentil corpo e rosto, mancebo de trinta anos, bem proporcionado, de boa estatura e bem tratado, grande fidalgo, senhor de muitas vilas e lugares em França, segundo diziam, e trazia nesta armada sete naus suas, com as quais vinha ajudar a D. António . Levantando-se este francês da cama, onde estava enfermo e acabando-se de vestir, caminhou com ele e com os mais para a cadeia que perto estava; e, antes de partir, tremia e dizia, com as mãos alevantadas, ao Capitão Alexandre: — reserva-me la vita. O Capitão lhe respondia em italiano que esforçasse sua senhoria, que em tais transes havia de ter bom ânimo. Chegando à cadeia, lhe tornou a dizer o francês: — reserva-me la vita, onde o Capitão Alexandre lhe tirou uma bolsa de seda, em que estavam até sessenta peças de ouro, de sua moeda, e do pescoço uma rica cadeia e um esgravatador e algumas peças, tudo de ouro, de que se fez inventário. Rogando o francês e dizendo então mais afincadamente: — reserva-me la vita, o Capitão Alexandre lhe prometeu que faria tanto com o marquês que lha concedesse, quanto por um irmão seu; e assim foi que, por este francês se não achar na batalha do mar, e por lho pedir o Capitão Alexandre, antes que nenhum fosse justiçado, lho outorgou, mas que estivesse em lugar onde visse degolar os outros, como se fez e adiante direi. Este dia, que eram vinte e sete de Julho, se esperou que aos vinte e oito viessem a terra os que se haviam de degolar e justiçar, e não pôde ser, por andar o mar picado e por se primeiro pôr remédio nos feridos, que eram muitos; e vinham as barcas das naus carregadas deles, tão mal tratados que era mágoa vê-los, porque havia muitos que traziam braços e pernas menos, que as bombardas lhe tinham levado cerces; e outros passados com pelouros por ambas as pernas e por braços, costas e corpo; outros pernas e braços quebrados que lhe acabavam de cortar, dando-lhe cautérios de fogo para sararem, e cheiravam tão mal que não havia quem os aguardasse. Vieram com eles muitos serugiões , com o serugião-mor da armada, chamado Pero Alonso, natural de Vilhalpando de Campos, que também vinha ferido na cabeça, o qual curava a todos com óleo que chamam de aparício; e os que já não tinham remédio morriam. Vinham outros com os rostos e outras partes queimadas; a um português, que vinha com o rosto, pescoço e mãos queimadas, curou uma mulher de um João Vicente, tecelão, cum urina fresca e azeite. Vieram com estes feridos, também, quatro ou cinco religiosos enfermeiros, que tinham cargo de dar o necessário para tantos enfermos e feridos, que não cabendo no hospital e Casa da Misericórdia, estavam repartidos por outras casas da vila em que havia muitos capitães e valorosos soldados. Um dos quais, mui assinalado, era Fernão de Medinilha, que tinha um olho passado de um pelouro de arcabuz. Seriam estes espanhóis feridos, que saíram ali em terra, até trezentos, de que morreram a metade, e os que estavam para isso se tornaram embarcar, quando se embarcou o marquês para a cidade da Ponta Delgada, onde também desembarcaram até quinhentos espanhóis feridos, queimados e enfermos, depois que na dita Vila Franca mandou fazer justiça dos franceses.
Cativos e presos na batalha os franceses que tenho dito, mandou o marquês de Santa Cruz ajuntar todos os do conselho, onde se concluiu na consulta que fossem castigados, pois vinham perturbar a paz que havia entre França e Espanha , e deu o marquês cargo a D. Francisco de Bovadilha para, com quatro companhias de soldados, assistir à execução desta justiça.
Três dias antes que os franceses presos viessem para ser justiçados, vieram os Hespanhóis feridos que disse; e depois, o primeiro dia de Agosto, pela manhã , festa de S. Pedro ad Vincula, desembarcaram os ditos franceses presos e logo foi lançado bando que se ajuntassem todos os soldados dos terços que tinham desembarcado com os ditos presos, e outros que saíram três dias antes com D. Lopo de Figueiroa, mestre de campo, com muitos capitães, a fim de se preparar o necessário, assim de refrescos e mantimentos, como para segurar a terra, que não houvesse saco nela, ainda que estava já mais que saqueada dos franceses. Preparado e feito um cadafalso no meio da praça, como o marquês tinha mandado, estando todos os terços dos soldados espanhóis juntos, luzidos e bem armados ao redor da praça da dita vila, com sua arcabuzaria e mosquetaria e seus capitães, veio o auditor, com meirinhos, escrivães e porteiros, junto do cadafalso, à banda de cima, perto do chafariz que na dita praça está, cercado de pessoas graves que em sua companhia ali vieram com ele, como a lugar de tribunal e cadeira onde havia de pronunciar sentença. Estando em pé, se tocaram os tambores por todas as quadras, e logo vieram os franceses mais fidalgos em duas fieiras, com as mãos atadas diante, quase todos com as cabeças descobertas, e uns religiosos, diante, com um crucifixo da Santa Misericórdia na mão de um deles, e outros frades, com um clérigo francês que em sua língua lhes dizia e interpretava o que os frades lhes pregavam em latim.
Vinham, como digo, nesta procissão todos os franceses mais fidalgos, senhores de vilas e lugares, que eram vinte e oito, todos mancebos de trinta anos para baixo, um só dos quais de boa disposição e grave de autoridade, parecia perto de quarenta anos. E, como chegaram ao cadafalso, antes de nenhum subir a ser degolado, apartando-se os soldados da guarda um pouco atrás e os franceses diante do crucifixo, de geolhos e as mãos alevantadas, mandou o auditor ao escrivão que lesse a sentença do marquês e dele, por Sua Majestade, e que com voz do porteiro fosse pronunciada, o qual logo se pôs em ordem de a ler e o porteiro em alta voz a apregoar desta maneira.
Saibam todos como esta justiça manda fazer o senhor Marquês de Santa Cruz por Sua Majestade, e seu auditor que presente está, a estes franceses, por cossairos e perturbadores da paz e confederação que entre os Reinos de Hespanha e de França estão perpetuadas, com pacto e conjuração assinada entre o Rei de França e por Sua Majestade, o qual sabendo a grande armada que em França o ano presente se fazia, mandou recados e cartas a el-Rei de França, dizendo como consentia e dissimulava fazerem-se em suas terras e Reino armadas de naus e gente, para virem contra suas terras e mar a lhe fazer danos e roubos, tendo confederação, pacto, liança e conjuração de perpétua paz e irmandade de entre eles e seus Reinos, como desde as guerras de São Quintino e seu casamento a esta parte se assentaram e conjuraram; ao qual el-Rei de França respondeu a Sua Majestade que nem ele nem por ele nenhuma cousa em seus Reinos se fazia nem faria contra Sua Majestade, nem ele de nada era sabedor, nem consentidor, pelo qual queria, pedia, dava licença, que se algumas armadas de naus e gentes de seus Reinos de França, em suas terras, conquista e mar achassem e encontrassem, com deliberação de lhes prejudicar e ofender, os pudessem destruir, prender e justiçar, como a cossairos pervertedores e perturbadores da paz e liança deles dois Reis e Reinos; dos quais e do qual resulta grande bem e proveito a estes dois Reinos serem castigados por tais. Sua Majestade, havendo recebido a semelhante resposta do Cristianíssimo Rei de França, e tendo mandado fazer uma grossa armada para mandar sobre a Terceira, que de sua obediência se quis isentar, e acolher em si franceses e piratas, que, com injusta causa e contra direito, de sua obediência se defendessem, e nela se fizesse uma colheita de cossairos, para neste seu mar e conquista roubar e saltear suas frotas e navios que por seu mar a seus tratos e cousas navegam; em a qual armada pôs Sua Majestade por geral ao senhor marquês, encomendando-lhe que viesse à Terceira, indo pela ilha de S. Miguel e mais ilhas, e onde fosse necessário tirar e destruir o que impedisse seu serviço e obediência, e, achando armadas de alguns franceses ou outras nações que contra isso viessem, lhes oferecesse batalha, e vencendo e prendendo os inimigos e amigo fizesse justiça conforme a direito dos grandes e dos pequenos, e que para tudo lhe dava poder bastante, assim como pelo Cristianíssimo senhor Rei de França, seu irmão, lhe era respondido e pedido. E, vindo Sua Excelência ao dito efeito por geral da armada de Sua Majestade, em favor desta ilha de S.
Miguel, a tirar e evitar a rebelião e desobediência da Terceira e os mais danos que podiam sobrevir, indo sua direita viagem, lhe saiu ao encontro, desta ilha de S. Miguel, uma grossa armada de franceses de mais de sessenta baixéis, naus e galeões, armados com gente, soldados e capitães de guerra, cujo geral era Filipe Strosse, em companhia e em favor de D. António, Prior do Crato, que com nome de Rei de Portugal e Majestade havia entrado nesta ilha, e a tinha saqueado e senhoreado, tomando suas bandeiras e arrastando-as, e pondo guardas nos lugares e vilas desta ilha, e perturbando a paz e sossego que para sempre está jurado, saindo contra a armada de Sua Majestade com deliberação de a destruir e roubar, pondo-o em execução e acometendo-a com grande estrondo e força de capitães e senhores de muitas vilas e lugares de França, e muitos e bem armados soldados e gente de guerra, e forte e grossa artilharia, dia do Apóstolo Santiago e dia de Sant‘Ana, no qual dia Deus Nosso Senhor teve por bem dar vitória ao senhor marquês de Santa Cruz e a toda a armada de Sua Majestade, ficando o dito D. António, Prior do Crato, com alguns baixéis. Na qual vitória foi morto Filipe Strosse, geral da dita armada de franceses, e morto o conde de Vimioso, de Portugal, e outros fidalgos, assim franceses como portugueses, e muitos soldados. E tomados vivos perto de trinta senhores franceses de vilas e lugares, cujos nomes não são expressos, que à sua custa traziam armado a seis e a sete naus e galeões, e outros cinquenta e três fidalgos menos ricos, a que todos Sua Excelência por Sua Majestade, e seu auditor presente, mandavam degolar em um cadafalso que na praça de Vila Franca desta ilha de S. Miguel, em lugar público, mandara fazer, e nele aos sobreditos oitenta e três fidalgos justiçar, e a obra de cento e cinquenta franceses, de baixa qualidade, enforcar perto do porto da dita vila, e a outros vinte e cinco no mais alto lugar do ilhéu da dita vila, e que à execução da sobredita justiça queria e mandava estar o capitão Bovadilha, com três companhias de soldados dos terços que vinham na armada de Sua Majestade, presentes com suas armas na dita praça até serem degolados todos aqueles oitenta e três franceses que presentes estavam a todo o sobredito, ouvindo a sentença e pregão que contra eles se pronunciava, para que viesse à notícia de todo o mundo . Sendo a dita sentença lida e apregoada em alta voz e pregão, e ouvida por todos os circunstantes, logo os tambores se tocaram pouco espaço, e cessando subiu primeiro no cadafalso o maior fidalgo daqueles franceses, senhor de muitas vilas e lugares , mancebo não mui grande de corpo, mas envolto em carnes, não mui branco, nem ruivo, como os mais daqueles eram, e de pouca barba. Saiu mui esforçado a morrer, havendo-se confessado ao pé do cadafalso a um clérigo francês e posto de giolhos no cadafalso diante de um crucifixo que alto, fora do cadafalso, tinha um frade, o algoz lhe atou as mãos de trás e tirou um cutelo pequeno, dos com que esfolam carneiros, o qual vendo o francês disse em alta voz: — com mi espada, com mi espada he de ser degolado a uso de mi tierra, que soi hidalgo. Dizendo isto, choveu tão grossa chuva que caía a cântaros, e ele dando gritos por sua espada, passada a chuva e tornada a gente tornou o algoz a tirar o cutelo e o francês a continuar por sua espada, que não no degolassem senão com ela, mas não tendo o algoz de ver com isso, lhe atou também os pés com as mãos por detrás, e lhe pôs um lenço diante dos olhos, e derriçando com o próprio cutelo, estando-o degolando se alevantava o dito francês nas pontas dos pés, a que tinha atadas as mãos por detrás e caiu para um lado, e logo um negro da própria vila, chamado Brito, lhe cortou a cabeça com um machado, que por se haver mostrado muito servidor de D. António , sendo tambor de uma das companhias, o mandou o auditor fazer aquele ofício de cortar com o machado as cabeças, e o algoz degolava. Acabado de degolar este, o despiu o algoz, ficando só em camisa, e tirando do meio do cadafalso, posto o corpo a um lado, com as pernas para fora do cadafalso, lhe puseram a cabeça no meio delas. Os mais dos franceses que haviam de ser degolados estavam ao pé do dito cadafalso; subindo-se um a um a degolar e vendo todos degolar a cada um. O segundo que subiu era gentil homem, mais alto e bem disposto de todos os mais, de idade de trinta anos, alvo e corado, de cabelo ruivo com duas gadelhas mui formosas, dependuradas de cima das orelhas, nas quais trazia umas vergas de ouro redondas, que davam muitas voltas, como ariéis, e querendo-lhas tirar, por mandado dos frades que aí estavam, castelhanos, para lhe dizerem missas, lhe faziam tanto sangue nas orelhas, que lhe davam pena; pelo que um dos circunstantes disse aos que as tiravam: — depois de degolado lhas tirareis. Este morreu com mostras de bom cristão, como quase todos mostraram, pois se confessavam e diziam o credo em latim e o salmo de Miserere mei Deus. Assim foram todos degolados um a um e postos com as pernas fora do cadafalso, com cada um sua cabeça entre elas, como o primeiro, postos uns sobre outros, por ser o cadafalso pequeno, no qual se mostrava um temeroso e espantoso espectáculo, em que foram degolados trinta e cinco. E porque a maior parte do dia era passada em os confessar, degolar, cortar-lhe as cabeças, despir e as outras solenidades, quis o marquês que levassem os quarenta e oito que ficavam junto da forca velha, para que ali fossem degolados depressa, como foram, sem lhe valer prometerem alguns pela vida dinheiro, vilas, castelos, e cavalos. Outros dizem que sós setenta foram degolados naquele dia, e duzentos enforcados naquele e dois dias seguintes.
O fidalgo francês, que o Capitão Alexandre prendeu por mandado do marquês, foi posto na varanda da Misericórdia com guarda, para que por seus olhos visse a execução da justiça, e esteve desde antes do pregão até os trinta e cinco serem degolados, que alguns dizem não serem mais de vinte e oito, mas segundo o que afirmam os que sepultaram e as cabeças que se contaram e viram cortadas, se entende serem os trinta e cinco que tenho dito. Como quer que seja, se tem por mais verdade que, entre os do cadafalso e os que junto à forca degolaram, foram oitenta e um, e cento e cinquenta que enforcaram em quatro forcas, três novas que fizeram junto do porto, mui grandes, e a velha, a qual como era de parede cercada, como uma casa, enforcaram nela os algozes vinte juntos, e acabado de serem afogados, lhe cortavam as cordas e enforcavam outros tantos; pelo que se dizia que eram muitos mais dos ditos cento e cinquenta. Aconteceu que trazendo um dos criados do francês que estava vendo fazer a justiça dos outros para contar em França o que via e entendia do pregão dos degolados e enforcados, e de outros reservados até a mercê de Sua Majestade, e querendo os algozes deixar o dito criado com outros que ao dia seguinte haviam de enforcar no ilhéu, escapou pelo pedir o dito francês, seu senhor e amo, para cura e serviço seu, que estava fraco e doente. O dia seguinte se viram outras duas forcas no ilhéu, mas por andar o mar alterado não foi possível fazer-se então justiça. E assim ficou até o terceiro dia do mês, que se acabou de fazer a execução dela, enforcando dezoito ou dezanove franceses mancebos, bem dispostos. Dizem ser o intento do marquês em os mandar enforcar no alto do ilhéu, para que todos que passassem ao longo dele e de terra, vendo aquela justiça, não usassem semelhantes obras e temessem outro tal castigo. Naqueles dias, com aquele terríbel espectáculo, era tanto e tal o temor nos moradores da terra, principalmente de Vila Franca, que não ousavam aparecer nem falar palavra. E até os que nem suspeita de culpa podiam ter, tinham medo e tremiam de temor, não confiando de si que não suspeitassem e receassem se lhes aconteceria outro tanto.
A todos os degolados que foram justiçados o primeiro dia no cadafalso se deu sepultura no adro da igreja de S. Miguel, à parte do sul, direito da torre dos sinos. Em uma grande sepultura que se fez, enterraram até vinte ou vinte e dois, e dentro na dita igreja, em outras três covas, sepultaram os outros; e os que foram degolados junto das forcas, ali fizeram duas grandes covas em que os enterraram. Acabado de se fazer isto e desfazer o cadafalso e de limpar o sangue dos degolados, que passaria de uma grande pipa e limpas as ruas dos fedores de cousas sujas, abonançando o mar que alterado andava, véspera de Nossa Senhora das Neves, ao dia da mesma festa, cinco de Agosto da dita era, chegou à dita vila o bispo D. Pedro de Castilho, mui cedo, pela manhã; foi bem acompanhado a visitar o marquês ao seu galeão S.
Martinho, do qual foi bem recebido, e tornou o mesmo dia comer a terra, em casa de Manuel da Mota, onde foi visitado de toda a cleresia da dita vila, mas não do vigairo António de Lira, a quem o dito mandou que não fosse visitar, pelo que dali por diante se ausentou, sem ousar aparecer em público, sem ter outra culpa mais que ir visitar a D. António . Logo se partiu o Bispo para a cidade aparelhar cousas que convinham para a ida e chegada do marquês quando lá fosse. E o mesmo dia de Nossa Senhora das Neves desembarcou o marquês muito alegre, acompanhado de grandes, estando o porto cheio de capitães e soldados; foi rodeado de todos direito à igreja matriz de S. Miguel. À entrada do adro, o estava esperando a cleresia com cruz e pálio, e, em chegando e vendo a cruz, se humilhou a ela, e recebido com pálio foi levado dentro à igreja com Te Deum Laudamus, onde deu graças a Deus pela vitória que lhe dera. E partiu logo assim em procissão a Nossa Senhora do Rosairo do convento de S.
Francisco, onde entrou com toda a cleresia, até à capela-mor, em que ouviu missa e pregação de um frade castelhano, bom letrado, ainda que mancebo, que no seu galeão veio. Esteve sentado junto dele D. Felix de Aragão, que dizem ser parente de Sua Majestade, muito gentil homem, ainda que então estava mal disposto de um braço, passado de um pelouro. E com ele o marquês de Vila Franca de Balear, D. Pedro de Toledo, filho de D. Garcia de Toledo, viso-Rei que foi de Nápoles e Príncipe do mar, depois da morte do senhor D. João d’Áustria; e o marquês de Favara, e outros grandes; e D. Lopo de Figueiroa, com muitos capitães; de maneira que, das grades a dentro, a capela toda era cheia destes senhores, onde todos com alegres sembrantes se falavam e conversavam. Acabada a missa, estiveram no mosteiro pouco espaço, em que viu o marquês a casa e sítio dela, e depois se foi a comer com os marqueses a casa de Jerónimo de Araújo, onde o marquês de Vila Franca pousava e à tarde tornou Sua Exª. a embarcar, e não tornou mais à dita vila, porque chegou da Terceira um patacho que mandou Manuel da Silva, como governador dela, com uma carta em que pedia ao marquês os franceses prisioneiros por seu justo resgate, ao que o marquês não quis responder, por suspeitar que vinha este recado mais por servir de espia, que para dar resgate; antes mandou pôr a bom recado toda a gente que o patacho trazia. E, porque a sua armada estivesse mais segura, se partiu o dia seguinte de Vila Franca para Ponta Delgada, onde o receberam com salva da terra de muita e espantosa artilharia, a que a armada do mar respondeu com a sua; e desembarcando aquele dia de S. Mateus em que chegou, se recebeu com grande alegria e contentamento de todo o povo, de que foi acompanhado até a igreja matriz do Mártir S. Sebastião, e dali até à fortaleza, mostrando-se mui benigno e afábel a todos, principalmente ao Bispo e ao Capitão Alexandre, e a Francisco de Arruda da Costa, e aos mais que o foram dantes visitar ao galeão junto de Vila Franca. Donde foram levados os presos em um barco à cidade, onde degolaram a Gaspar Gonçalves, fidalgo, vereador que então era na Vila Franca, e outros foram condenados a outras penas.
As pessoas principais que vinham na armada francesa e as que nela prenderam e morreram, e as que fugiram, são as seguintes: Filipe Strosse, geral da armada, prendeu-se, ferido de uma arcabuzada de que logo morreu.
O conde de Vimioso, prendeu-se, ferido de arcabuzadas e uma estocada, de que morreu na capitaina, o outro dia depois da batalha.
O conde de Brissac, logo-tenente de Filipe Strosse, salvou-se fugindo, vendo a rota de sua armada; outros dizem que não entrou na batalha, com suas oito naus.
Monsior de Beaumont, mestre de campo geral do exército, morreu na batalha.
Os oito cabos de outros tantos regimentos , de uns dizem que são mortos e outros feridos.
Os senhores de vilas e castelos que se tomaram na armada vivos e presos: Monsior de Bocamaior, senhor de Ruzella Monsior João de Latos, senhor de Heria Guilhelmo de São Cler, senhor de São Cler Luís de Clem, senhor de Brons Pierre de Vui, senhor de Quenes Gilbert de Vuel, senhor de Vuel Monsior d’Auda, senhor d’Auda Monsior Franconis, senhor de Montilla Monsior Jacques Bai, filho maior do senhor de Biopales Monsior Robeja de Lella, filho do senhor de Veosoli Monsior Gilelmo Mason, senhor de Falha Monsior Rigart de Piloat, senhor de Matari Monsior Belerá de Arigart, senhor de Estrujas Pierre de Bram Monsior de Gal, senhor de Gal Monsior de Gifardi, senhor de Gifardel Monsior de Onct, filho maior do senhor de Gracol Oduart de Langert, senhor de Apiel Fabio Ganzet, filho do senhor de Gancete Monsior Pierre Jailato, senhor de Sans Monsior Filipe Meteti, senhor de Sabruza Monsior João de Bocamaia, senhor d’Arozila Claudio de Pamolim, senhor de Popolim Jacobo Lazarcam, senhor de Lazarcam Monsior de Mondoc, ou Mondoe , senhor de Mondoc, ou Mondoe .
Os fidalgos prisioneiros, não senhores de vilas nem castelos: Pierre de Noi, irmão do senhor de Grecol François Fusto, irmão do senhor de Hetsaus Claudio de Ardalha Antonio Coblal Acencerei Pierre Imbim O capitão Jaques Martim de Tubelhi Jacobo de Lum François de Nautoneli François Pietre Mateo Lupi Benit Jorga René Boonon Nicolau Vitar Tomaz de Laveros João de Brusmão Robert de Davasiert Guy de Muhafu Jorge de Boas Pier de Maribai Claudio de Musu Roni de S. Martim Antonio Brodel Miguel de Brufa Guilhermo Menart Limesce Pierre Leprobol Alessie de Rivera François Pensso Monsior Antonio de Brusio, capitão de infantaria Bietri Jorquerti, capitão de infantaria Claudio de Ploanem, tente de monsior de Boamont Lapueli Menseroy Boudios Camer Matheo Pui Pierre de Mariban Jauberdio O proto-medico monsior Abraham François Buculi Carle de Sancta Vetu Saubat de Lisceos Tomaz de Lone Pierre de Clamadier Luís de Neust Claude Nainoct Doribat, capitão de infantaria Eliat de Sayam Ano de Trevilho.
Além destes, houve prisioneiros, entre marinheiros e soldados, trezentos e treze.
Os mortos e feridos que houve na armada de Hespanha, o dia da batalha: No galeão S. Martinho : Feridos: setenta Mortos: quinze No galeão S. Mateus: Feridos: setenta e quatro Mortos: quarenta, afora alguns que ficaram no mesmo chamuscados de fogo artificial, e entre eles o vedor geral no rosto; Na nau Maria de Guipuscoa Feridos: cinquenta e dois Mortos: quarenta e cinco Na nau S. Vicente Feridos: vinte e oito Mortos: vinte e sete Na nau Santa Maria de Yciar Feridos: dezassete Mortos: cinco Na nau Boaventura Feridos: cinco Mortos: seis Na nau Joana Feridos: vinte e sete Mortos: treze Na nau Catarina Feridos: sete Mortos: treze Na nau de Oquendo Feridos: vinte e quatro Mortos: dezassete Na nau Santo António de Boa Viagem Feridos: dezasseis Mortos: quinze Na nau Misericórdia Feridos: treze Mortos: seis Na nau Nossa Senhora da Penha de França Feridos: treze Mortos: dois Na nau S. Miguel Feridos: sete Mortos: nenhum Nas outras mais naus da armada Feridos: cento e noventa Mortos: vinte De maneira que houve, por esta conta, na armada de Sua Majestade, quinhentos e cinquenta e três feridos nesta batalha, e duzentos e vinte e quatro mortos, que são todos setecentos e setenta e sete.
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